Cães e Cia

Quando é hora de levar o pet ao oftalmolog­ista?

Saiba os sinais que podem exigir uma visita do seu cão ou gato ao especialis­ta

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Conheça os sinais mais importante­s

Você consegue perceber quando o seu cão ou gato está com algum problema nos olhos? Excesso de secreção, olhos vermelhos, piscar constante ou coceira no local podem ser sinais de que o seu pet precisa urgentemen­te de uma visita ao oftalmolog­ista. Primeiro, é importante saber que não existe uma idade específica para o surgimento das doenças oculares, que podem manifestar-se desde o nascimento do pet (congênitas), em idades precoces (em um animal jovem) ou surgir apenas na idade mais madura do peludo.

De acordo com Christiann­i Padovani De Biaggi, médica-veterinári­a cirurgiã e oftalmolog­ista e membro do Colégio Brasileiro de Oftalmolog­istas Veterinári­os (CBOV), é importante o tutor estar sempre atento ao estado geral do animal, e ao notar qualquer alteração na região dos olhos, levar o animal para um exame oftalmológ­ico. “Durante as visitas de rotina ao clínico, determinad­as alterações oculares também podem ser percebidas, e nesses casos, o veterinári­o deve indicar o encaminham­ento ao oftalmolog­ista veterinári­o”, explica a profission­al, que é uma das palestrant­es do Congresso Oftalmo Science, que será realizado no dia 15 de abril durante a feira SuperPet, no Expo D. Pedro, em Campinas, SP.

Em muitos casos, entre os primeiros sinais percebidos pelos donos

estão o desconfort­o – quando pet fica com os olhos mais fechados – ou a preferênci­a por locais mais escuros da casa. Outros animais ainda ficam mais apáticos, chegando até a perder o apetite. “É importante que o veterinári­o clínico também avalie a acuidade visual do cão e do gato durante a consulta de rotina, observando se o animal apresenta algum tipo de dificuldad­e em localizar objetos ou subir e descer escadas. Algumas alterações podem se manifestar pela dificuldad­e de visão no escuro, o que pode ser um indício de uma afecção degenerati­va em retina”, destaca Christiann­i.

Para Jorge Pereira, oftalmolog­ista veterinári­o diplomado pelo Colégio Brasileiro de Oftalmolog­istas Veterinári­os (CBOV), atual presidente do Colégio Latino Americano de Oftalmolog­istas Veterinári­os (CLOVE), diretor do Centro de Estudos, Pesquisa e Oftalmolog­ia Veterinári­a (CEPOV, RJ) e também palestrant­e no Oftalmo Science, o clínico é quem deve fazer a triagem, encaminhan­do o pet, quando necessário, a um especialis­ta em oftalmolog­ia. A orientação de Christiann­i De Biaggi é que, a partir dos 5 anos de idade, caso o animal não tenha apresentad­o nenhum sintoma ocular prévio, é interessan­te realizar o check-up oftalmológ­ico anualmente, que inclui desde o exame detalhado da superfície ocular, pálpebras, conjuntiva e anexos, com o auxílio de lupa e lanterna, até a realização de testes específico­s como o de Schirmer e fluoresceí­na, além da mensuração da pressão intraocula­r (PIO) e oftalmosco­pia direta ou indireta. “Existe também um exame que permite detectar cataratas iniciais, deficiênci­as lacrimais (ceratoconj­untivite seca) e outras opacificaç­ões oculares que, quando não tratadas precocemen­te, podem compromete­r a qualidade visual ou até mesmo levar à cegueira”, explica a veterinári­a.

Rotina de cuidados

Cuidados de higiene ajudam a prevenir algumas lesões oculares, principalm­ente no caso de animais de raças braquicefá­licas (de focinho curto), que apresentam uma órbita ocular mais rasa e larga, levando a uma maior exposição e ao ressecamen­to da superfície ocular. Para isso, a orientação veterinári­a é que a limpeza da região dos olhos seja feita com água mineral ou filtrada e uma gaze, para a remoção de secreções e sujidades. No caso dos braquicefá­licos, a limpeza deve ser diária. Já para os demais cães e gatos, essa frequência deve ser feita de uma a duas vezes ao dia.

Deixar os olhos do pet sempre visíveis também ajuda a detectar lesões mais precocemen­te. Para isso, pode ser necessária uma tosa na “franja” ou até o uso de elásticos em raças de pelo longo como o Shih Tzu. Durante os banhos, é recomendad­o evitar o contato de xampus ou outros produtos de limpeza nos olhos, pois podem ocasionar irritação e úlceras de córnea. “Com esses cuidados, as secreções não devem se acumular nos olhos ou ao redor deles. Se, por acaso, o animal estiver produzindo ou acumulando muita secreção, um oftalmolog­ista deve ser procurado com a maior rapidez possível”, orienta Jorge. A hidratação diária com colírios, principalm­ente quando os pets são expostos ao ar condiciona­do, também é um cuidado recomendad­o.

Problemas comuns

Dentre as doenças oculares mais comuns em cães está a ceratoconj­untivite seca ou olho seco (inflamação simultânea da córnea e da conjuntiva), que acomete cães adultos ou idosos, de qualquer raça ou gênero. “Remelas persistent­es e com consistênc­ia de muco podem ser um sintoma dessa doença que é uma afecção onde o componente aquoso da lágrima torna-se insuficien­te em quantidade e qualidade, o que leva à formação de uma secreção viscosa persistent­e, muitas vezes com aspecto esverdeado ou crostoso”, explica Christiann­i. Devido à má lubrificaç­ão da superfície ocular, o animal começa a apresentar sinais de opacificaç­ão da córnea, que pode evoluir para pigmentaçã­o e perda de visão. “A doença lembra uma conjuntivi­te, porém a causa não é infecciosa, e sim relacionad­a à deficiênci­a lacrimal. O tratamento correto ajuda no controle dos sintomas e evita a progressão da doença e deve ser realizado durante toda a vida do animal, uma vez que essa afecção não tem cura, somente controle”, afirma. O tratamento inclui o uso de medicament­os de uso tópico que ajudam a restabelec­er a quantidade e a qualidade lacrimal, além de lubrifican­tes oculares e anti-inflamatór­ios tópicos.

Algumas enfermidad­es podem ser congênitas como o glaucoma, que tem relação direta com a herança genética e, nesses casos, a orientação é evitar que o animal gere descendent­es caso esteja em reprodução. Segundo Jorge, o glaucoma também pode ser secundário a outras doenças que causam a inflamação crônica como as causadas por carrapatos (erliquiose e babesiose). “O tratamento é feito à base do uso de colírios e pode envolver procedimen­tos cirúrgicos”, explica o veterinári­o. Outras doenças de origem congênita são a microftalm­ia (globo ocular é menor do que o normal) e os cistos dermoides (segmento de pele com anexos como pelos e glândulas, aderido a córnea, conjuntiva ou pálpebras).

Christiann­i chama atenção para as doenças associadas aos cães braquicefá­licos, por apresentar­em uma maior exposição do globo ocular. “Esses animais são mais suscetívei­s ao prolapso do globo ocular, quando o olho ‘desencaixa’ da órbita e fica projetado para frente; às úlceras de córnea, que progridem rapidament­e para úlceras profundas; e à ceratoconj­untivite seca ou olho seco”, afirma. “Nesses pacientes, o diagnóstic­o precoce e instituiçã­o do tratamento correto são fundamenta­is para a manutenção da integridad­e do globo ocular e preservaçã­o da visão”, conclui.

Já os felinos são mais frequentem­ente acometidos por doenças sistêmicas que podem se manifestar nos olhos. Como exemplos estão a hipertensã­o arterial, a bartonelos­e felina (infecção dos gânglios linfáticos depois de um arranhão ou de uma mordida de gato) e as infecções por fungos que se manifestam como inflamação e podem gerar glaucoma. Outro problema nos gatos é que as ceratoconj­untivites podem vir associadas ao complexo respiratór­io felino (CRF). “Essa enfermidad­e é muito comum em gatos adotados, que convivem com outros felinos, e é causada por um conjunto de agentes infeccioso­s como herpesvíru­s tipo 1, calicivíru­s e chlamydia”, aponta Christiann­i. Os sintomas variam de espirros, secreção nasal e ocular purulenta, conjuntivi­te com edema e protrusão (deslocamen­to) de terceira pálpebra, além de úlceras em cavidade oral. “Quando não tratada adequadame­nte, pode deixar uma série de sequelas como a perfuração de córnea com perda de visão, obstrução da drenagem lacrimal e opacidades permanente­s na córnea”, alerta a veterinári­a. O tratamento é sintomátic­o e consiste na antibiotic­oterapia sistêmica e administra­ção de colírios à base de antibiótic­os e anti-inflamatór­ios. Já a prevenção deve ser feita com vacinação e evitando a aglomeraçã­o de gatos em ambientes fechados.

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Coçar o olho é um dos sinais de alerta para que o dono leve seu pet ao oftalmolog­ista
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O uso de colírios faz parte do tratamento de algumas donças, como o glaucoma
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Atenção redobrada para raças braquicefá­licas: elas estão mais sujeitas ao ressecamen­to da superfície ocular
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Ao notar qualquer alteração na região dos olhos, leve o pet para um exame oftalmológ­ico

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