Psoríase: doença de pele que pode até piorar paciente com Covid-19
Por terem a mesma origem embrionária, desde o ventre, a pele e o sistema nervoso possuem uma ligação importante para a expressão de diversas doenças. Em tempos de pandemia, a psoríase ganha atenção por ter muita relação com a saúde mental dos pacientes e por se tornar um agravante aos infectados pelo vírus, por conta das inflamações pré-existentes no corpo.
Apele é o maior órgão do corpo humano e aquele que está efetivamente exposto, sendo a primeira impressão de alguém, algo que carrega grande relevância na sociedade em que vivemos. O que poucos sabem é que, por ter a mesma origem embrionária que o sistema nervoso, lá durante a formação dos nossos órgãos e tecidos, ainda no ventre, as alterações ou doenças que acometem a pele também têm uma repercussão mais forte e intensa no sistema nervoso. Então, as enfermidades que atingem esse importante órgão são normalmente aquelas que mais abalam e incomodam o lado mental. Um bom exemplo é a psoríase, uma recordista em afetar o lado emocional dos pacientes. A dor e o sofrimento das lesões físicas e psíquicas dificultam a condução dos tratamentos e, ao mesmo tempo, exigem que esses tratamentos sejam os mais rápidos e efetivos possíveis.
A psoríase é uma doença inflamatória que acomete, pelo menos, 2% da população mundial e, no Brasil, mais de 3 milhões de pessoas convivem com ela, algumas com as formas mais brandas e menos perceptíveis, mas outras com as versões mais extensas, que acometem até outras áreas do corpo, como as unhas, os genitais e até as articulações. Em quase todas, o componente emocional é um fator muito relevante a ser monitorado e considerado pelos profissionais de saúde, como os chamados sintomas emocionais subjetivos, que contribuem diretamente para o agravamento das manifestações clínicas na pele, gerando um ciclo muito importante de ser interrompido, principalmente nesse período de pandemia da Covid-19, no qual o emocional de muitas pessoas acaba ficando afetado.
Estima-se que pacientes com quadros de psoríase mais graves representem a metade desse total de pacientes no Brasil. As observações clínicas registram que esses pacientes têm mais complicações de saúde mental, além de outras comorbidades importantes, como a obesidade, hipertensão e diabetes. Com a pandemia, está bem estabelecido que essas condições inflamatórias, tanto a própria psoríase como as outras alterações agravadas por ela, podem fazer com que os pacientes infectados com o vírus possam ter uma piora dos seus quadros clínicos, com possibilidades de falecer em alguns casos. Por isso, é muito importante que tenhamos uma maior atenção para a necessidade de um tratamento mais efetivo para esses pacientes crônicos, até por uma questão de prevenir essas outras situações associadas.
O mês de outubro enfatiza a conscientização da psoríase, com diversas ações das sociedades médicas, que procuram alertar e informar sobre a importância de uma maior atenção quanto a esse diagnóstico e aos diversos tratamentos efetivos já disponíveis no controle da enfermidade, inclusive muitos já incorporados pela rede pública de saúde. Torna-se cada vez mais importante encarar a psoríase como uma doença sistêmica, que não compromete apenas a pele e que necessita de uma avaliação mais detalhada dos pacientes. Aos que sofrem com a enfermidade, é muito importante saber que existem tratamentos efetivos que podem regredir totalmente as lesões, fazendo com que voltem a ter uma vida normal, sem mais incômodos para a pele, para a saúde ou para a alma.
* Fabrício Lamy (CRM 5261053-3) é dermatologista, membro titular da Sociedade Brasileira de Dermatologia – SBD, e professor de pós-graduação do Instituto Carlos Chagas.