MUDANCAS PARA BORIS CASOY
PARA A INTERNET E GANHA INJEÇÃO DE JUVENTUDE
Aexperiência, a coragem e o amor pelo trabalho fizeram e continuam fazendo de Boris Casoy (79) um dos grandes nomes do jornalismo brasileiro. Ao todo, são mais de seis décadas dedicadas aos noticiários, passando pela rádio, jornais impressos e, por onde fez seu nome e prestígio, pelo telejornalismo. Atrás das bancadas, se tornou singular figura pública, não apenas por noticiar, mas também por opinar sobre temas polêmicos e eternizar bordões como “Isto é uma vergonha!” e “É preciso passar o Brasil a limpo!”. E ele não para! Cheio de disposição e vitalidade, o apresentador, que há pouco mais de um mês teve o contrato com a Redetv! encerrado, acaba de entrar pra valer na web e estrear no Youtube o Jornal do Boris. “É o início de um novo ciclo, uma espécie de elixir da juventude! Não quero parar porque tenho medo de enlouquecer. Para mim, parar é mortal. Trabalho desde os 15 anos, gosto do que faço e,
por mais que eu pense em fazer outras coisas, sempre estou na comunicação”, afirmou ele, em sua residência, em Alphaville, na Grande SP. Animado com a experiência virtual, Boris conta que a adaptação tem sido fácil. “É uma quase reinvenção, porque Jornalismo é Jornalismo em qualquer plataforma”, explicou. A exceção fica somente por conta
“É uma espécie de elixir da juventude. Parar, para mim, é algo mortal.”
do horário. “Preciso acordar às 6h da manhã. Isso, na verdade, não é acordar cedo: é um castigo! Acordava cedo na juventude e estou tentando resgatar isso”, diz ele, que entra ao vivo, direto de sua casa, de segunda a sexta, às 8h, e ainda tem o programa transmitido pelo Alpha Channel, canal a cabo de local da região onde reside.
A opinião forte e direta lhe rendeu uma imagem de austeridade diante das câmeras. Longe dos holofotes, no entanto, o bom humor prevalece. “Solto piadas, sou uma pessoa alegre e de bem com a vida”,
conta ele, que gosta de ler, ouvir música — das caipiras às clássicas —, tem um rádio ligado em cada cômodo da casa e não fica sem celular. “Vai que o mundo acaba e não fico sabendo”, brincou.
O humor e a leveza também se fazem presentes quando ele fala da vida pessoal. Boris não casou nem teve filhos. “Fiquei esperando, deixando para mais tarde e perdi a oportunidade, mas tive minhas compensações. Hoje, com quase 80 anos, é difícil encontrar alguém”, justificou ele, longe de ser uma pessoa sozinha. “Tenho muitos amigos, amizades que viraram minha família.”
– Como surgiu a ideia de migrar para a internet?
– É um projeto antigo. Quando fiz o contrato com a Redetv!, há quatro anos, eu já tinha tirado a exclusividade da internet. No fim
“Preciso acordar às 6h da manhã. Na verdade, isso é um castigo!”
da minha estada no canal, já avisei que iria começar. Comprei equipamentos, fui tateando e estou aprendendo. Pego diferentes jornais diários e faço uma análise sem vinculação política, pois vejo que, nos últimos tempos, por várias razões, a imprensa não está agindo de forma apartidária e independente.
– O jornalismo não está sendo imparcial?
– O jornalismo tem a característica de ser portavoz da democracia, mas em ra- zão da radicalização política, com veículos que apoiam o governo e outros que são de oposição, há uma poluição na independência da imprensa, que se agrava com a crise econômica. Não há independência jornalística sem independência econômica e a imprensa tem sofrido com a crise. É um momento muito obscuro, sem liberdade.
– Diante desse cenário, vê esperança para o País?
– O Brasil é um País grande e com grandes problemas! Temos território, uma população gigantesca, terras agricultáveis, florestas imensas, uma elite científica, recursos energéticos, ou seja, tem tudo para se desenvolver e distribuir renda. A base disso tudo é a educação e, se um dia o Brasil tivesse a desgraça de eu ser o seu presidente, meu discurso seria “Educação, educação, educação e educação”.
– O gesto de dar uma banana foi algo que você personalizou. Hoje, para quem daria banana?
– Não tenho resposta para isso. Dar uma banana custa caro. Meu jornal segue a linha opinião, do jeito que eu gosto, mas sei que em alguns momentos isso me custou caro, como quando perdi meu emprego na Record por conta da
“Um dos grandes prazeres desse jornal é ter liberdade completa de opinião.”
pressão política. Hoje, sou dono do meu nariz e faço o que eu quero sem pressões. Um dos grandes prazeres desse novo jornal é ter liberdade completa de opinião.
– Como define essa nova fase? – Transição! Estou fechando um ciclo e começando outro. Eu já fiz de tudo um pouco no jornalismo e me orgulho disso. Eu me sinto ascendendo e sei que posso fazer isso, porque consegui ter independência econômica e política com meu trabalho. Hoje, não preciso de um salário para sobreviver. É uma fase de total liberdade em todos os aspectos e estou muito feliz com isso que está acontecendo.
– Como é estar do outro lado: sendo o entrevistado?
– Eu mergulho e me submeto! Depois leio o que escreveram para ver se não distorceram as coisas que eu disse! (risos)
– Se acostumou com o fato de você também ser notícia?
– Com o tempo, passei a lidar melhor com a notoriedade. Sei que preciso ter paciência para conversar com as pessoas, assumi que precisa ser assim. O que tem sido constante é me pararem para falar coisas como “minha falecida avó era sua fã”, é gozado, mas não é algo agradável de ouvir!
– Onde acha a vitalidade?
– Eu me cuido, faço exercícios e tiro a disposição dos desafios. O desafio me move, me provoca curiosidade. Se você tem a mente enfraquecida, o corpo sofre. Se você não cuida do corpo, a mente sofre. Um ajuda o outro. Tenho um personal, que na pandemia tem dado as aulas a distância. Ou você se cuida ou você morre e, como eu não tenho tempo para morrer, resolvi fazer ginástica. O
“Como não tenho tempo para morrer, resolvi fazer ginástcia e me cuidar.”