As delícias da terra e do mar
NA FAIXA ESTREITA ENTRE O MAR E A SERRA DO MAR, os que aqui habitavam utilizavam os recursos que a natureza tinha a oferecer. Sem grandes porções de terras cultiváveis para plantios mais elaborados, a criatividade humana teve de se sobrepor à técnica, e a exploração das matas e dos mares, junto com o aprendizado com os índios, foi imprescindível para a sobrevivência dos habitantes locais. Graças a esse espírito aventureiro e explorador, hoje podemos saborear a deliciosa culinária caiçara, baseada em ingredientes pra lá de saborosos.
A BANANA
De todas as opções para o preparo de um prato, a banana é a que mais identifica a culinária caiçara. Hoje, as nanicas e as brancas são as mais comuns, mas a banana-da-terra e a ouro são a prata da casa. A primeira, utilizada frita ou assada, acompanha muito bem peixes e frutos do mar. A segunda, servida como sobremesa de tão doce que é, costuma ser vendida, principalmente na intersecção entre as rodovias Cônego Domênico Rangoni e Rio-Santos. Historicamente, fortunas foram feitas no litoral paulista
com o cultivo da banana. Nesse cenário, destacam-se a famosa Imperatriz da Banana, dona Áurea Conde, que, no início do século XX, possuía uma esquadra de 12 navios exportadores da fruta, e a família Vasquez, com enormes fazendas, como a Diana, na área continental de Santos. Essas frutas eram levadas ao porto de Santos em embarcações ou por trem, descarregadas nos navios e exportadas. Ainda hoje, ao longo das rodovias que percorrem o litoral, é comum vermos muitas plantações, e bairros inteiros possuem bananeiras espalhadas pelas ruas como se fossem árvorespaisagísticas.
OUTRAS FRUTAS
Também muito utilizadas são o cambuci, a jaca e o abricó, fortes componentes na preparação de licores, doces e compotas. O cambuci quase chegou à extinção por sua árvore fornecer uma excelente madeira para a fabricação de utensílios domésticos. Hoje, a consciência da importância da preservação dessa fruta, nativa da Mata Atlântica, gerou vários projetos para sua revalorização como ingrediente da culinária caiçara. A jaca, apesar de não ser nativa, por seu tamanho, sabor adocicado e capacidade de adaptação ao solo arenoso da costa, foi muito difundida, pois valia como uma refeição. E o abricó, que era a fruta mais vista nas praias do litoral paulista inteiro, praticamente sumiu com a urbanização das praias. Em Ubatuba, na praia da Almada Brava, ainda podemos ver como essa fruta era soberana na paisagem costeira, pois, de uma ponta a outra, abricozeiros fornecem alimento e sombra aos veranistas.