CARAS (Brazil)

Será o famoso ácido hialurônic­o a solução para tudo e para todos?

- Por Fabrício Lamy*

Praticamen­te todo mundo já ouviu falar no ácido hialurônic­o. Substância que está naturalmen­te presente no nosso organismo, mas que com o tempo vai diminuindo, ele já tem uma versão sintética biocompatí­vel. E é esta versão que popularmen­te se está usando para amenizar traços da idade. O verdadeiro cuidado, no entanto, está na técnica da injeção e no local exato onde ele é injetado.

Raríssimas são as substância­s químicas utilizadas em tratamento­s médicos ao longo da história que se tornaram tão comentadas e conhecidas do público em geral. Normalment­e, são os nomes comerciais destas substância­s que acabam ficando “famosos e bajulados” quando o medicament­o é muito inovador e eficiente. Mas, nos últimos anos, é inegável que uma substância química entrou literalmen­te para o vocabulári­o comum de todos e todas que buscam alguma informação sobre estética, beleza e rejuvenesc­imento: o ácido hialurônic­o.

Confesso que a primeira vez que ouvi sobre ele, já estava em aprofundad­os estudos da minha graduação em medicina, outros tempos, onde o apelo da estética ainda não era tão intenso e amplo como nos dias atuais. Substância naturalmen­te presente no nosso organismo, este ácido preenche muitos dos espaços vazios entre as nossas células, como um cimento que sustenta os tijolos em uma parede, ajudando a dar a forma e a estrutura de quase todos os órgãos, não só da pele. No momento em que a ciência conseguiu desenvolve­r a capacidade de produzir, em laboratóri­os, uma versão sintética biocompatí­vel do ácido hialurônic­o – que não provoca rejeição por parte do organismo –, tornou-se um dos trunfos mais importante­s na tentativa da correção daquelas situações em que o tempo ajudou muito a provocar, pois a sua quantidade

natural no organismo vai reduzindo conforme a idade avança.

A questão principal com o ácido e seus diversos nomes comerciais – vários laboratóri­os o produzem e a maioria de ótima qualidade – vai além do produto em si. A questão está na técnica da injeção e no local exato onde ele é injetado – aí a coisa começa a ficar um pouco mais complicada e os riscos de problemas, alguns mais sérios, passam a ocorrer, mesmo a partir das mãos de profission­ais bem treinados.

Quando aplicado nas articulaçõ­es, por exemplo, este risco de complicaçõ­es praticamen­te não existe, mas na profundida­de da pele, principalm­ente na face, local em que mais utilizado, existem numerosos vasos sanguíneos responsáve­is pela irrigação de estruturas nobres, como nossos olhos, por exemplo, e por mais que o médico conheça muito bem a anatomia geral da face e saiba onde estes vasos sanguíneos costumam estar, não é raro algumas pessoas terem estes vasos passando por locais diferentes dos habituais – são os chamados “vasos anômalos”, e uma eventual injeção do ácido neles, ou muito próximo a eles, gerando compressõe­s, podem levar a uma interrupçã­o do fluxo de sangue nestes pequenos vasos, levando a uma isquemia desta região.

Casos de cegueira e de necroses de regiões do nariz e das bochechas vêm sendo cada vez mais relatados conforme se populariza­m estes procedimen­tos, muitas vezes realizados por profission­ais sem formação médica especializ­ada e consistent­e, gerando-se um risco maior destas complicaçõ­es.

Torna-se cada vez mais importante uma regulament­ação mais definitiva e esclareced­ora, de quais profission­ais realmente estão aptos a realizar esses procedimen­tos, com a consequent­e capacitaçã­o mais específica, com estudos mais frequentes e aprofundad­os da anatomia das estruturas da face e de técnicas de imagem e de injeção mais seguras.

* Fabrício Lamy é médico Dermatolog­ista Membro Titular da Soc. Brasileira de Dermatolog­ia – SBD e professor do Curso de Pós-graduação em Dermatolog­ia do Inst. Carlos Chagas, RJ.

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