A Terra do Fogo
ANTES DE COMEÇARMOS A ESCREVER SOBRE A HISTÓRIA DE USHUAIA, temos que situar o avanço das conquistas dos países europeus no Oceano Atlântico, em um período chamado de “Era das Grandes Navegações”. Tudo começa com a cobiça dos países europeus, principalmente Portugal e Espanha em chegar à Ásia por um caminho mais rápido do que contornar o continente africano. O Mediterrâneo era uma rota muito concorrida e os portos situados onde hoje está a Itália eram os mais favorecidos pela localização. Depois que Cristóvão Colombo chegou às Américas, seria fácil imaginar que se contornando a “pequena” massa de terra recém descoberta, logo chegariam ao objetivo pelo Oceano Pacífico. Ledo engano. A pequena “massa de terra” era muito maior, não imaginavam o tamanho.
PRIMEIROS HABITANTES
As fogueiras que Fernão de Magalhães viu e que o fez nomear a região como “Tierra del Fuego”, eram dos povos que ali habitavam: selknam (ou ona), haush (ou manekenk), tehuelche (aonikenk), yamana (yagan) e alakaluf (kaweskar). As fogueiras chamativas eram grandes e nunca se apagavam. Era garantia de sobrevivência dos nativos em terras tão gélidas. Segundo a teoria mais aceita, estes homens chegaram até o extremo sul da América do Sul, vindos pelo estreito de Bering que liga a Rússia aos EUA, há onze mil anos, e caminharam até aqui, em muitos séculos de peregrinação. Eram caçadores, coletores, nômades e viviam em grupos familiares. Uns nas planícies caçando os guanacos, como os
haushs, os selknans e os tehuelches. Outros no litoral onde caçavam focas, lontras, gansos, peixes e até leões-marinhos, como os yamanas e os alakalufs. Estes, quando mudavam de local, viajavam de canoas onde sempre levavam o fogo em montículos de areia. Um destaque para as mulheres que eram exímias mergulhadoras e nadadoras no mar gelado, onde caçavam moluscos.
Em 1870, chegou a “civilização” e os homens brancos trouxeram junto a varíola, o sarampo, a tuberculose, a pneumonia e também a necessidade de ocupação das terras para mineração e criação de animais. Então os nativos foram mortos ou pela doença ou pelo tiro. Infelizmente, atualmente são considerados como extintos. FERNÃO DE MAGALHÃES
Nasceu em Portugal e organizou a primeira circumnavegação que começou em 1519 e terminou em 1522. O nobre Fernão estava acostumado a navegar até as Ilhas Molucas, Ásia, conhecida como Ilhas das Especiarias, e sabia da importância econômica de achar uma rota mais fácil para chegar até elas. Mas, foi pela Espanha que a expedição foi feita e patrocinada. Chegou à Patagônia em 1520. Quando avistaram uma tribo com fogueiras acesas, Fernão nomeou a região de “Tierra del Fuego”. Conseguiu passar pelo estreito que hoje leva seu nome e alcançar o Oceano Pacífico, que, aliás, também foi nomeado por ele, em um comparativo com as águas turbulentas do Oceano Atlântico. O feito de Magalhães foi tão grande e heroico que até hoje é reverenciado em muitas áreas e homenageado em algumas descobertas como: a espécie de pinguim-demagalhães, crateras lunares de Magalhães, crateras marcianas de Magalhães, Estreito de Magalhães e Nuvens de Magalhães.
Infelizmente Fernão morreu em uma batalha em Cebu, Filipinas, em 1521. Após a sua morte, a expedição voltou para a Espanha, porém chefiada por Juan Sebastian Elcano, em 1522.
A primeira foi a de Fernão de Magalhães, em 1520, e levava a bordo o italiano Antônio Pigafetta, que escreveu o léxico da língua patagônica, pois capturou um nativo e com ele aprendeu seus fonemas.
Depois, 1541, Alonso de Camargo, foi o primeiro homem branco a invernar na região, provavelmente no Canal de Beagle. A Espanha reivindicou a Terra do Fogo, mas não impediu que ingleses e holandeses fizessem suas investidas. Então, para a proteção da região, os espanhóis tentaram construir fortificações e levar pessoas dispostas a colonizar, porém sem sucesso devido ao clima hostil e a agressividade dos nativos.
Em 1771, Manuel Prado penetrou no Canal de Beagle e o descreveu. Dezessete anos mais tarde, foi a vez da expedição científica de Antônio Malaspina, e tanto outros mais.
A expedição que mais teve relevância foi a de 1826, liderada pelo capitão Philip Parker King (que se suicidou) e comandada pelo imediato Robert FitzRoy, pois foram capturados nativos e o Canal de Beagle explorado com mais exatidão. Os índios foram levados para a Inglaterra onde aprenderam o modo de vida e a língua dos ingleses. Lá receberam os nomes de Jeremy Buttom e Fuega Basket. Como consequência, em 1831, o famoso navio HMS Beagle zarpou da Inglaterra com Charles Darwin, o missionário anglicano Richard Mathews e os nativos capturados. A intenção era fazer com que estes, educados na Europa, pudessem influenciar os outros habitantes fueguinos a aceitarem os costumes ingleses e a religião de Mathews. Não deu certo, os nativos fugiram e deixaram o missionário que ficou a míngua sob domínio dos locais. Enquanto isso, Darwin explorava cientificamente a região dando base a sua importantíssima Teoria da Evolução.