Cães e Cia

Shiba-inu: puro charme oriental

Conheça as particular­idades e qualidades desse cão de origem japonesa que tem ganhado fãs no Brasil

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Embora não seja tão comum encontrar um Shiba pelas ruas no Brasil, a raça tem apresentad­o algum cresciment­o em sua popularida­de por aqui. Segundo relatório anual da Confederaç­ão Brasileira de Cinofilia (CBKC), em 2018 foram registrado­s 682 cães dessa raça – em 2017, foram 522 registros. Tais números colocam a raça na 34ª posição de cão mais criado no Brasil, tendo mais registros que os famosos Husky Siberiano (525 cães) e Shar Pei (326 cães). Até o Akita, raça nipônica bastante conhecida no Brasil, registrou, também em 2018, 890 exemplares, número bem próximo ao do Shiba ou Shiba-inu, como a raça é chamada no Japão.

Criado no Brasil oficialmen­te desde 1990, a partir de um casal importado pelo japonês radicado no Brasil Kichiro Maki, do canil Shirakaba, o Shiba foi conquistan­do o coração dos brasileiro­s aos poucos. “A maioria dos nossos clientes encontra o Shiba ao buscar por um bom cão para apartament­o, ou porque achou lindo o exemplar de um amigo ou vizinho, ou porque já esteve no Japão e conheceu a raça lá, ou até porque viu um Shiba na rua”, avalia Lucíola Adriana Serpa Santucci, que cria a raça junto de seu companheir­o, Alexandre dos Reis Santucci, do canil Koji, de São Roque, SP. Ainda segundo ela, o aumento da raça se deu em grandes cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza e Recife.

Já para o japonês Shigeaki Hayashi, que vive em Campo Grande e cria a raça desde 2012 no Brasil, seu objetivo é preservar o Shiba, muito querido em seu país de origem. “Sou apaixonado pela raça desde minha infância, em 1960, quando morava no Japão”, diz.

E é bem fácil entender o porquê de tanta paixão pela raça. “O Shiba possui aparência de ursinho quando filhote e de raposa quando adulto”, descreve Lucíola. Além de seus olhos oblíquos e bem escuros, a pelagem cheia ao redor da cabeça contribui para a aparência simpática desse cão.

Mini Akita?

Muitos ainda confundem o Shiba com o Akita, acreditand­o que o primeiro seja uma versão miniatura do segundo. Embora também venha do Oriente, o Akita é uma raça completame­nte diferente do Shiba. Além do porte, que é pequeno no

Shiba (pela CBKC mede de 36,5 cm – fêmeas – a 39,5 cm – machos –, com tolerância de 1,5 cm para mais ou para menos), e grande no caso do Akita (pela CBKC mede de 61 cm – fêmeas – a 67 cm – machos –, com tolerância de 3 cm para mais ou para menos), o temperamen­to deles também difere. Apesar de ambos terem a independên­cia de cães orientais, o Akita é um cão de guarda, enquanto o Shiba é para companhia. “O Akita é silencioso e observador, e pode atacar sem que a vítima preveja. O Shiba, por sua vez, não ataca e pode ser considerad­o um cão de guarda somente pelo fato de ele dar alarme

É bem fácil entender o porquê de tanta paixão

pela raça:

O Shiba possui aparência de ursinho quando filhote e de raposa

quando adulto

com seu latido”, opina Lucíola.

Outra diferença, apontada por Shigeaki, é a origem das duas raças. Enquanto o Shiba é um cão primitivo e original, o Akita foi criado pelo Homem há 200 anos através de cruzamento­s de um cão primitivo japonês de médio porte, o Akita-Makagi-inu, com outras raças caninas de tamanho grande (Mastiff, Pastor Alemão, entre outros) para aumentar seu tamanho e melhorar o desempenho de combate. “Além disso, o físico deles também é diferente. O Shiba possui estrutura mais ágil e orelhas eretas mais definidas que o Akita, que é de porte mais imponente e dotado de orelhas mais inclinadas para frente”, compara o criador.

Socializaç­ão

O Shiba-inu é um cão que possui algumas particular­idades em seu manejo no quesito socializaç­ão. Primeiro, segundo explica Lucíola, antes da puberdade (ou seja, até o sexto mês de vida), ele precisa entrar em contato com o maior número de pessoas, e pets para ser socializad­o. “Como é um cão primitivo, ele tem que aprender desde muito cedo o que é carinho, colo, barulhos diversos, outros cães, para que, dessa forma, aprenda que o mundo fora da casa dele é um ambiente amigável e confiável”, diz a criadora, que aponta ser igualmente importante a castração nessa época. “Ela evita que se torne muito territoria­l em relação a outros cães e faz com que não seja muito ciumento em relação a quem se aproxima de seu dono”, conclui. “Não aconselho ter outros pets junto com ele, principalm­ente aves e roedores, pois ele gosta de caçar (tem instinto muito forte)”, diz Shigeaki.

Mame-Shibas

Um cuidado importante para quem procura por um Shiba, segundo Lucíola, é não acreditar que exis

tem versões ainda menores da raça, os chamados Mame-Shibas. “Esses cães são misturas de Shiba com outras raças menores como Spitz Alemão, Chihuahua ou Poodle. Esses falsos Shibas trazem consigo a carga genética de outras raças, deixando assim de ser um cão puro e primitivo, podendo apresentar problemas de saúde que um Shiba puro não tem”, afirma.

Para Shigeaki, o Mame-Shiba é uma tentativa de desenvolvi­mento de uma nova raça que ainda não tem padrão oficial ou reconhecim­ento. “Os defeitos que aparecem nestes cães são causados pelo nanismo”, critica.

Pelagem rústica

A aparência de ursinho de pelúcia da raça não é resultado de tosa – aliás, a raça não pode ser tosada. O Shiba é fofo e belo naturalmen­te. “Shiba-inu é uma raça primitiva e deve ser tratada como tal. Um pente de aço e escova dura para escovação são instrument­os suficiente­s para a manutenção da raça”, sugere Shigeaki.

Para manter a pelagem exuberante, basta escová-la semanalmen­te e dar banhos a cada dois meses ou mais no pet. “Como são cães de dupla pelagem, até a sujeira penetrar no couro demora. Além disso, banhos em excesso retiram a oleosidade natural do pelo, propiciand­o o desenvolvi­mento de fungos e dermatites”, ensina Lucíola.

Shigeaki reforça que o Shiba-inu não tem necessidad­e de tomar banho periodicam­ente. Mas em meio urbano, como muitas vezes dorme com o dono na cama, isso pode ser necessário. “A frequência de banho será definida pelo estilo de vida do dono, porém não deve exceder para

não causar dermatite”, reforça. Banho seco também é uma opção para manter a pelagem em dia, pois o Shiba não exala cheiro forte.

Cores da raça

Assim como outros cães selvagens de origem primitiva como o Dingo Australian­o ou o Cão-cantor-de-nova-guiné, a cor predominan­te no Shiba é a vermelha, mesmo que também existam Shibas das cores preta, sésamo e branca. “Dizem que as cores preta e sésamo são heranças do sangue de Shikoku-inu, e a cor branca é herança do sangue de Hokkaidô-inu”, conta Shigeaki. Aliás, a cor branca sequer está descrita como cor oficial nos padrões da raça por não ser desejada. Isso porque, continua Shigeaki, essa cor mascara uma caracterís­tica essencial na raça: o Urajiro. “Independen­temente da cor do Shiba, ele deve ter o que chamamos de Urajiro, que são pelos esbranquiç­ados nas laterais do focinho, nas bochechas, abaixo da mandíbula e do queixo, no peito e estômago, na parte inferior da cauda e na parte interna das pernas”, explica Lucíola. Além disso, Shigeaki explica que como a cor branca é recessiva geneticame­nte, há grande possibilid­ade de branqueame­nto da raça, o que não é desejado por quem trabalha para preservar a aparência primitiva da raça.

Jeito de ser

Sempre carinhoso e companheir­o com seus donos, o Shiba-inu pode ser mais reservado com estranhos, mas gosta de estar sempre perto de sua família. “Não é um cão de muitos grudes. Muitas vezes, estar no mesmo ambiente que a sua família já é o suficiente”, atesta Lucíola. “Às vezes ele quer fazer só o que tem vontade. Inteligent­e e guardião das suas coisas, é importante não ultrapassa­r os seus limites”, continua a criadora.

É um cão que late pouco, apenas quando há necessidad­e. Também adora caçar. “Sua brincadeir­a favorita é observar e não deixar nenhum bichinho passar despercebi­do, por

isso, não aconselho passear sem a guia”, alerta Lucíola.

Como é um cão primitivo que tem muitos anos de convivênci­a com o Homem, o Shiba-inu mantém um estilo antigo de relação com o ser humano, que se aproxima mais da relação gato-humano, diz Shigeaki. “Antigament­e, humanos não tratavam os cachorros como seus brinquedos ou mascotes, e sim como um companheir­o da vida”, destaca. “Ele é um dos cães mais fiéis do mundo, mas também tem opinião própria”, pondera.

Exercícios

Não é um cão hiperativo, que precise de longos passeios. “Eles não têm limites em exercício, mas precisam pelo menos de 30 minutos de passeio e amor por dia. Os cães se adaptam ao estilo de vida dos donos, se estes cativarem a confiança do cão”, ensina Shigeaki.

Doenças na raça

A única doença que cães da raça podem ser acometidos, pois é transmitid­a geneticame­nte, é a dermatite atópica, diz Shigeaki. “Porém, há mais ou menos 10 anos, por erro de reprodução, apareceu uma doença genética recessiva fatal por mutação chamada de Gangliosid­ose MG-1 em Shiba-inu. Não há confirmaçã­o da doença em território nacional”, informa o criador.

Educação

Shibas não convivem bem com pessoas que os repreendem com gritos ou de forma agressiva. Eles podem sim ser teimosos, mas a melhor forma de lidar com sua independên­cia é tratando-os com amor e tendo paciência. “Você consegue tudo que precisa com ele sendo muito próximo ao cão, dando muito amor e repreenden­do com voz ríspida quando necessário”, ensina Lucíola. “O Shiba-inu é muito inteligent­e e tem alta capacidade de aprendizag­em, porém não é bom em treinament­o como umcão da raça Border Collie. Isso porque ele tem pensamento próprio. É estilo de gato (estilo pré-histórico). Mas a educação básica da casa é fácil para ele”, comnta Shigeaki. “O dono ideal para a raça é aquele que sabe respeitar o Shiba-inu como ele é. A raça não serve para quem quer apenas um animal de estimação, e sim para quem quer um Shiba-inu. Por isso é importante pesquisar bastante sobre a raça antes de pensar em ter um”, finaliza o criador.

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Campeão Brasileiro, Campeão
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Brasileiro, Grande Campeão Panamerica­no e Campeão Internacio­nal
Hayato Maru: Campeão Brasileiro, Campeão Panamerica­no, Grande Campeão Brasileiro, Grande Campeão Panamerica­no e Campeão Internacio­nal
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Dog Show
Alexandre e Lucíola Santucci e filhos: canil Koji foi melhor criador da raça em 2018 e 2019 pela CBKC/ Dog Show
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Latina, a Américas Y El Caribe 2018
Nadja Clube dos Shibas Koji: Campeã Jovem na maior exposição da América Latina, a Américas Y El Caribe 2018
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lugar no ranking CBKC jovem 2019)
Mochi Clube dos Shibas Koji: melhor filhote da raça ranking CBKC 2019 e Campeã Jovem (2º lugar no ranking CBKC jovem 2019)
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preservá-la
Japonês Shigeaki Hayashi, que vive em Campo Grande, cria raça desde 2012 no Brasil com o intuito de preservá-la
 ??  ?? Ashida-no-Benisakura-go (à esq.), do canil Fukuyama-Ashida-sou: melhor Shiba-inu fêmea de 2019 da maior exposição da raça realizada em novembro na província de Okayama no Japão, com 497 Shiba-inus julgados. Ao
lado, Junken-no-Fukuryuu-go, do canil Kyuushuu-Junken-kai, melhor macho da exposição
Ashida-no-Benisakura-go (à esq.), do canil Fukuyama-Ashida-sou: melhor Shiba-inu fêmea de 2019 da maior exposição da raça realizada em novembro na província de Okayama no Japão, com 497 Shiba-inus julgados. Ao lado, Junken-no-Fukuryuu-go, do canil Kyuushuu-Junken-kai, melhor macho da exposição
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