OS ANOS 1960 EXIGIRAM O CAMARO
Foram impactantes, românticos, nervosos, conturbados e criativos os anos 1960, a década que viu nascer o Camaro. Logo no comecinho daqueles anos, quatro jovens ingleses de Liverpool lançaram seu primeiro compacto com as músicas “Love Me Do” e “P.S. I Love You”. Era outubro de 1962 e os Beatles começavam a revolucionar o mundo da música, tal qual como Elvis Presley havia impactado o comportamento social da humanidade pouco antes. Um ano antes dos Beatles, Yuri Gagarin havia se tornado o primeiro homem a viajar no espaço. Poucos meses depois, começou a construção do Muro de Berlim, dividindo a Alemanha em duas nações. Em novembro de 1963, o mundo foi sacudido com a notícia do assassinato do presidente norte-americano John Kennedy. A “Primavera de Praga” e o “Maio de 1968” de Paris levaram o povo às ruas. A minissaia, lançada pela estilista Mary Quant, fez furor na moda. E em 20 de julho de 1969, o Homem pisou na Lua. Pois foi nesse contexto inovador e revolucionário que a GM lançou o Chevrolet Camaro, carro que chegou para revolucionar e dar novo significado ao conceito de automóveis nos Estados Unidos e no mundo. Aqueles anos 1960 foram também muito românticos. Hollywood com sua interminável indústria do cinema abarrotava o mundo com filmes doces, coloridos, de jovens bem sucedidos que desfilavam em seus carrões. Era essa a cultura de carros da época. Os Cadillac com seus “rabos de peixe” imensos, espaçosos, confortáveis. A GM tinha em sua linha os 150/210/Bel Air, com pinturas em duas cores (“saia e blusa”), que, fabricados em 1955 e 1957, evoluíram para os Impala e Chevelle da década seguinte. Assim como o bacon, os ovos mexidos, o hot dog, a camisa xadrez
de flanela e a Coca-cola, o carrão fazia parte do “American Way of Life”, o sonhado “modo de vida americano”. E foi dessa mistura de sonhos que surgiu o Camaro. Em 1964, a Ford surpreendeu o mundo automotivo com o lançamento do Mustang, o primeiro “pony car”, carro esportivo, pequeno para os padrões norte-americanos, de linhas esportivas, preço baixo e longa lista de itens de personalização. Em seu primeiro ano, as vendas do novo carro surpreenderam. Segundo os historiadores americanos especializados em automóveis, esse tipo de carro já estava em discussão interna nas montadoras desde a segunda metade dos anos 1950. E quando a Ford lançou seu modelo, segundo esses mesmos analistas, o fez para tentar combater o revolucionário Chevrolet Corvair que a GM acabara de lançar. Era preciso, imediatamente, dar uma resposta ao concorrente. A GM nomeou seu diretor do Centro de Design, Henry C. Haga, para comandar o projeto, que deveria incomodar o “inimigo” com a maior urgência possível. Haga chamou para trabalhar a equipe responsável pelo projeto do Corvair – que era um carro com conceitos revolucionários para a época (motor traseiro e arrefecido a ar, por exemplo) – e também a equipe dos Chevy II e os criadores do Corvette, que tinham seu trabalho aclamado no mundo do automóvel. Era preciso imprimir ao projeto a mesma velocidade que se esperava do carro nas ruas e estradas. Assim, foram simplesmente ignorados os protótipos que não fossem do coupê e do conversível, como os possíveis modelos de dois lugares (roadster), fastback e ainda uma wagon. A ordem era colocar o Camaro na rua o mais rápido possível.
Claro que “o mais rápido possível” não podia, nem de longe, trazer alguma imperfeição. Assim, o conceito de velocidade no projeto era relativo, pois não existia a possibilidade de comprometer a qualidade. O Camaro chegou para ser também “muscle car” (conceito de carro simples, despojado, com motor de grande cilindrada e desempenho de tirar o fôlego), ou seja, um passo à frente do “pony car”. No dia 29 de setembro de 1966, o novo carro começou a ser vendido nos Estados Unidos, já como linha 1967. Foram oferecidas aos compradores oito opções de motor. Duas delas com seis cilindros em linha e todas as outras seis partiam de 3.8 e chegavam até 7.0 litros. Eram três diferentes versões: RS, SS e Z28, a mais esportiva de todas. A versão RS (Rally Sport) trazia faróis escamoteáveis, lanternas traseiras diferentes das demais, emblema exclusivo “RS” e largo friso cromado na caixa de ar. A versão SS trazia o clássico motor 350V8 (5.7 litros) com 212 cv, e o motor de 396V8 de 243 cv. O SS tinha tomada de ar no capô e emblema “SS” na grade. Nas “500 Milhas de Indianápolis” foi usado pela primeira vez um Camaro (versão SS) na função de pace car, o que vem se repetindo desde então. A versão Z28 foi apresentada em dezembro, dois meses após o lançamento oficial. Trazia freios dianteiros a disco, câmbio manual de quatro velocidades e motor 302V8. Combinando todas as versões, era possível chegar a 80 carros diferentes e ainda adicionar cerca de 40 acessórios, permitindo incontáveis maneiras de cada um personalizar o carro a seu gosto. A versão Super Sport (SS) não trazia apenas motores potentes, mas também acabamento especial, que incluía faixas decorativas, capô exclusivo, suspensão mais firme e rodas e pneus de maior largura. A produção da primeira geração se encerrou em 1969, com mais de 270 mil unidades vendidas. Um cuidado adotado
pelos projetistas nessa primeira geração foi aliviar o peso do carro e elevar as rotações do motor. Talvez aí tenha nascido um diferencial que acompanha o Camaro em toda a sua vida: o fantástico desempenho do motor V8. Segundo os especialistas, se o motor é o coração do carro, o “ronco” são suas batidas. E são batidas saudáveis, fortes, que impressionam, como deve ser um “muscle car” autêntico, que esbanja potência e bom desempenho.
O NOME
Como os pais fazem com seus filhos, foi preciso dar nome à criança. E assim foi com o novo Chevrolet. Foi elaborada uma lista com cerca de 2.000 opções, que descartou nomes como Panther, Pantera, Super Nova e outros que foram mencionados ou usados na fase de projeto. Mas se manteve a ideia de um nome que começasse com a letra “C”, como Chevrolet, Corvette, Corvair, Chevelle, Chevy etc. Técnicos, projetistas, marqueteiros, funcionários e diretores mergulharam nos dicionários à procura de um nome que fosse sugestivo e que começasse com a letra “C”. Até que alguém deparou com a palavra “Camaro”. Afinal, o que significa Camaro? Segundo um dos participantes da frenética busca, a palavra foi encontrada num antigo dicionário inglês-francês e significava “amigo”, “camarada”, “companheiro”. O assunto “nome” foi muito discutido e ocupou grande espaço na imprensa naquela época. Os concorrentes diziam nos bastidores para a imprensa que o real significado de Camaro era “pequeno camarão”... Claro que a GM não gostou, pois um pequeno camarão jamais poderia combater e vencer um Mustang, clássico avião da
Segunda Guerra, ou a raça de cavalos selvagens que andam em disparada pelos campos dos Estados Unidos. Foi então que alguém da área de imprensa da GM instigou os jornalistas no convite para o lançamento do carro, afirmando que “Camaro is a small, vicious animal that eats Mustangs” (“Camaro é um pequeno e cruel animal que come Mustangs”). Em 1971, o escritor inglês Arthur Hailey, que morou no Canadá e nos Estados Unidos, ex-piloto da Força Aérea Britânica na Segunda Guerra, lançou o Livro “Automóvel”, apresentado como o romance do grande personagem do século.
Hailey já havia escrito roteiros para televisão, e para criar seus livros, o escritor passava de oito a 12 meses pesquisando o assunto, vivendo nos locais. A segunda parte de construção da obra levava cerca de seis meses, isolado em um chalé que tinha no interior do Canadá.
Para “Automóvel”, viveu praticamente um ano junto às fábricas para entender o trabalho e a vida dos funcionários. E “Automóvel” praticamente retrata a criação e lançamento do Camaro.