OS APRENDIZADOS OUE GUIAM O PADRE MARCELO
RELIGIOSO USA SUA PRÓPRIA HISTÓRIA DE FÉ CONTRA A DEPRESSÃO NA PANDEMIA
Apandemia do novo coronavírus inspirou cuidados, mas não aterrorizou o padre Marcelo Rossi (53). “Obviamente, me cuidei e também de quem sou próximo, como meus pais, que estão no grupo de risco. Mas me apoiei em Jesus para vencer mais esta etapa e entender que eu precisava ajudar as pessoas, não ficar paralisado”, conta o religioso, fenômeno na música e na literatura, que acaba de lançar o livro Batismo de Fogo, em que narra suas últimas experiências e aprendizados desde o atentado que sofreu ao ser empurrado de um altar de 2 metros de altura em julho de 2019 — as vendas já somam mais de 110 000 exemplares. Retomando aos poucos as atividades presenciais, como as missas no Santuário Mãe de Deus, na zona sul de SP, e apostando nas redes sociais, o sacerdote prega os cuidados com a depressão — doença que já venceu —, combate as ideias de suicídio, especialmente entre os jovens, e tenta ajudar as pessoas a manter o equilíbrio emocional para passar por este momento.
– Como passar por essa pandemia?
– Antes de tudo, tomar todos os cuidados, assim como estamos tomando no Santuário. Tiramos as cadeiras, estou fazendo as missas com menos tempo para que as pessoas não fiquem muito tempo em pé, mantendo o distanciamento, enfim, seguindo tudo até que tenha uma vacina. Temos de nos cuidar.
– Pensamento positivo ajuda?
“Não mudei o livro: caprichei no capítulo sobre suicídio.”
“Prudência, sabedoria e alegria vencendo a pandemia.”
– Deus diz para mim: ‘sorria como nunca’. É a mesma coisa que descrevi na ocasião do empurrão. Foram intermináveis 10 minutos de dor, que não conseguia identificar. Não cheguei a perder a consciência, mas tive espasmos nas pernas, e, mesmo assim, continuei a missa, estava bem. Ali, eu precisava dar um testemunho. Prudência, sabedoria e alegria vencendo a pandemia!
– O sr. viu a doença de perto? Teve medo de contrair?
– Meus pais são grupo de risco, mais do que nunca tive de tomar cuidados com eles. Amo D. Vilma e Seu Antônio, mas não é fácil... Tive de explicar para eles que precisavam se cuidar, cumprir o isolamento, se afastar das atividades. E nesse ciclo tive um milagre, o do meu querido amigo Chicão, que está comigo nesta jornada há 30 anos, que ficou internado na UTI por um mês, intubado, teve um infarto, pegou uma bactéria... Mas estará de volta logo, com a graça de Deus, e sem sequelas. As pessoas tinham desistido dele, mas eu, nunca. É uma questão de fé. E muita gente próxima de mim pegou. Mas eu não, nem espero pegar também.
– Foi difícil para o sr. fechar o Santuário?
– Por prudência, antes de ser obrigatório, decidimos fechar. Não foi fácil. Era dia de São José, 19 de março, uma quinta-feira, e vi o Santuário sem ninguém, vazio. Foram cinco meses sem o povo, mas entendi que era um novo momento. Do fundo do meu coração, sofri muito. Porém, sabia que teria de ter
“Deus me diz: ‘sorria’. Foi assim no empurrão de 2019 e está sendo agora.”
prudência, sabedoria e alegria, que precisava levar isso para as pessoas mesmo sem elas estarem ali. Nesse período, depois que vi um padre italiano dar o exemplo, colocamos fotos das famílias nas cadeiras, o que já melhorou muito, e, mais recentemente, criamos a comunhão espiritual. Mesmo com a abertura parcial, muita gente não está podendo ir à igreja. As redes sociais, mesmo antes de tudo isso, já era uma ferramenta poderosa para a evangelização. O Santuário, agora mais do que nunca, é não somente uma extensão da casa das pessoas, mas nós estamos levando a Igreja até a casa delas.
– Que lição ficará disso tudo? – Primeiro, Deus no coração. Além da percepção de que nós somos tão frágeis. Não tem classe social, pegou todos. Eu mesmo poderia não estar aqui agora após o empurrão. A importância de conectar-se com Deus é esta. Muitas pessoas se abriram para isso. Minha missão como sacerdote é ajudar a pessoa a enxergar o que ela geralmente não consegue sozinha. Foco em Deus e colocar coração na vida, por meio da oração.
– O livro que o sr. lançou sofreu alterações por causa deste delicado momento?
– O livro já estava pronto, tinha sido meu foco até ali e me preparou até para o que estaria por vir. Não mudei quase nada do conteúdo, que acaba tendo tudo a ver com o momento. Não adicionei muita coisa, mas caprichei no capítulo que fala sobre suicídio. Quando escrevi, tinha muitos dados assustadores, mas de dez casos, nove podem ser evitados. São gatilhos que vão sendo liberados. Antes da pandemia, pelo que vi,
“Para não dar chance ao suicídio, envolvo as pessoas em santos pensamentos.”
tinha muita gente com pensamentos suicidas. É uma linha tênue entre a depressão e o suicídio. Não sou profissional para poder dizer com propriedade, mas o que posso dizer, por estar dando auxílio espiritual, é que eu tenho de envolver as pessoas em santos pensamentos para não dar chance ao suicídio. Quanto mais a gente der espaço, vai tomando conta da pessoa.
– Sem o atentado, não haveria livro... Depois de um ano, o sr. vê o episódio diferentemente?
– Não haveria música, Maria Passa à Frente, que está concorrendo ao Grammy Latino de Música Cristã. Qual a diferença de um livro para a palavra de Deus? A palavra é viva! A cada dia eu compreendo que Deus é muito maior que tudo. Me lembro que, quando criança, minha mãe fazia uma colcha de tricô, eu via de baixo e achava aquilo um emaranhado de fios coloridos, uma bagunça. Mas de cima, era lindo. A vida é assim. O que aconteceu me ajudou a reforçar minha fé. Somos eternos aprendizes, isto aqui é uma passagem... O que eu vou levar desta vida? O amor! A pandemia está fazendo a gente olhar do alto, compreender por que estamos aqui.
– O que podemos esperar do padre Marcelo para o futuro?
– Eu tenho vontade de fazer um programa de TV semanal para evangelizar os jovens e também escrever um livro sobre Santa Terezinha. Quero mostrar como uma menina de 24 anos que nunca saiu do mosteiro se tornou padroeira dos missionários. Sou devoto dela e não tem um lugar do mundo que não encontre algum tipo de devoção. Mas são coisas paralelas. Também vou divulgar mais o Batismo de Fogo quando pudermos voltar a nos encontrar. O
“O que me aconteceu ajudou a reforçar a minha fé.”