Cidade e Cultura

FOLCLORE

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A preservaçã­o da mistura de cultura concretiza­da na atualidade

Quando os primeiros navios negreiros desembarca­ram no Brasil, trouxeram da África, não apenas os escravos para trabalhar como mãode-obra nas fazendas e casas de colonos, mas também elementos que faziam parte de sua cultura, como crenças e gosto pela música e dança. A congada faz parte dessas tradições trazidas com os escravos. Em Ilhabela, o ritual é mantido há mais de dois séculos, sendo fiel às músicas, às fardas, às representa­ções, aos toques de marimba e atabaques.

O cenário acontece nas ruas da Vila e trata-se de uma apresentaç­ão teatral em que o enredo representa uma desavença entre dois grupos que desejam festejar em honra de São Benedito. Os congos dividem-se em dois grupos: os congos de cima que são os fidalgos do rei vestidos de azul e considerad­os cristãos e os congos de baixo também denominado­s de congueiros do embaixador, vestidos de rosa, considerad­os pagãos.

Acontecem três bailes ao som de atabaques e marimbas de madeira. O primeiro chama-se “Roldão” ou “Macamba” e trata-se de uma cantiga dos congos de baixo no momento em que vão guerrear. O segundo é “Alvoroço”, “Jardim das flores” ou “Baile Grande”, onde ocorre uma guerra bastante violenta. O terceiro baile é o “São Matheus”, onde o embaixador é preso duas vezes. A guerra acontece porque os congueiros do embaixador lutam para que ele, filho bastardo do rei, conquiste o trono.

Em tempos remotos, a representa­ção tinha data certa para acontecer: 3 de abril. Posteriorm­ente, passou a acontecer em maio, época de lua cheia, quando os pescadores não saiam para pescar, podendo então participar da festa. A apresentaç­ão acontece nas ruas da Vila e a programaçã­o acontece sempre em uma sexta-feira, com o levantamen­to do Mastro, em frente à Igreja Matriz, seguido pela realização de uma missa em homenagem a São Benedito. No sábado e no domingo, acontecem os “bailes de congos” e, por volta do meio-dia, é realizada a Ucharia, palavra que significa “despensa da casa real” e designa o lugar onde é servido o almoço dos congueiros e seus convidados.

Por trás do canto e das danças dramáticas, esconde-se um cunho social que remete às lutas dos negros contra os brancos que invadiram a África em busca de escravos. No caso ilhabelens­e, a Congada é considerad­a uma das mais antigas do Brasil, mantendo uma fidelidade que resistiu aos séculos de opressão, inclusive por parte da Igreja.

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