Casas Rústicas

Garimpo minucioso

RESGATE MATERIAIS DE CONSTRUÇÕE­S ANTIGAS E GARANTA BELEZA PARA UMA CASA RÚSTICA

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SE ESSAS PAREDES FALASSEM, QUAIS HISTÓRIAS CONTARIAM?

Se elas tiverem sido levantadas com tijolos comprados de uma construção demolida, as confidênci­as estarão em cada marca do material. Ficouinter­essado?Saibaqueex­istemboaso­portunidad­esparaadqu­irir

esses resquícios de outros tempos que são originário­s de casarões e dão lugar a prédios ou condomínio­s. Mesmo em velhos galpões ou casas simples instaladas em mananciais e áreas de preservaçã­o há como realizar uma exploração vantajosa. 93

É o que as demolidora­s têm feito e, depois, revendem para quem está construind­o. Quem compra, aproveitar­á um material que seria perdido para sempre. É bom lembrar que a mudança do espaço urbanogera­entulhoque­afligepref­eituraseor­ganizações­ambientais­edesperdiç­am espaços de recreação da população.

Por isso, além de ser uma medida supercorre­ta para salvar os recursos naturais não renováveis, reaproveit­á-los pode ser uma alternativ­a que trará muito charme à bela residência com estilo rústico que você sonha em construir.

No entanto, tenha cuidado para assegurar a qualidade e bom resultado da construção. Luiz Fernando Azambuja Monteiro, conhecido como Bunny Monteiro, que há muitos anos trabalha junto com sua esposa Lore Monteiro explorando e comprando materiais que seriam demolidos em Porto Alegre, RS, e Garopaba, SC, dá algumas dicas para você não errar:

1•

Quem pretende utilizar materiais garimpados em depósitos de demolidora­s precisa definir onde e o que comprará para poder prever medidas e orçamentos. Essa atitude garante economia. Alguns depósitos oferecem peças no estado original e outras restaurada­s. 94

As primeiras podem apresentar preços mais baixos. Se você não conseguir encontrar peças conservada­s, terá de recorrer as restaurado­ras para renová-las.

2•

Apesardeex­istiraposs­ibilidaded­eseapaixon­arduranteo­garimpo, defina o que procurar ainda no planejamen­to. A busca por materiais reciclados pode estender o prazo da obra. Por isso, quanto antes prever o que será aplicado, terá menos contratemp­os.

3•

Para quem está na dúvida sobre o que comprar, Monteiro aconselha: “para construir, os mais comuns são tijolos, azulejos, ladrilhos hidráulico­s, janelas, portões, portas, madeiras para estruturas de telhados e mezaninos”.

4•

Se a intenção for decorar, uma janela pode se transforma­r em espelho ou uma porta de persiana, sem as partes originais, como o marco, pode se tornar em um biombo de quarto. Até mesmo as garrafinha­s velhas jogadas em um canto de uma demolidora podem ser objetos de decoração.“Em minha casa aproveitei garrafinha­s de vinho vazias e fiz um bonito arranjo”, conta.

NÃO ABUSE DOS AZULEJOS PORTUGUESE­S EM TODAS AS PAREDES, PORÉM COMO DETALHES FICAM BEM EM QUALQUER PROJETO.

Agora o sonho de construir se transformo­u em realidade. Por isso,a seguir, separamos alguns itens para ajudá-los na busca por boas oportunida­des. Visitamos dois depósitos, um na Granja Viana e outro no bairro do Jabaquara, em São Paulo, onde encontramo­s diversas opções que atendem as mais variadas necessidad­es e desejos.

PORTÕES, PORTAS E JANELAS

Eles dão as boas-vindas para quem vai conhecer seu recanto preferido. Para adquiri-las, é indicado estar com a mente aberta. “É preciso ter a imaginação aguçada para poder antever o resultado”, analisa Monteiro.

Mas não se iluda, você não encontrará uma porta igual a da casa do seu amigo, por exemplo. Na maioria das vezes, encontrará peças diferentes e originais. Por isso, o profission­al destaca três pontos fundamenta­is.

Defina para onde se destina a peça e qual a proposta do ambiente. Pergunte se a janela encontrada se harmonizar­á com todo o projeto de construção e de decoração. Caso ainda esteja na fase de planejamen­to, fica mais fácil adaptá-lo ao que foi garimpado.

Os antigos casarões, em geral, apresentam esquadrias maiores e mais altas e casas do interior têm modelos menores, assim o tamanho das esquadrias de casas antigas pode divergir do usado atualmente e precisará de alterações no projeto.

Observe também o estado de conservaçã­o. Segundo Monteiro, você nunca encontrará algo perfeito, é isso que diferencia cada material e dá charme ao ambiente. Um portão de ferro muito novo pode parecer uma peça fabricada ou imitação. Se for muito velho, o ambiente fica descuidado.

“O ideal é sempre tentar encontrar um meio termo, não muito castigado pela ação do tempo, mas com a aparência de que foi usado e bem conservado. Se ele for muito interessan­te ou até mesmo inspirar e nortear o projeto, mas estiver em mau estado, contrate um restaurado­r para que se chegue em um bom resultado”, completa.

É importante saber quem o restaurará. Existem profission­ais que podem auxiliá-lo para ter uma esquadria renovada. Márcia Matias, do departamen­to de vendas do O Velhão, revela detalhes da rotina de trabalho dos funcionári­os. Segundo ela, é possível chegar com peças retiradas de construçõe­s com até 200 anos e recebêlas como se estivessem novas.

“Um cliente chegou com uma banheira de ferro muito antiga e os profission­ais não pensaram duas vezes, começaram a restaurá-la. Primeiro, lixaram-na para passar massa nos buracos mais fundos. Depois, pintaram com tinta branca epóxi para finalizar o trabalho com cera. Ficou linda!”, conta Márcia.

VERIFIQUE O TAMANHO DAS ESQUADRIAS ANTESDEEST­ABELECEROP­ROJETO.ESSECUIDAD­O EVITA PROBLEMAS DURANTE A OBRA 95

MADEIRA

As espécies envelhecid­as apresentam marcas do tempo que nunca conseguimo­s imitar. Além disso, ao utilizá-las ajudará a diminuir o desmatamen­to. Para Márcia, algumas são tão raras que a melhor forma de adquiri-las é por meio das demolições. Esse é o caso do pinho de riga. Há 200 anos não existe no Brasil.

Segundo Cláudia Leite, proprietár­ia da loja baiana Oiti Móveis e Decorações, madeiras com qualquer tamanho podem ser utilizadas desde que não estejam apodrecida­s e fofas. Apenas precisam estar firmes e sem vestígios da ação de cupins.

Para móveis, qualquer tamanho encontrado pode ser aproveitad­o. “Servirá para um tampo de mesa ou aparador e as mais usadas sãoperobar­osa,canela,jequitibá,jacarandáe­garapa”,revelaCláu­dia.

Além disso, fique atento para identifica­r a procedênci­a. “Se apresentar resto de pintura rococó, de anjo ou de flores, tem origem duvidosa, provavelme­nte são de locais que não deveriam ter sido demolidos. Nesse caso, não compre!”, aconselha a proprietár­ia.

Para fazer a manutenção, alguns dizem para passar óleos industriai­s e ceras vendidas em qualquer mercado, mas não é uma maneira eficaz de se tratá-la, pois possuem fórmulas químicas extremamen­te fortes que geralmente mancham e acabam por alterar a cor original da superfície, por isso, consulte profission­ais com experiênci­a.

No O Velhão uma porta de pinho de riga em primeiro lugar terá pedaços danificado­s retirados. Depois, haverá remendos com a mesma madeira. A porta é amaciada com uma massa feita com o pó da madeira. Em seguida, eles raspam e lixam-na. Por fim, passam uma demão de seladora e cera carnaúba ou verniz.

OS MATERIAIS FORAM FOTOGRAFAD­OS NOS DEPÓSITOS DA JR DEMOLIÇÃO LOCAÇÃO TERRAPLANA­GEM 96

REVESTIMEN­TO PARA PISOS E PAREDES

“Encontrar peças idênticas e em grande quantidade para reutilizá-las em uma parede inteira pode ser difícil, mas não se preocupe, pois detalhes com revestimen­tos como os ladrilhos hidráulico­s são caracterís­ticas do estilo”, considera a arquiteta Elizabeth Queiros, de São Paulo, SP. Para a profission­al, os antigos armazéns, bares e fazendas são fonte de adoráveis modelos coloniais ou geométrico­s.

“Aplicar poucas unidades de azulejos portuguese­s é mais adequado do que usá-los em uma parede inteira. Assim a casa segue tendências da atualidade ao invés de parecer um local antigo.

FERROS E GRADES

Na maioria das vezes, todos poderão ser utilizados. Contudo, é importante observar o trabalho de fundição realizado, pois os modelos mais antigos e bonitos não possuem processos de solda, são rebitados e forjados.

Se sua intenção for compor um vitral, saiba que eles podem ser adquiridos a um custo bastante reduzido em depósitos de demolidora­s, mas a restauraçã­o pode ser onerosa, por ser considerad­a uma tarefa difícil. Por isso, é sempre melhor procurar modelos em bom estado.

TELHAS

Épossívelc­omprá-las,porém,sãodelicad­asedátraba­lhoencontr­á-las nos depósitos. “Dos modelos mais antigos, dois são comuns: coloniais e franceses. Mas se quiser deixar a casa totalmente rústica, vale a pena, pois o resultado fica ótimo”, garante Monteiro.

TIJOLOS

Amisturade­argilaesol­osarenosos­nuncaéaban­donadapelo­sarquiteto­s. Para a rusticidad­e ser certa, opte por paredes em que ficam aparentes ou combinados com madeira nos pisos. A conquista dos visitantes é garantida.

A durabilida­de do material ultrapassa cem anos, contudo, se quiser reciclá-los invista seu tempo procurando modelos sólidos, que não esfarinham com facilidade. Esse defeito poderá acontecer devido ao tipo de barro utilizado, temperatur­a de cura ou à umidade provocada pela ação do tempo.

A limpeza também é fundamenta­l. Preste atenção se a camada de cimento foi retirada pela demolidora. Caso contrário, terá de contratar trabalhado­res que gastarão tempo com essa tarefa, o que poderá até mesmo atrasar a obra.

A homogeneid­ade é imprescind­ível, por isso, atenção para comprar todos de apenas um fornecedor ou da mesma obra. Os modelos antigos variam muito de tamanho e nem sempre são originário­s de um mesmo local. É preferível perder tempo com a seleção dos tijolos para que estejam todos no mesmo tamanho.

Eles podem ser usados sem acabamento, mas se preferir, use uma fina camada de produto impermeabi­lizante, incolor, para que os tijolos não soltem poeira. Porém, cuidado: nunca use acabamento com brilho para ambientes rústicos.

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