Carros Clássicos (Brazil)

FORD CUPÊ 1940

Tão belo quanto raro, o Ford De Luxe 1940 deixou de ser item de coleção para se transforma­r em um charmoso e irado hot

- Texto: Rogério Ferraresi / Fotos: Saulo Mazzoni

Speed Business

Alguns modelos americanos da primeira metade do século passado, embora comuns em seu país de origem, são objetos raros no Brasil. Por isso mesmo, acabam sendo bastante disputados por nossos colecionad­ores. Modelos Ford do começo da década de 1940 são um bom exemplo disso e, por esta razão, dificilmen­te são convertido­s em hots, especialme­nte se forem conversíve­is ou cupês, de duas portas.

Por uma série de motivos, que vão desde a desvaloriz­ação da moeda brasileira em relação ao dólar, até o início da 2ª Guerra Mundial, os veículos desta época foram importados em quantidade­s reduzidas. Além disso, muitos modelos de duas portas foram transforma­dos em carreteras, uma categoria de carros “Turismo”. Quando esta deixou de existir, a maioria deles acabou seus dias em depósitos de sucata, apesar de se encontrar alguns ainda em perfeito estado.

Felizmente, sempre existem exceções. Um bom exemplo disso é o Ford De Luxe Business do empresário Ezio Caetano de Barros, de São Bernardo do Campo (Grande SP), que adquiriu o carro já transforma­do em hot e nem se preocupou em fazer qualquer adaptação ou modificaçã­o na mecânica. Mesmo assim, o veículo se mostra bastante atual, veloz e confortáve­l.

VENENO LEVE

O antigo dono substituiu o velho motor Flathead pelo também V8, mas de 302 pol³, que nas décadas de 1970 e 1980 foi importado dos EUA para equipar os modelos das linhas Maverick e Landau. Com bloco e cabeçotes de ferro fundido, comando de válvulas no bloco acionado por corrente, virabrequi­m de cinco mancais, este motor recebeu algumas modificaçõ­es para ficar mais “esperto” no hot.

Os cabeçotes foram retrabalha­dos e também receberam balancins roletados, além de comando de válvulas Edelbrock, com 296 graus de duração. O carburador original, Motorcraft de corpo duplo, foi substituíd­o por um quadrijet Holley, enquanto os coletores de escapament­o originais foram substituíd­os por um par de 4x1. Com esta receita de “veneno”, Ezio acredita que o motor desenvolva atualmente cerca de 215 cv (potência líquida), 80 cv a mais do que a potência líquida do motor original do Maverick GT — 135 cv, embora a Ford só divulgasse a potência bruta (197 cv), nos anos setenta.

Na época em que o hot foi montado, fim dos anos 80, ainda não existia no mercado brasileiro o câmbio de cinco marchas para o motor 302 V8, que só se populariza­riam na década de 1990, quando os Ford Mustang voltaram a ser importados. Assim, a solução foi utilizar o caixa de quatro velocidade­s do Maverick V8, com relações de 2,92, 2,03, 1,42 e 1,00:1. A alavanca de acionament­o fica no assoalho, com trambulado­r de pick-up F-100.

SUSPENSÃO CHEVROLET

Os modelos Ford, no começo da década de 1940, ainda utilizavam molas semi-elípticas em ambos os eixos rígidos, configuraç­ão inadequada para qualquer carro do qual se pretenda elevado desempenho.

Assim, para substituir a suspensão dianteira, o construtor do hot optou pela do Opala Diplomata que, independen­te, é composta por braço triangular superior e simples inferior com tensor, mola helicoidal, amortecedo­res hidráulico­s e barra estabiliza­dora.

A suspensão do Diplomata também foi usada na traseira, com mola helicoidal, tensor longitudin­al, barra Panhard, amortecedo­r hidráulico e barra estabiliza­dora, mas devidament­e adaptada ao eixo traseiro do Maverick V8, o que possibilit­ou usar a relação de diferencia­l deste modelo: 3,07;1. Como os freios do Ford deixavam a desejar, adaptou-se o conjunto servoassis­tido do Diplomata

1991, com discos ventilados na dianteira e simples na traseira.

Quando Ezio comprou o Business, ele veio com um jogo de rodas de liga leve tipo estrela, as quais, originalme­nte, equipavam o Puma GTB S2. O conjunto, apesar de adequado ao esportivo brasileiro, não “casava” com as linhas arredondad­as do Ford, e logo foi substituíd­os por quatro modelos Centerline vindos dos EUA e “calçados” com pneus Fastgoma 185/50-15 e Cooper Cobra 265/50-15.

HOMENAGEM CURIOSA

O interior do carro, revestido em tecido cinza, ainda não sofreu alterações, mas deve ser modificado em breve. Atualmente, o Business está equipado com os bancos dianteiros do Opala Diplomata, mas ancorados em uma plataforma metálica de vinte centímetro­s. O volante de quatro raios, assim como a coluna de direção, é o mesmo do Corcel II. Mas o atual proprietár­io do carro pretende dar um toque mais esportivo, com volante de desenho mais adequado.

O painel do hot é praticamen­te original, embora o velocímetr­o, graduado até 200 km/h, tenha sofrido alterações internas para garantir uma melhor leitura devido à utilização da nova mecânica. Um fato curioso: no velocímetr­o também está gravado o nome “Luís Felipe”, uma homenagem do construtor a seu então futuro filho – já que sua esposa engravidou durante a montagem do carro.

Os demais instrument­os, típicos dos Ford da década de 1940, são o marcador do nível de combustíve­l, termômetro de água, manômetro de óleo e voltímetro. O relógio, curiosamen­te, se encontra instalado na tampa do porta-luvas, em frente ao banco do passageiro. Mas isso não é problema, já que dirigi-lo é algo tão agradável que o motorista dificilmen­te vai se preocupar com o tempo.

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Tanto as rodas como o motor Ford 302 V8 têm origem americana
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Raros no Brasil, os Ford com carroceria Business são muito procurados por colecionad­ores
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O painel do hot segue o desenho original do Ford, mas tem novos instrument­os, devido à utilização do motor 302
Confortáve­is, os bancos dianteiros são do Opala Diplomata O painel do hot segue o desenho original do Ford, mas tem novos instrument­os, devido à utilização do motor 302
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Os cupês americanos de duas portas, das décadas de 30 e 40, foram utilizados também nas corridas de Carreteras

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