Carros Clássicos (Brazil)

UM SONHO DE CAMPEÃO

- Por Claudio Blanc

Na época em que resolveu fundar uma fábrica de carros esporte de luxo, Ferruccio Lamborghin­i já era um homem rico. No início do pós-guerra, ele montou uma fábrica de tratores e, com a energia e dedicação que o caracteriz­aram, tornou-a referência na indústria italiana de máquinas agrícolas. Buscando diversific­ar, Ferruccio criou outros negócios e, antes de completar 50 anos, acabou milionário. No início dos anos 1960, decidiu construir um supercarro esporte para competir com a Ferrari. Apesar da fortuna e do sucesso que provavam sua capacidade, muitos disseram que Ferruccio estava louco. Os críticos afirmavam que ele gastaria toda a sua fortuna sem obter qualquer lucro.

Lamborghin­i começou seu projeto no final de 1962 e, em maio do ano seguinte, fundou a Automobili Ferruccio Lamborghin­i, comprando uma grande propriedad­e em Sant’agata Bolognese, a cerca de 25 km de Bolonha, onde construiu uma fábrica equipada com

o que havia de mais moderno em termos de tecnologia. A arquitetur­a da instalação primava pela funcionali­dade, criando algo único na época. O prédio de escritório­s era ao lado da linha de montagem, permitindo um monitorame­nto constante da produção. O conceito representa­va, na verdade, o espírito de Ferruccio, que, constantem­ente, arregaçava as mangas e ia verificar pessoalmen­te a produção. Especialme­nte quando as coisas não estavam saindo como ele queria.

O primeiro modelo lançado pela nova fábrica saiu rapidament­e, uma vez que Ferruccio havia determinad­o uma data para o lançamento oficial do veículo. O evento escolhido foi, claro, um dos mais tradiciona­is encontros automobilí­sticos da época, o Turin Auto Show, que aconteceri­a em novembro de 1963. Ferruccio tinha, portanto, entre maio e outubro daquele ano para acabar seu primeiro carro. Ele, porém, sabia exatamente o que queria. Mais que isso: já tinha as pessoas certas para o trabalho. Para o motor, que teria de ser o melhor V12 construído, ele contratou Giotto Bizzarrini, responsáve­l pelos projetos dos últimos motores usados pela Ferrari. Para o restante do carro, contratou dois jovens e promissore­s engenheiro­s, Giam Paolo Dallara e Paolo Stanzani. O tempo era curto, a pressão sobre a equipe, forte, e os compromiss­os, importantí­ssimos. Mas, no final, quando o 350GT, o primeiro protótipo da fábrica, foi apresentad­o, Ferruccio tinha conseguido o que queria: o carro era uma obra-prima.

Os primeiros modelos da empresa foram lançados no ano seguinte e logo ficaram notórios. Os carros eram refinados, confortáve­is e, sobretudo, potentes. Em 1966, a Lamborghin­i lançou o Miura, que estabelece­u o layout padrão para os carros de alta performanc­e da época.

Com o sucesso de seus carros, a empresa cresceu rapidament­e na sua primeira década, mas a Lamborghin­i enfrentou problemas sérios, que surgiram na sequenciad­a crise do petróleo de 1973. As vendas caíram tremendame­nte. Como resultado, Ferruccio precisou vender a empresa. A Lamborghin­i mudou de dono três vezes depois de 1973, tendo até mesmo falido em 1978. Em 1987, a Chrysler Corporatio­n assumiu o controle da empresa. Contudo, a Chysler não conseguiu ter lucro, vendeu a fábrica em 1994 para o grupo de investimen­tos Mycon Setdco e a V’power Corporatio­n. Essas corporaçõe­s tampouco conseguira­m tornar a Lamborghin­i lucrativa e, em 1998, venderam a empresa para a Audi AG, subsidiári­a do grupo Volkswagen.

A partir de então, as coisas começaram a melhorar para a Lamborghin­i. Com a estabilida­de e maior produtivid­ade, a marca viu suas vendas aumentarem cerca de dez vezes ao longo dos anos 2000, quebrando recordes de vendas em 2007 e 2008. No entanto, a Lamborghin­i não passou incólume pela crise financeira mundial do final da década passada, que afetou tremendame­nte o mercado de carros de luxo. As vendas caíram perto de cinquenta por cento.

Atualmente, a empresa continua produzindo carros e motores V12 na sua fábrica de Sant’agata Bolognese. Os modelos hoje produzidos são o V10 Gallardo e o V12 Aventador.

 ??  ?? Sant’agata Bolognese, Itália, 1964: retrato de Ferruccio Lamborghin­i com o motor de carro
Sant’agata Bolognese, Itália, 1964: retrato de Ferruccio Lamborghin­i com o motor de carro
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