Caiçaras
POVO DO MAR, DA MISTURA, DA PESCA, do respeito às intempéries, povo do pé na areia, das danças ao som das ondas, da Lua e do Sol no infinito, das canoas, da mandioca, da banana-da-terra, das tramas das redes, de Iemanjá, de Nossa Senhora dos Navegantes, de São Pedro Pescador, e tantas outras dimensões que são a somatória de índios, europeus e negros. Quando estamos no litoral paulista é muito difícil definir quais são as ditas comunidades caiçaras, pois todo o litoral, mesmo as cidades mais urbanizadas como Santos, São Vicente e Guarujá, são em sua maioria habitadas por caiçaras, pessoas que carregam no DNA as características típicas do povo do mar. Algumas localidades, porém, se definem como a clássica comunidade caiçara por sua arquitetura, e por viverem diretamente da pesca e da agricultura familiar. Como felizmente são muitas, seria impossível colocá-las em uma lista. Muitas são legitimadas por demarcações legais, outras não. O mais importante aqui é nos deixarmos envolver pela atmosfera caiçara, visitar as vilas de pescadores com seus barcos coloridos carregados de pescados, conhecer as fazendas de maricultura, tomar a fresca ao entardecer, com os pés descalços na areia, ouvir as histórias intrigantes da Mão D’Ouro, entender os riscos que o mar representa para os pescadores em meio a tempestades, sentir que o tempo perde a pressa, que assistir ao pôr do sol é uma balada incrível, tentar entender os tipos de pesca,
que são muitos, e se encantar com o respeito dos pescadores pelo mar, princípio e fim de tudo.
Vale também saber que muitas expressões que usamos têm origem no linguajar caiçara. Anotamos aqui apenas uma pequena parte:
A troco de banana – preço baixo Acabou-se o que era doce – terminou “Babau” – acabou
Burburinho – confusão
Caniço – vara de pescar
Curriola – grupo de pessoas
Coisinha – quando se esquece o nome de qualquer coisa
Desacorçoado – não tem ânimo Esculhambar – xingar
Foi pro beleléu – morreu
Naco – pedaço
Ordenado – salário
Quebrante – mau-olhado
Rachei o bico – ri muito
Temperar o café – adoçar o café
Viração – vento fraco do Sul
É fundamental a preservação do estilo caiçara de viver, por isso a importância da luta pela regularização desses locais junto ao poder público, para que suas terras não sejam dominadas nem por grandes empreendimentos imobiliários, nem pela favelização.