EQUILÍBRIO DO INÍCIO AO FIM
Após duas pernas, a 12ª edição da Volvo Ocean Race é a mais equilibrada de todas, com um triplo empate. Na primeira perna deu Abu Dhabi em primeiro e Team Brunel em terceiro. E na segunda etapa a situação inverteu
Durante os quase 12 mil quilômetros de percurso entre Espanha e África do Sul, a primeira etapa foi marcada pelo equilíbrio e alternância de liderança (todos os times chegaram a estar na frente)
A 12ª edição da Volvo Ocean Race é a mais equilibrada de todas. Pela primeira vez, os barcos são rigorosamente iguais, ou seja, o vencedor será a tripulação que tomar as melhores decisões ao longo dos nove meses de regata. Serão, ao todo, 71.745 quilômetros por todos os continentes. Até o momento, duas etapas foram concluídas e três times estão na liderança. A primeira perna teve um percurso de 6.487 milhas náuticas (quase 12 mil quilômetros) entre Alicante, na Espanha, e a Cidade do Cabo, na África do Sul. Nesta disputa inaugural da edição 2014/15, a vitória ficou com o Abu Dhabi Ocean Racing, que terminou a prova em 25 dias, 3 horas, 10 minutos e 44 segundos. Nos primeiros dias os barcos alternavam posições na frente. A partir do oitavo dia de disputas, houve a última troca de liderança. O barco chinês Dongfeng Race Team era o ponteiro, mas ficou quase uma hora parado após bater em um objeto não identificado e quebrar o leme. Com esse contratempo, o Abu Dhabi Ocean Racing se tornou o líder e não perdeu mais a posição. O marco mais significativo desta primeira etapa foi cruzar a linha do Equador. O barco árabe foi o primeiro a atravessar o traço imaginário entre os hemisférios norte e sul na noite do dia 23 de novembro (13 dias após largarem). Depois de escapar do marasmo dos Doldrums, o time tinha de cumprir uma obrigação: passar por Fernando de Noronha antes de voltar a proa para a Cidade do Cabo. O waypoint da ilha brasileira é obrigatório para todas as equipes. Tradicionalmente, os velejadores que cruzam a Linha fazem uma cerimônia para marcar a passagem pelos hemisférios. Os tripulantes mais jovens cumpriram um ritual criado pelos companheiros mais experientes, sempre vestidos de Netuno, o deus do mar. Matt Knighton do Abu Dhabi, por exemplo, ganhou um corte moicano no cabelo. “Eu era o único que nunca tinha cruzado o Equador. Foi uma experiência interessante. Tenho certeza de que meu novo corte de cabelo aumentará a nossa performance aerodinâmica”, brincou.
O barco 100% feminino do Team SCA ultrapassou os espanhóis do MAPFRE nos quilômetros finais e cruzou a linha de chegada com um pouco mais de uma hora de vantagem, na sexta colocação. As atletas dedicaram o resultado ao saudoso Magnus Olsson. “Nós não paramos de lutar em nenhum momento. Foi um ensinamento que Magnus Olsson nos passou”, disse a comandante Sam Davies, em referência ao velejador sueco, uma da lendas da Volvo Ocean Race, que faleceu em 2013. Pelos lados da Espanha, uma mistura de frustração e sentimento de dever cumprido, pois foram um dos últimos a entrar na regata. O MAPFRE esteve sempre no pelotão da frente, chegou a liderar um trecho no Atlântico, mas não conseguiu achar o vento na aproximação a Fernando de Noronha e viu os barcos abrindo vantagem na frente. O time sofreu também com problemas na bateira, motor e nas velas. Mesmo assim, os espanhóis só perderam espaço na passagem por Fernando de Noronha.
Pela primeira vez na competição, os barcos são rigorosamente iguais para todas as equipes, criando uma disputa justa
Depois de chegar na Cidade do Cabo, a equipe trocou seu navegador. O novo contratado foi o francês Jean-Luc Nélias, que substitui Nicolas Lunven. O velejador foi campeão da prova na temporada 2011-12 e tem experiência para ajudar o time a voltar para a briga.
SEGUNDA PERNA
Novamente, muito equilíbrio e uma chegada emocionante. A perna de mais de 9 mil quilômetros entre a África do Sul e os Emirados Árabes Unidos terminou no dia 13 de dezembro com a vitória apertada dos holandeses do Team Brunel, que cruzaram a linha de chegada 16 minutos à frente do segundo colocado, o chinês Dongfeng. Desde a saída da Cidade do Cabo, com ventos de quase 100 km/h, cruzando zonas antipirataria e ilhotas do Índico, nenhum barco se destacou ou abriu vantagem na ponta. A flotilha de sete barcos passou por uma área pouco navegada quando o assunto é regata oceânica. O Team Vestas Wind não completou o percurso, pois no final de novembro, o barco da Dinamarca encalhou em um banco de areia no Oceano Índico e os atletas abandonaram a embarcação. Para vencer, o Team Brunel teve que dar a última cartada já na aproximação ao porto. Atrás nas últimas 24 horas, os holandeses encontraram vento ‘do nada’ na milha derradeira e ganharam a etapa. A primeira posição estava quase certa nas mãos do Dongfeng. A regata durou 23 dias, 16 horas e 25 minutos. “Estamos muito felizes pela vitória. Poderíamos ter terminado em último, de tão difícil que foi”, disse Bouwe Bekking, comandante do Team Brunel. Festa holandesa e um pouco de decepção chinesa. “Eles foram muito mais rápido do que a gente nos últimos dias. Não sabemos como, mas foram. Estamos um pouco desapontados”, falou Charles Caudrelier, comandante do Dongfeng. E o final da etapa, além de equilibrado, foi congestionado na passagem pelo estreito de Ormuz - que tem 400 metros de largura e liga o Golfo de Omã ao Golfo Pérsico. Nos últimos dois dias, os barcos tiveram companhia de muitas embarcações, principalmente que transportam petróleo, já que 50% das produtoras estão naquela região.