FORD CUPÊ 1940
Tão belo quanto raro, o Ford De Luxe 1940 deixou de ser item de coleção para se transformar em um charmoso e irado hot
Speed Business
Alguns modelos americanos da primeira metade do século passado, embora comuns em seu país de origem, são objetos raros no Brasil. Por isso mesmo, acabam sendo bastante disputados por nossos colecionadores. Modelos Ford do começo da década de 1940 são um bom exemplo disso e, por esta razão, dificilmente são convertidos em hots, especialmente se forem conversíveis ou cupês, de duas portas.
Por uma série de motivos, que vão desde a desvalorização da moeda brasileira em relação ao dólar, até o início da 2ª Guerra Mundial, os veículos desta época foram importados em quantidades reduzidas. Além disso, muitos modelos de duas portas foram transformados em carreteras, uma categoria de carros “Turismo”. Quando esta deixou de existir, a maioria deles acabou seus dias em depósitos de sucata, apesar de se encontrar alguns ainda em perfeito estado.
Felizmente, sempre existem exceções. Um bom exemplo disso é o Ford De Luxe Business do empresário Ezio Caetano de Barros, de São Bernardo do Campo (Grande SP), que adquiriu o carro já transformado em hot e nem se preocupou em fazer qualquer adaptação ou modificação na mecânica. Mesmo assim, o veículo se mostra bastante atual, veloz e confortável.
VENENO LEVE
O antigo dono substituiu o velho motor Flathead pelo também V8, mas de 302 pol³, que nas décadas de 1970 e 1980 foi importado dos EUA para equipar os modelos das linhas Maverick e Landau. Com bloco e cabeçotes de ferro fundido, comando de válvulas no bloco acionado por corrente, virabrequim de cinco mancais, este motor recebeu algumas modificações para ficar mais “esperto” no hot.
Os cabeçotes foram retrabalhados e também receberam balancins roletados, além de comando de válvulas Edelbrock, com 296 graus de duração. O carburador original, Motorcraft de corpo duplo, foi substituído por um quadrijet Holley, enquanto os coletores de escapamento originais foram substituídos por um par de 4x1. Com esta receita de “veneno”, Ezio acredita que o motor desenvolva atualmente cerca de 215 cv (potência líquida), 80 cv a mais do que a potência líquida do motor original do Maverick GT — 135 cv, embora a Ford só divulgasse a potência bruta (197 cv), nos anos setenta.
Na época em que o hot foi montado, fim dos anos 80, ainda não existia no mercado brasileiro o câmbio de cinco marchas para o motor 302 V8, que só se popularizariam na década de 1990, quando os Ford Mustang voltaram a ser importados. Assim, a solução foi utilizar o caixa de quatro velocidades do Maverick V8, com relações de 2,92, 2,03, 1,42 e 1,00:1. A alavanca de acionamento fica no assoalho, com trambulador de pick-up F-100.
SUSPENSÃO CHEVROLET
Os modelos Ford, no começo da década de 1940, ainda utilizavam molas semi-elípticas em ambos os eixos rígidos, configuração inadequada para qualquer carro do qual se pretenda elevado desempenho.
Assim, para substituir a suspensão dianteira, o construtor do hot optou pela do Opala Diplomata que, independente, é composta por braço triangular superior e simples inferior com tensor, mola helicoidal, amortecedores hidráulicos e barra estabilizadora.
A suspensão do Diplomata também foi usada na traseira, com mola helicoidal, tensor longitudinal, barra Panhard, amortecedor hidráulico e barra estabilizadora, mas devidamente adaptada ao eixo traseiro do Maverick V8, o que possibilitou usar a relação de diferencial deste modelo: 3,07;1. Como os freios do Ford deixavam a desejar, adaptou-se o conjunto servoassistido do Diplomata
1991, com discos ventilados na dianteira e simples na traseira.
Quando Ezio comprou o Business, ele veio com um jogo de rodas de liga leve tipo estrela, as quais, originalmente, equipavam o Puma GTB S2. O conjunto, apesar de adequado ao esportivo brasileiro, não “casava” com as linhas arredondadas do Ford, e logo foi substituídos por quatro modelos Centerline vindos dos EUA e “calçados” com pneus Fastgoma 185/50-15 e Cooper Cobra 265/50-15.
HOMENAGEM CURIOSA
O interior do carro, revestido em tecido cinza, ainda não sofreu alterações, mas deve ser modificado em breve. Atualmente, o Business está equipado com os bancos dianteiros do Opala Diplomata, mas ancorados em uma plataforma metálica de vinte centímetros. O volante de quatro raios, assim como a coluna de direção, é o mesmo do Corcel II. Mas o atual proprietário do carro pretende dar um toque mais esportivo, com volante de desenho mais adequado.
O painel do hot é praticamente original, embora o velocímetro, graduado até 200 km/h, tenha sofrido alterações internas para garantir uma melhor leitura devido à utilização da nova mecânica. Um fato curioso: no velocímetro também está gravado o nome “Luís Felipe”, uma homenagem do construtor a seu então futuro filho – já que sua esposa engravidou durante a montagem do carro.
Os demais instrumentos, típicos dos Ford da década de 1940, são o marcador do nível de combustível, termômetro de água, manômetro de óleo e voltímetro. O relógio, curiosamente, se encontra instalado na tampa do porta-luvas, em frente ao banco do passageiro. Mas isso não é problema, já que dirigi-lo é algo tão agradável que o motorista dificilmente vai se preocupar com o tempo.