Afghan Hound
Utilizado em esportes, terapia e na guarda, ele também é um companheiro apaixonante dentro de casa
Muito mais que um belo cão de pista!
Uma das raças caninas mais antigas do mundo, o Afghan Hound foi originalmente desenvolvido para caçar nas estepes e montanhas do Afeganistão, perseguindo a presa e mantendo-a encurralada até que os caçadores a capturassem. Hoje em dia, no entanto, ele executa várias outras funções. Em nosso país se destaca como companheiro e até mesmo como guardião. E no exterior é usado, inclusive, em esportes caninos e terapia com animais.
Esportes
Hoje, nos Estados Unidos, cerca de dez Afghans competem no agility. Um deles é o macho Xzotika’s Rik-O-Shay, de 8 anos, que pertence a Mikki Razor, presidente do comitê do esporte do Afghan Hound Club of America. Shay possui os títulos de Agility Excellent e Open Agility Jumpers. “Ele agora está prestes a obter as premiações Master Standard e Excellent Jumper”, relata Mikki. Agility e jumping são os dois tipos de percurso que compõem o esporte, sendo que no último a velocidade é maior por não ter obstáculos com zonas de contato.
Em 2017 e em 2018 Shay recebeu convite para participar do AKC Agility Invitational, o mais importante evento do gênero promovido pelo American Kennel Club (AKC), que convoca os cinco melhores de cada raça de suas competições do esporte no ano. Nas duas vezes, Shay era o 3º Afghan mais pontuado. “Eu fiquei emocionada, pois era um dos meus objetivos para ele”, conta a norte-americana Mikki.
Shay também obteve o título de Companion Dog em provas de obediência. “O objetivo agora é atingir a pontuação necessária para concorrer nas classes open e utility”, relata Mikki. Sabe-se de apenas quatro Afghans que competiram na utility, o que demonstra a dificuldade da empreitada.
No esporte chamado lure coursing o cão persegue saco plástico atrelado a um fio, puxado pelo condutor ao longo de um percurso. “Um exemplar da raça de minha criação, Riddle of East Tango, é o atual líder do ranking de lure coursing por aqui”, relata Nadya Khmelevskaya, do canil Riddle of East, da Rússia. Naquele país, Afghans também concorrem no freestyle, em que cão e dono atuam em parceria executando posições e coreografias musicais por meio de passos sincronizados. “Um Afghan Hound nascido em meu canil, Riddle of East Tequila for Sanflaus, venceu as nossas mais recentes competições de freestyle e de agility, que contaram com cães de várias raças”, relata Nadya.
Outro esporte com presença do Afghan Hound é o rally, no qual o dono conduz o cão por uma pista, orientados sobre o que fazer por sinalizações cuja quantidade pode variar conforme a categoria. Shay obteve o certificado de aprovação na Rally Novice (RN), Rally Advance (RA) e Rally Excellent (RE). Na RN o percurso é feito com o cão na guia e há de 10 a 15 sinalizações. Já na RA (12 a 17 sinais) e na RE (15 a 20) o exemplar realiza a prova sem a guia. Para conseguir o título é preciso obter três desempenhos qualificativos de pelo menos 70 pontos, sendo que a maior pontuação possível é 100, concedida aos exemplares que completam o circuito de maneira perfeita. “Shay nunca ganhou os 100 pontos, mas por diversas vezes conquistou pontuação de 99, 98 e 97”, afirma Mikki. “E ele foi o melhor da raça no ranking RE de 2016 e também no de 2017, quando igualmente obteve o RAE, Rally Advance Excellent, que é concedido quando o exemplar já possui o RE e acumula dez pontuações qualificativas nas categorias Advance e Excellent”, comenta a criadora norte-americana Mikki Razor.
Shay também possui o título de Trick Dog Novice, que se refere à exibição de truques caninos de simples execução. Trata-se de passar pelas pernas do condutor; receber comando para entrar em caixa de transporte a 3 m de distância e ficar lá até ser solto; caminhar – ir e voltar – sobre uma prancha de 30 cm de largura e 15 cm de comprimento, a 15 cm acima do solo; passar por um túnel de 4,5 m em ambas as direções; pegar e trazer de volta para o dono um brinquedo jogado a pelo menos 3 m de distância. “Existem muitos outros truques para iniciantes, mas foram esses os que o fizeram ganhar seu título”, explica Mikki.
Os exemplares da raça se destacam nesses esportes por serem atléticos. “Eles são intrépidos, hábeis, rápidos, principalmente em curtas distâncias, e bastante saltadores”, acrescenta Nadya. Mas Mikki pondera: “O treinamento para que Afghans atendam um comando corporal ou de voz requer muita paciência e bom humor: para o agility, por exemplo, depois de eles terem aprendido como superar todos os diferentes obstáculos, eu treino a
corrida em sequências muito curtas, com seis a oito obstáculos, para que não fiquem entediados, e intercalo, por duas ou três vezes, o uso apenas da voz ou do movimento corporal”.
Terapia alfabetizadora
Shay também obteve certificado de cão terapeuta pela Alliance of Therapy Dogs. “Ele não é como a maioria dos Afghans, pois não demonstra desconfiança tampouco indiferença com relação a estranhos: ama pessoas e adora trabalhar para seus fãs, que sempre elogiam sua pelagem macia ao acariciá-lo”, conta Mikki. Shay faz parte de um programa chamado Barks and Books (Latidos e Livros), que ajuda crianças a vencer dificuldades de leitura e de comunicação. Tal trabalho voluntário oferece à garotada uma audiência especial por meio de times formados por um cão e seu respectivo dono. Os dois ouvem com interesse o que a criança lê e diz e não riem dos erros cometidos. “Em uma biblioteca, estendo um grande cobertor no chão e então eu e Shay nos deitamos e as crianças, uma de cada vez, se aproximam para ler”, descreve Mikki. “Elas adoram e ficam motivadas a praticar, vencendo assim suas dificuldades”, explica a norte-americana.
Mikki relata que, certa vez, um garoto bastante tímido veio e sentou-se para iniciar a leitura – Shay, muito lentamente, pôs a cabeça em seu colo e o menino colocou a mão no Afghan. “Shay é realmente bem calmo e esta foi uma grande oportunidade para a criança, pois ela sempre se sentava um tanto longe dos cães enquanto lia, já que tinha um pouco de medo deles”, diz Mikki.
Guardião
A maioria das pessoas não vê o Afghan como um cão que possa ser usado para guarda. Mas ele protege o perímetro onde o dono vive com sua família. “Se alguém desconhecido se aproxima da propriedade sem estar acompanhado por alguém da casa, os meus Afghans ficam bem nervosos e já se colocam em posição defensiva, mostrando os dentes, latindo e querendo cercar a pessoa que, se insistir em entrar, será atacada”, informa Marcelo Ferraro, do canil Vento Afegão, de São Lourenço da Serra, SP. Ele acrescenta: “Os exemplares da raça têm como aptidão a perspicácia de saber quando alguém está se aproximando: muitas vezes eles estão olhando fixamente para um lugar e começam a latir por perceberem de longe tal situação”.
O gerente comercial Douglas Lacerda da Cruz, de Itaúna, MG, proprietário de uma fêmea da raça, Sarabi, já percebeu o lado protetor de sua Afghan. “Certo dia ela estava deitada no sofá de casa comigo e meu primo chegou à porta sem se anunciar. Ela foi instantaneamente para cima dele com o intuito de atacá-lo. Mas ao mesmo tempo dei o comando, treinado desde filhote, ‘não pode’, em tom firme e alto, e Sarabi parou na hora”, diz Douglas.
Pistas
De pelagem exuberante, porte altivo e movimentação muito elegante, o Afghan possui essas e outras qualidades para se sobressair em exposições caninas. “É um cão grande, com pelo longo e possibilidade de exibir muitas cores”, exemplifica Masako Ito, do canil Grazioso, do Japão. De acordo com o padrão adotado pela Confederação Brasileira de Cinofilia (CBKC), todas as cores são aceitas e o ideal é que os machos da raça tenham de 68 a 74 cm e as fêmeas, de 63 a 69 cm. “O Afghan é muito usado nas exposições em meu país: pequenos eventos costumam contar com 5 a 6 exemplares da raça. Já grandes exposições, com 10 a 15. E, em especializadas de grupo 10 – o dos galgos, como o Afghan –, de 30 a 40”, relata Masako.
Companhia
Na internet o Afghan Hound é descrito como bastante independente e com temperamento que lembra o de um gato, por ficar na dele em vez de procurar por seus donos e não ser muito expressivo em suas demonstrações de afeto. “Mas um cão não precisa ser totalmente dependente do ser humano para ser um companheiro carinhoso”, afirma Marcelo. Aliás, para ele, nem todo Afghan tem aquele comportamento mais recluso de não se misturar, conforme muitos falam. “Os meus 12 exemplares interagem com a minha família, me recebem com latidos eufóricos e seguem o dono pela casa”, comenta Marcelo. Vários de seus clientes atestam o mesmo.
Um deles é a assessora de imprensa Fabiana Barreto Nunes, de São Paulo, que tem um Afghan Hound de 1 ano e meio, o Oliver. “Ele me segue o tempo todo, onde estou vai atrás, me recepciona na porta de casa e exige companhia: quando não a tem, fica bem revoltado e ‘apronta’ para chamar a atenção – arranha as portas e já chegou a fazer xixi nas camas e rasgar tapetes. Descobri que o melhor caminho é conversar com ele de maneira carinhosa, pois brigar não resolve”, conta Fabiana. Oliver convive com um gato sem raça definida, o Tom, e gosta muito de brincar com ele e com os dois filhos da dona, Luiz Estevão e Tadeu, especialmente de correr.
“Vivo em um sítio e mantenho meus Afghans junto de aves soltas – como pato, galinha – e eles se dão muito bem”, relata Marcelo, que ressalta também: os exemplares da raça se comunicam bastante com o olhar. “É comum se sentarem ao lado do proprietário e encará-lo prestando atenção, tanto em relação à maneira pelo qual ele está olhando como para onde”, diz Marcelo.
Diferentemente do que se divulga na internet, a raça Afghan Hound é muito sagaz e inteligente. O servidor público Thomas Cortez, de Brasília, é dono da Afghan Hound Sarabi, que ainda não completou 1 ano e desde os 4 meses tem aulas de treinamento canino dadas por um adestrador. “Já no primeiro dia Sarabi aprendeu a dar as duas patas, sentar com comando gestual sem voz e ficar na pose de esfinge”, informa Thomas.