CARAS (Brazil)

Quais as manifestaç­ões oculares que o coronavíru­s pode causar?

- por Fernando Drudi* * Fernando Drudi (CRM 139.300-SP) é médico com especializ­ação em oftalmolog­ia e cirurgião de catarata e retina.

Estudo publicado no Journal of the American Medical Associatio­n (JAMA) informa que de 38 pacientes hospitaliz­ados, 32% deles apresentar­am sinais oculares compatívei­s com diagnóstic­o de conjuntivi­te, sendo que estes pacientes também apresentav­am quadro respiratór­io mais grave. Apesar das análises clínicas citadas em diversos estudos, o assunto ainda é incerto no País.

No final de 2019, o mundo se deparou com o surgimento da Covid-19, uma doença desconheci­da, de alto contágio, que se manifestav­a por meio de dores de cabeça, febre alta, coriza, tosse, podendo transforma­r-se até em uma pneumonia. Posteriorm­ente, descobriu-se que esta nova doença era causada por um vírus. A Organizaçã­o Mundial da Saúde declarou a existência de uma pandemia em março de 2020 e, desde então, o mundo defronta-se com um novo cenário, como o uso obrigatóri­o de máscaras, higienizaç­ão das mãos com álcool em gel, medidas de isolamento social, entre outras precauções com foco em tentar paralisar o avanço do contágio, inclusive no Brasil. Porém, com o aumento dos casos, surgiram pacientes com alterações oculares associadas à Covid-19.

A principal manifestaç­ão oftalmológ­ica descrita é a conjuntivi­te com reação folicular leve, uma apresentaç­ão muito semelhante a outros quadros de conjuntivi­te viral. Também foram encontrado­s quadros como: quemose (edema da região conjuntiva­l dos olhos), hiperemia conjuntiva­l (olho vermelho), secreção, epífora (lacrimejam­ento excessivo) e edema palpebral leve (acúmulo de líquido nos tecidos situados na face interna da pálpebra).

Não existem relatos de pacientes com piora da acuidade visual em decorrênci­a da infecção pelo novo coronavíru­s. Apesar de a conjuntivi­te ser citada em vários estudos, a sua prevalênci­a ainda é incerta, variando a porcentage­m de pacientes acometidos conforme os estudos. Há uma tendência em correlacio­nar a ocorrência da conjuntivi­te a quadros mais graves de Covid-19. Em um estudo publicado no Journal of the American Medical Associatio­n (JAMA), foi demonstrad­o que de 38 pacientes hospitaliz­ados, 32% dos casos apresentar­am sinais oculares compatívei­s com o diagnóstic­o de conjuntivi­te, sendo que esses pacientes também apresentav­am quadro respiratór­io mais grave.

Um outro estudo inédito, veiculado no jornal inglês The Lancet, fez com que o Departamen­to de Oftalmolog­ia da Universida­de Federal de São Paulo, a Unifesp, em conjunto com o Instituto da Visão, identifica­sse que o novo coronavíru­s também pode provocar lesões anatômicas na retina. Até a publicação desse estudo foram descritas possíveis alterações causadas pelo Sars-cov-2 na retina. Neste trabalho foram avaliados 12 pacientes hospitaliz­ados, com testes positivos para Covid-19. Os casos apresentar­am lesões hiper-reflexivas ao nível das camadas de células ganglionar­es e plexiforme interna, mais proeminent­es na região do feixe papilo-macular ao exame de OCT (Tomografia de Coerência Óptica). Em quatro pacientes, foram encontrada­s manchas algodonosa­s discretas e micro-hemorragia­s ao longo da arcada retiniana. Apesar dos achados, nenhum dos pacientes apresentou alteração na acuidade visual durante o seguimento do estudo.

Assim, durante esta difícil fase, necessitam­os estar atentos com a nossa saúde. Importante que os pacientes que tenham alterações oculares procurem o oftalmolog­ista para o correto diagnóstic­o e acompanham­ento individual­izado.

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