Luiz Carlos Diniz
O VERDE DA PAISAGEM SERRANA PINTA AS PAREDES DE VIDRO, DEIXANDO A ARQUITETURA DIFERENCIADA AINDA MAIS INTEGRADA AO ENTORNO
A busca por novas formas na arquitetura e o respeito à natureza são partes fundamentais do trabalho do arquiteto Luiz Carlos Diniz, de Itaipava, RJ. Para o projeto dessa residência, não foi diferente. Ao analisar o terreno, naturalmente acidentado, o profissional buscou entender as propostas e perceber as soluções. Ao invés de adequar o lote às idéias para um projeto, ele optou por aceitar o desafio da natureza e adaptar a casa ao espaço. “Nos meus trabalhos, procuro explorar a natureza, convidando-a a participar da arquitetura”, afirma Diniz, que contou com uma equipe formada pela arquiteta Pérola Akerman e pelo cenógrafo Marco Antônio Rocha, que trabalha na área de desenho e desenvolvimento de projetos.
Cercada por uma paisagem natural exuberante, a casa aproveita a vista da serra e, ao mesmo tempo, não interfere nela. “A idéia é criar formas novas que se encaixem no meio ambiente e, ao mesmo tempo, ganhem vida através dele”, defende Diniz. Como a construção fica em um local isolado, num lote de 6 mil m2 cercado por um reserva florestal particular, foi possível criar muitos espaços com vidro, abrindo-os para a paisagem sem comprometer a privacidade dos moradores. 53
Quem olha a casa de frente percebe que quase não há alvenaria. As paredes dão lugar a grandes panos de vidro e acima das esquadrias foram instaladas bandeiras, também com vidro, dando mais amplitude à vista do exterior. Elemento importante para garantir a filosofia de trabalho do arquiteto, a madeira está presente nas estruturas, esquadrias, deques, escada, telhados e alguns acabamentos. A construção é inteiramente estruturada em eucalipto autoclavado de reflorestamento em madeira roliça, que fica aparente, realçando e complementando a relação com a natureza. “O lado de dentro e o lado de fora se relacionam a partir dos materiais usados, das transparências e da convivência integrada”, justifica o arquiteto.
Para deixar o interior com uma superfície nivelada sem ter de mexer no terreno, Diniz optou pelo uso de pilotis, que elevam a casa do solo. “Os pilares de madeira se apóiam sobre uma sapata de concreto”, conta. Na construção, as lajes são pré-moldadas em concreto e as paredes, de alvenaria. “Assim, juntamos as vantagens do método construtivo em madeira e do tradicional. A união entre as toras estruturais e as lajes é feita com vergalhões de aço”, explica.
O telhado, com inclinação de 45%, é o grande responsável pela arquitetura diferenciada. Ele se projeta sobre parte dos deques, proporcionando sombreamento, mas sem interferir na iluminação dos ambientes internos. A cobertura com taubilhas, telhas artesanais de madeira, garante durabilidade, além de conforto térmico e acústico. Internamente, o teto acompanha a inclinação do telhado, com vigas de sustentação e caibros aparentes.
ESPAÇOS INTERNOS
A distribuição dos cômodos priorizou o conforto dos moradores e foi trabalhada juntamente com o formato do projeto. A ala íntima é formada por três suítes, sendo a principal localizada no piso superior. O social reúne salas de jantar e estar com lareira, que têm a comunicação favorecida pela arquitetura, que integra os ambientes e proporciona o convívio dos moradores. A escada que une os pavimentos tem estrutura de eucalipto, a mesma utilizada em toda a arquitetura, degraus dessa madeira serrada e corrimão com madeira roliça de diâmetro menor.
Para garantir o conforto térmico, já que a casa está na região serrana que tem clima frio, os dois pavimentos ganharam lareiras.
As varandas com grandes deques se integram ao interior através de portas de correr com vidro. Parcialmente cobertas pela projeção dos beirais dos telhados, elas possuem grandes deques para que os moradores e seus convidados possam sentar-se e apreciar a vista da serra. O guarda-corpo estruturado em eucalipto, além de ser funcional, contribui com a arquitetura, emprestando charme através de pranchões de madeira serrada, que servem de apoio.
A decoração foi idealizada pela cliente, proprietária da loja Arte Nativa, também de Itaipava, RJ, em parceria com Diniz. De lá foram trazidos os principais móveis e artigos decorativos. Destaque para o mobiliário feito com madeira de demolição, preferida pela estética e por ser ecologicamente correta.
PROJETO: LUIZ CARLOS DINIZ, PÉROLA AKERMAN E MARCO ANTÔNIO ROCHA ÁREA CONSTRUÍDA: 240 M2 LOCALIZAÇÃO: ITAIPAVA, RJ
TEXTO Daniella Grinbergas FOTOS MCA Estúdio ILUSTRAÇÃO Cristiane Vicente