“PALÁCIOS DOS LOUCOS”
A abertura do Hospício Pedro II, no século 19, abriu o caminho para outras instituições para alienados em diversas partes do país, como Olinda, Belém, Porto Alegre e Salvador. Em São Paulo, o Hospital Provisório de Alienados foi fundado em 1852, no mesmo ano do Pedro
II. No início, o hospital de alienados paulistano funcionava em um prédio no Centro da capital paulista. Em 1896, o novo administrador do espaço, o médico Francisco Franco da Rocha (1864-1933), contemporâneo de Juliano Moreira e também um dos precursores da psiquiatria no Brasil, capitaneou a construção de um novo complexo na cidade que hoje leva o nome de Franco de Rocha, a cerca de 50 quilômetros da capital.
Inspirado nas colônias agrícolas de reabilitação francesas, com a proposta de oferecer várias atividades agrícolas e de trabalho aos internados, a Colônia Agrícola de Alienados do Juquery foi inaugurada em 1898. Em menos de cinco anos, já atendia mais de 700 pacientes em uma grande área livre que abrigava pavilhões projetados pelo arquiteto Ramos de Azevedo. O hospital encerrou as atividades em 2021. Ao longo do século 20, muitos manicômios, como o próprio Juquery, entraram em decadência e tiveram parte da sua história ligada a maus-tratos aos pacientes, por conta de tratamentos que incluíam métodos de tortura, como choques elétricos, práticas higienistas por parte do poder público e internações compulsórias seguidas de abandono por parte dos familiares.
Uma das histórias mais emblemáticas recai sobre o Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena, em Minas Gerais. Fundado em 1903, o Colônia, como era conhecido, recebia diariamente centenas de pessoas para serem internadas. Grande parte delas, porém, não possuía um diagnóstico de doença mental. Tratava-se apenas de pessoas que incomodavam uma parcela da sociedade com mais poder, dinheiro e envoltas no manto da hipocrisia. Eram levados para o complexo hospitalar mineiro homossexuais, mães solteiras, mendigos, meninas consideradas problemáticas e todo tipo de pessoa indesejada. A história do manicômio de Barbacena é contada pela jornalista Daniela Arbex em Holocausto Brasileiro (Editora Intrínseca). No livro, uma grande reportagem sobre um dos episódios mais tristes e sombrios relacionados à psiquiatria brasileira revela que pessoas foram maltratadas e mortas com o consentimento do Estado, médicos, funcionários e a sociedade. Apesar das denúncias feitas a partir da década de 1960, segundo a autora, mais de 60 mil internos morreram em Barbacena por abandono ou maus-tratos.