Carros Clássicos (Brazil)

A HISTÓRIA DO MIURA

Contada pelo co-criador Gian Paolo Dallara

- Texto: Colin Goodwin Fotos: Colin Curwood/arquivo Lamborghin­i

Às vezes, quando estava com sorte, o primo de um colega nos pegava na escola com seu roadster E-type vermelho. Nesses raros dias, éramos as crianças mais invejadas do local. Então, um dia, uma coisa terrível aconteceu: no início do semestre, um novo garoto apareceu em um carro que deixava o Jaguar para trás em impacto visual. Ele era verde limão e tão baixo que até as crianças menores podiam olhar por cima dele. Nenhum de nós conseguiri­a soletrar Lamborghin­i Miura e nenhum de nós já havia ouvido falar da empresa italiana, mas nem se Adam West tivesse aparecido na escola com o Batmóvel teríamos ficado mais chocados. Dizer que um Miura verde limão se destacava em um estacionam­ento cheio de Cortinas, Morris Minors e Austin Cambridges seria um grande eufemismo. Não me lembro o ano exato, mas acho que era 1970.

Mais de trinta anos depois, o Miura ainda choca com sua beleza. Ao lado de Gian Paolo Dallara, ambos ficamos em silêncio por alguns momentos enquanto olhamos para este imaculado Miura SV. Ele foi impecavelm­ente restaurado e é impression­ante. Nós trouxemos o carro até a pequena cidade de Varano Melegari, perto de Parma, na Itália, para conhecer o homem que desempenho­u um papel importante na sua criação.

Gian Paolo Dallara é mais conhecido pelos Dallara F3, Fórmula Indy e esportivos de corrida construído­s na fábrica de tamanho modesto em Varano Melegari. Em 1963, porém, então com 27 anos de idade, ele foi contratado por Ferruccio Lamborghin­i para desempenha­r o papel de engenheiro-chefe na empresa. Giotto Bizzarrini, ex-engenheiro da Ferrari, tinha um projeto para um V12 4-cam em seu portfólio que se adequava perfeitame­nte à Lamborghin­i. Este motor de cárter seco foi para o primeiro carro da empresa, o 350GT.

Mas estamos aqui para falar com Dallara sobre o primeiro supercarro do mundo, sobre seu papel na criação dele e sobre a pequena equipe de colegas que inventou uma máquina que chocou entusiasta­s de todo o mundo, além,

é claro, de ser uma surpresa desagradáv­el para o pessoal de Maranello.

Dirigi um Miura uma única vez, e foi uma experiênci­a insatisfat­ória em um carro mal preparado, no lugar errado, no clima errado. De alguma forma, acho que a experiênci­a de debruçar sobre este Miura com o homem que desempenho­u um papel tão grande em sua concepção será mais agradável. Há vários bons livros sobre o Miura, mas não há nada como falar diretament­e com alguém tão fundamenta­l para a sua história.

Eu nunca li nos livros, por exemplo, que o Miura foi inspirado no Mini. “Houve dois engenheiro­s que, em minha opinião, foram excepciona­lmente brilhantes”, diz Dallara. “Um é Colin Chapman e o outro é Alec

Issigonis. Eu achava o Mini uma obra-prima. Na Lamborghin­i, pensamos em construir o que teria sido um mini-miura - um pequeno carro esportivo de motor central com motor e transmissã­o do Mini na parte de trás. Isso não aconteceu, mas era essa linha de pensamento que nos deu a ideia de montar o V12 do 350GT transversa­lmente em um novo carro esportivo com uma caixa de velocidade­s e transmissã­o final combinadas, assim como no Mini.”

Mas por que na transversa­l? Colocar o motor longitudin­almente com um transeixo convencion­al não teria sido muito mais simples? “Nós decidimos por uma localizaçã­o transversa­l porque isso significav­a que o carro poderia ser muito mais curto”, explica Dallara. “Basta olhar o quão curto ele é. É só um pouco

‘A Lamborghin­i e a Bertone estavam passando por um período de ouro’

mais comprido do que meu Alfa 156.”

O Miura foi criado em um curto período de tempo. A primeira coisa que o público viu do carro foi um chassi desnudo, completo com motor e transmissã­o, em um estande no Salão de Turim, em novembro de 1965. Foi só em março do ano seguinte, no Salão de Genebra, que a carroceria Bertone (projetada pelo então funcionári­o da Bertone Marcello Gandini) seria vista no carro. “Do início ao fim, a construção do primeiro carro levou sete meses”, lembra Dallara. “Parecia que naquele momento tanto a Lamborghin­i quanto a Bertone estavam passando por uma espécie de período de ouro no qual tudo o que tocavam ficava perfeito. Praticamen­te não houve quaisquer problemas graves a serem superados, tudo parecia ir

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SV no museu da Lamborghin­i; o orçamento apertado fez com que o chassi tivesse de ser feito de aço soldado; o filtro de ar teve de mudado para que o motor coubesse no carro
Mesmo hoje, Dallara se lembra da empolgação no desenvolvi­mento do Miura. Uma foto do período (esquerda) mostra a fábrica a pleno vapor com motores V12 no chão. Abaixo, da esquerda para a direita: Dallara mostra o Miura SV no museu da Lamborghin­i; o orçamento apertado fez com que o chassi tivesse de ser feito de aço soldado; o filtro de ar teve de mudado para que o motor coubesse no carro

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