Cane Corso Italiano: manual de cuidados para esse cão
Veja cuidados com a raça que vão desde a alimentação até banhos e outras dicas de manejo que o Cane Corso Italiano exige. Mesmo sendo um cão rústico, ele precisa de atenção e cuidados como qualquer outro animal
O Cane Corso está entre as raças de grande porte que mais crescem no Brasil. Em 2017, foi a 21ª raça com mais registros na Confederação Brasileira de Cinofilia (CBKC) – com 1.351 exemplares – e em apenas um ano, portanto em 2018, subiu duas posições, com 1.555 cães da raça registrados. Seu porte imponente e desempenho eficiente na guarda fazem desse molosso de origem italiana um ótimo cão para famílias que precisam de um dócil protetor. “O Cane Corso reúne em um único cão diversas qualidades encontradas em outras raças como a docilidade dos Retrievers; a guarda e proteção dos Rottweilers e Pastores; o instinto de caça dos Pointers, entre outras particularidades que compõem essa encantadora raça”, aponta Robinson Romão, do canil Romão D’Itália, de São Paulo, que é primeiro do ranking de criadores CBKC da raça desde 2015 e se dedica à criação de Cane Corso há 10 anos.
José Talarico, do canil TCane, localizado na cidade de Petrópolis, região serrana do Rio de Janeiro, também se dedica à criação do Cane Corso há mais de 10 anos. O criador descreve esse cão como um guardião de temperamento equilibrado. “É uma raça para a família que possui DNA de guarda. Porém, isso não significa que tenha uma natureza agressiva, muito pelo contrário, só reage quando uma verdadeira ameaça está presente”, atesta.
Como um animal de grande porte, o Cane Corso possui algumas particularidades em seu manejo. A seguir, aprenda como cuidar desse grandalhão cheio de qualidades.
O Cane Corso reúne em um único cão diversas qualidades encontradas em outras raças como a docilidade dos Retrievers; a guarda e proteção dos Rottweilers e Pastores; o instinto de caça dos Pointers, entre outras particularidades que compõem essa encantadora raça
Robinson Romão
Alimentação
Para que um Cane Corso atinja seu melhor desenvolvimento, sua alimentação deve ser de qualidade, aponta Robinson. “Ela ainda pode ser complementada com suplementos que garantem uma melhor formação óssea, das articulações e musculatura, tudo sob orientação veterinária”, acrescenta. Como exemplo, Talarico cita que no canil oferece vitamina à base de controdina, que fortalece a cartilagem e auxilia no aumento da produção de ácido hialurônico, que ajuda na lubrificação das articulações. “Ministramos sempre na fase de crescimento (6 e 12 meses) do filhote. Outras vitaminas podem ser ministradas também, desde que sejam necessárias, como vitaminas C e D”, ilustra.
Uma dúvida muito comum de quem pretende adquirir um cão de grande porte é a quantidade de ração consumida no mês. “Em média, são aproximadamente de 20 a 22 kg de ração por mês, se consideramos uma ração de qualidade super premium”, calcula Talarico. “Por ser um molosso, o Cane Corso tem que ter uma alimentação balanceada e adequada para não comprometer seu crescimento saudável”, alerta o criador.
Sobre a oferta alimentar, Robinson não recomenda a dose única, por sua elevada quantidade de ração. “O ideal é fracionar em no mínimo três a refeição, até os 24 meses de idade. Após essa idade, ela pode ser dada duas vezes ao dia”, ensina.
Rotina de exercícios
Como um cão totalmente rústico, ativo e robusto, o Cane Corso adora se exercitar e necessita de atividades físicas para trabalhar suas articulações e musculatura. “Desse modo, mantém
sua forte e invejável estrutura, aclamada por muitos”, aponta Robinson, que alerta sobre um problema comum em cães de porte grande e gigante: a torção gástrica, que pode levar o animal à morte. “Assim, após a alimentação, principalmente se houver água ingerida em demasia, não é recomendado que o animal corra ou se exercite”, diz.
Em relação à rotina de passeios, Talarico recomenda três ao dia de 20 minutos cada, em média. “Evitar exercícios muito intensos em dias de extremo calor é uma forma de proteger o seu animal. Em dias de sol intenso, sempre molhe o seu cão (com banho de mangueira, por exemplo)”, afirma.
Ambiente adequado
“Teoricamente o ambiente ideal para um Cane Corso Italiano se faz por meio de muito espaço movido por lagos ou piscinas para se exercitar e se refrescar. Porém, com a verticalização das grandes metrópoles, está mais do que comum os exemplares dessa encantadora raça serem criados em apartamentos”, descreve Robinson. Contudo, para que isso seja possível, a frequência de passeios deve ser bem maior, entre quatro e seis por dia, de 15 a 30 minutos cada. “O que determina a quantidade de exercício é o drive [o ímpeto, a personalidade e o grau de explosão do exemplar em ação] do animal”, explica Robinson, que diz ser necessário o uso de serviços como dog walker e creche para cães da raça caso o tutor não consiga suprir, por si só, a rotina de exercícios de seu exemplar.
“Ambientes com pisos lisos e escorregadios devem ser evitados a todo o custo, pois comprometem o crescimento saudável do Cane Corso”, alerta Talarico. Quando estiver na área externa, o Cane Corso deve ter local arejado e protegido do sol intenso, além de área de descanso.
Acessórios
Coleiras, guias, comedouros, camas, entre outros itens que compõem o enxoval básico de um cão, para o Cane Corso, devem ser bastante reforçados e de acordo com o porte. “Esse cuidado é importante para que suportem sua potente mordida, bem como seu peso”, explica Robinson. Para se ter uma ideia, segundo padrão oficial CBKC/FCI, uma fêmea da raça pode ter entre 40 e 45 kg, enquanto machos podem alcançar os 50 kg.
“Com relação às coleiras e guias, eu, particularmente, prefiro as de pei
toral, por serem menos traumáticas para o Cane Corso”, aponta Talarico. Já Robinson não indica o uso de peitorais, coleiras de couro (principalmente aquelas com tecido interno tipo feltro e as largas) e outros materiais que podem causar fungos e problemas de pelo no local por acumularem umidade. “Também repudiamos o uso de enforcadores de aço, principalmente aqueles com ganchos que podem causar até mesmo estresse por conta do peso e do barulho que fazem quando o cão se movimenta”, explica Robinson. Assim, para ele, o indicado é o uso de coleiras leves, de fácil manejo, como as guias integradas K9, confeccionadas com nylon de paraquedas.
Quanto ao comedouro, Talarico recomenda o uso dos que sejam ajustáveis. “O tutor deve deixá-los sempre na altura do peito do cão”, opina o criador. Já Robinson aponta que vasilhas ou potes de inox são mais indicados para a raça, pois, além de mais higiênicos, não comprometem a dentição do Cane Corso.
Dia a dia
O Cane Corso é um animal que gosta de interagir e ter a companhia da família diariamente, mesmo que tenha seus momentos de solidão quando os tutores saem para trabalhar. “Não é aconselhável manter o Cane Corso dentro de casa o dia todo, pois, além de ser um cão de porte médio a grande, é ativo e gosta de ter espaço para exercícios e brincadeiras”, diz Talarico.
Robinson ressalta que o temperamento de cada Cane Corso pode va
riar de acordo com o seu drive. “Cães com drive baixo são mais próximos e meigos, consequentemente preferem ficar sempre próximos aos donos e outros pets da casa. Por outro lado, os exemplares com drive alto são menos toleráveis a outros cães e animais e tendem a ter o instinto de guarda e proteção mais forte, sendo mais independentes”, diferencia.
Brincadeiras
Bolinha, frisbee, cabo de força, corridas em geral, natação, entre outros esportes como caça, treinamentos de ataque e trilhas fazem parte do rol de atividades que a raça pratica com muito gosto. “Vale ressaltar que tanto brincadeiras com bolinha como frisbee não devem ser feitos em pisos lisos, para que o cão não escorregue ao pular. Isso pode comprometer suas articulações e estruturas ósseas”, alerta Robinson, que faz outra ressalva: “Algumas linhas de sangue, infelizmente, produzem exemplares ‘emboxerados’ (misturados com a raça Boxer e, portanto, com focinho mais curto). Esses cães possuem as limitações de exercícios de cães braquiefálicos e são mais suscetíveis e frágeis para atividade e até mesmo caminhadas em períodos
de calor”, alerta Robinson.
Sociabilização
Ser apresentado aos membros da família e pessoas do círculo familiar desde cedo é importante e faz parte da sociabilização de um cão dessa raça. “A sociabilização – não somente com pessoas, mas também com outros pets – proporciona um manejo (condução) bem mais tranquilo e fácil para o seu tutor”, explica Robinson.
Já para conviver e se acostumar com crianças menores de 8 anos, Robinson recomenda exemplares de drive moderado ou baixo, que são mais tranquilos e, consequentemente, mais tolerantes e sensíveis, além de responderem melhor aos comandos de voz.
Com outros pets
Apesar de ser um cão de guarda, o Cane Corso pode sim conviver com outros pets, como gatos, principalmente quando a sociabilização é feita com o cão ainda filhote.
Quanto à convivência com outros cães, ela é possível. “Até os Canes Corsos com drive alto podem e até mesmo gostam de conviver com ou
tros exemplares da raça, desde que o outro seja de drive moderado ou baixo, sendo submisso a ele. Essa regra vale tanto para a convivência entre machos como entre casais”, aponta Robinson. “Tendem a liderar as matilhas que não sejam de sua raça”, acrescenta. Contudo, tais Canes – com drive alto – só convivem com outros pets caso sejam adestrados, e ainda assim, a interação deve ser sempre supervisionada.
Talarico lembra que para que dois cães convivam em harmonia, é importante evitar que se alimentem no mesmo comedouro e que entrem em disputa pelo mesmo osso ou brinquedo.
Adestramento
Os criadores entrevistados apontam que os Canes são muito fáceis de adestrar e assimilar a voz de comando. Para exercer a guarda e proteção, a raça não precisa ser adestrada, pois o comportamento aflora naturalmente, garantem os criadores. “Claro que para isso, o animal precisa ser de um canil de boa procedência”, ressalta
Robinson. Contudo, o que é aconselhado é se fazer um adestramento básico, que possibilite o tutor ter controle de seu cão.
Higiene e beleza
Como é de se esperar de um cão rústico e de pelagem curta, os cuidados com sua higiene são reduzidos e simples. Escovação periódica – pode ser semanal – e banhos quando necessário são suficientes – podem ser mensais, se o tutor desejar. “Indicamos o banho seco em filhotes e jovens e o uso de xampu neutro em adultos”, diz Robinson.
Para a escovação, Talarico diz que utiliza luvas rasqueadeiras em seu canil, pois ao passo que escovam, agradam o animal. “O cão adora, tornando a escovação um momento especial entre tutor e seu dog”, afirma.
Saúde de ferro
O Cane Corso é um cão rústico e muito resistente. Contudo, por ser um molosso – portanto muito pesado –, a displasia de cotovelo e coxofemoral é um problema que merece a atenção de criadores e tutores da raça. “A displasia pode resultar de um problema hereditário, alimentar e de piso inadequado. Assim, é importante sempre indagar sobre os exames dos pais do seu filhote, fornecer uma alimentação adequada e evitar pisos escorregadios”, reforça Talarico. Para controlar o problema, criadores idôneos realizam exames em seus cães antes de serem colocados para reprodução. “Podem ser feitos exames preliminares (aos 12 meses) e definitivos (aos 24 meses) para se detectar a doença”, aponta Talarico. Outra falha de manejo que pode ocasionar a displasia, alerta Robinson, é o estímulo do animal em pular e, principalmente, ficar em pé abraçado ao dono. “Quando são soltos, para retornarem ao solo sofrem forte impacto, podendo proporcionar uma displasia de cotovelo e/ou de ombro com o tempo”, afirma o criador, que aponta ser o manejo a maior causa da displasia na raça. “Estudos norte-americanos revelam que mais de 70% dos casos são ocasionados por erros de manejo”, atesta.
Outro problema que pode acometer a raça é o chamado cherry eyes (olho de cereja), que ocorre por conta das dobras ou peles soltas na cabeça que o Cane Corso tem, explica Talarico. “Caso ocorram, a recomendação é uma simples cirurgia corretiva”, conclui.