O princípio da colonização brasileira COS ARQUEOLÓGI SÍTIOS
UBATUBA – na Ilha do Mar Virado
ILHABELA – em Furnas
GUARUJÁ – ao longo do Canal de Bertioga
SANTOS – ao longo do Canal de Bertioga
SÃO VICENTE – na Casa Martim Afonso, na Praça 22 de Janeiro IGUAPE – na Caverna do Ódio, no sopé do Morro do Espia CANANÉIA – na Ilha do Cardoso e na região do lagamar PODEMOS DESCREVER A OCUPAÇÃO DO LITORAL PAULISTA como uma grande aventura, em que bandidos e mocinhos se confundem com um único objetivo: conseguir plenamente um lugar ao sol. No início, mas bem no início mesmo, temos a civilização sambaquieira, que consistia em homens coletores e caçadores que, segundo estudos da América do Norte, vieram migrando para escapar do clima frio, há mais de 10 mil anos. Sua presença foi constatada quando da descoberta de montes que chegavam a ter cerca de 30 metros de altura, compostos de conchas de moluscos, ossos de peixes e, em alguns casos, até ossadas humanas, depositados por essa civilização. Essas construções receberam o nome de sambaquis que,
em tupi, significa “montanhas de conchas”. Infelizmente, ao longo dos anos da colonização portuguesa, muitas dessas montanhas foram extintas ou praticamente extintas pelo uso de seus materiais na construção civil, em que a cal, formada por anos de compactação de conchas e ossos, era um elemento primordial para a elevação de casas, igrejas e mosteiros.
O povo sambaquieiro foi exterminado com a chegada dos índios tupis que possuíam armas mais poderosas, como o arco, a flecha e o tacape. A nação tupi se fixou na região costeira dividida em diversas tribos; entre as principais e decisivas para a história estão os tupiniquins, liderados pelo cacique Tibiriçá, e os tupinambás, por Cunhambebe. Aquela se aliou aos colonizadores portugueses e esta, aos franceses que extraíam pau-brasil mais ao norte, ou seja, eram tribos inimigas desde sempre. As alianças tinham sido feitas bem antes de a Coroa Portuguesa resolver colonizar o Brasil, pois, até 1532, nossas terras não tinham valor para Portugal, que estava mais interessado em adentrar o Rio da Prata para chegar até Potosí, no Peru, e se apropriar da famosa montanha de prata. Então, quando os portugueses passavam por nossa costa era para deixar em degredo alguns criminosos e judeus não convertidos, entre outros inaceitáveis. Foi o caso do lendário judeu não convertido Mestre Cosme Fernandes, Bacharel de Cananéia, desterrado pela esquadra de Américo Vespúcio, em 1502, no local que hoje é considerado o primeiro povoado brasileiro. Após viver alguns anos em meio aos índios e graças a uma inteligência ímpar, Cosme Fernandes partiu para o norte e chegou à Ilha de Gohayó, atual Ilha de São Vicente, com o intuito de conquistar mais terras. Ali prosperou, tornou-se senhor de terras no sul e foi temido por muitos. Tornou-se grande fornecedor de víveres, água, lenha e escravos para os navios que se aventuravam a ir ao Rio da Prata. Junto a outros degredados e náufragos, onde hoje vemos a praia do Gonzaguinha, em São Vicente, Fernandes fundou outro povoado que, segundo Diogo Garcia, em 1530, já possuía umas dez casas e uma pequena fortificação de pedra. Com a chegada de Martim Afonso de Souza, o Bacharel de Cananéia foi expulso, jurando vingança, o que aconteceu
quatro anos mais tarde, quando dizimou a já nomeada Vila de São Vicente. Depois fugiu e é incerto o fim de sua história.
Martim Afonso de Souza, ao chegar à Ilha de São Vicente, conseguiu se aliar ao cacique tupiniquim Tibiriçá graças a outro personagem que já habitava por estas bandas desde 1508: João Ramalho. Casado com Bartira, filha do cacique Tibiriçá, Ramalho era o homem forte das redondezas devido a sua grande influência entre os índios que, na realidade, tinham suas tribos fixadas no planalto e só usavam a Ilha de São Vicente para pesca, rituais religiosos e venda de escravos indígenas. Martim Afonso, enviado do rei de Portugal Dom João III, veio com carta branca para achar o caminho por terra até Potosí (por mar, a costa abaixo de Cananéia pertencia à Espanha pelo Tratado de Tordesilhas); para colonizar a costa sul do Brasil por meio de sesmarias; e para impedir a invasão por nações estrangeiras. Com o poder régio nas mãos, Martim Afonso fundou tudo que diz respeito a pioneirismo urbano no Brasil: a primeira vila regular, São Vicente; o primeiro engenho de cana-de-açúcar (dos Erasmos); fez de Pero Góes, Francisco Pinto e Rui Pinto os primeiros sesmeiros do país, com terras na área continental de Santos; trouxe mudas de várias espécies para cultivo, cavalos, muitos colonizadores dispostos a habitar terras selvagens, como Brás Cubas que elevou Santos a vila, onde fundou a primeira Santa Casa de Misericórdia, e efetuou a mudança do local do porto para o lado interno da ilha.