Cidade e Cultura

Enseada dourada

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Guaiúba era uma praia muito bonita, onde viviam antigos pescadores, alguns deles quase centenário­s, que conservava­m as tradições do lugar contando estórias que vinham de seus avós. Ricardo Jorge, um dos mais velhos ali nascidos, afirmava que quem passasse de canoa pelas proximidad­es da praia, não podia gritar ou falar alto, pois se fizesse, a canoa virava no mesmo instante, fato experiment­ado por muita gente e só o velho pescador, com mais de 90 anos conhecia os motivos deste segredo.

No primeiro século do Brasil, os jesuítas chegaram à ponta da ilha de Santo Amaro, no sítio “dos Macacos” e construíra­m uma casa e um posto de catequese para ensinar as primeiras letras, números e catecismo aos cunhãs, cinhatãs e curumins (meninos e meninas indígenas). Com o passar do tempo, a casa dos padres foi crescendo, a ilha se tornou um reino espiritual e social, onde eles, esquecidos do resto do mundo, viviam felizes em Monduba-mirim, um paraíso à beira mar e cercado por florestas.

Um dia, um inglês ferido apareceu na praia, muito debilitado, pedindo socorro e os curumins chamaram os padres para socorrê-lo. Delirando por causa da febre, o náufrago parecia cheio de terror dizendo que os piratas estiveram ali perto em uma ilha e enterrado um tesouro e que o Almirante havia fuzilado todos os homens e ele havia se jogado ao mar. Ao fim de um mês, se recuperou. Taylor, seu nome, primeiro corsário do Almirante Cavendish, pediu aos jesuítas que lhe arranjasse­m um emprego longe daquele lugar e em pagamento ele os levaria onde o tesouro estava e dividiria e imensa fortuna. Os padres ficaram muito tentados com a proposta e o mandaram para São Paulo de Piratining­a, onde o marinheiro montou sua oficina de ferraria, soldas e fundição e se casou com a filha de um português. Sentindo prolongars­e demais a espera pelo corsário, os padres resolveram procurá-lo nos campos do planalto. A casa foi encontrada, mas Taylor não estava e perguntara­m a sua esposa se ela sabia algo sobre o tesouro. A moça, muito assustada com a visita, entregou o mapa aos jesuítas. Quando Taylor retornou, ela contou o ocorrido e ele partiu imediatame­nte para o litoral encontrand­o o sítio “dos Macacos”, estranhame­nte vazio. Os jesuítas de posse do roteiro reuniram o material necessário e os índios para chegarem à ilha assinalada no mapa. O tesouro foi achado sob a laje grande da ilha, e várias urnas encheram todas as canoas. Uma tempestade assustador­a se formava no céu, fazendo com que os índios petrificad­os com tantos relâmpagos, trovões, raios e ventos fortíssimo­s, remassem firmemente para atingir as areais da praia. As pesadas canoas, subiam e desciam sobre os vergalhões com os padres rezando, não havia outra coisa a fazer. Prevendo um desastre, os padres pediam perdão pelo surto de ambição. Remando desesperad­amente, já viam a ponta rochosa do Monduba-mirim. Neste mesmo instante, o ex-corsário inglês, viu da praia um enorme vergalhão descontrol­ado, que engoliu as canoas e o atingiu no costão, levando-o ao mar. No dia seguinte, passada a tempestade, os índios procuraram em vão seus entes queridos na praia, sem encontrá-los, mas viram com grande espanto, um manto de ouro que cobria a areia no fundo da enseada e gritaram: - GUAIÚBA........GUAIÚBA.....(a enseada está dourada). A marca do ouro imprimiu a pureza num lugar onde nem todos podiam vê-la, só os que amassem e fossem capazes de ver nela um castigo àqueles que foram tentados pela ganância. Assim interpreta­ram os índios locais, repetindo daí por diante o grito dos indígenas que acharam ouro e nomearam a praia: GUAIÚBA.

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