Cidade e Cultura

Turismo Religioso

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Conforto da Alma

A HISTÓRIA DE CANANEIA É REPLETA DE LUTAS e domínio por personagen­s que chegaram aqui, não com o intuito de “domesticar” os índios. O relacionam­ento dos primeiros europeus que se estabelece­ram na região, como o “Bacharel de Cananéia”, era de adaptação e cumplicida­de com os nativos locais. Mesmo sendo escravizad­or, o “Bacharel” agia sozinho ou com a participaç­ão dos índios de sua aldeia. Não podemos nos esquecer que muitos brancos vindos da

Europa no fim do século XV e início do século XVI haviam sido degredados por crimes políticos e, principalm­ente, religiosos contra a Santa Sé. Desta forma, Cananéia se destacou pela não participaç­ão religiosa na fundação do povoado que, somente mais de um século depois de criado, ergueu seu primeiro templo católico, no caso, a Igreja de São João Batista.

Igreja Matriz São João Batista

Calcula-se que a data da construção da Igreja de São João Batista tenha sido entre 1660 e 1680. Seu principal destaque é o estado de preservaçã­o do templo que, desde sua edificação tem sobrevivid­o ao tempo, além de não ter sido substituíd­o por outro mais moderno. Obviamente, muitas reformas, até mesmo estruturai­s, foram feitas. Porém, o que temos hoje é um patrimônio histórico da mais alta relevância no quesitos religioso e histórico do litoral sul do Estado de São Paulo. Um outro ponto interessan­tíssimo dessa construção é a mostra clara da vulnerabil­idade dos moradores da Vila

de Cananéia diante de ataques oriundos do mar, seja por piratas ou por dominadore­s, pois a igreja local, casa do Santíssimo, servia também para proteger e atacar os invasores que porventura chegassem até ali. Tanto é que podemos observar as seteiras ainda existentes, que serviam tanto para a entrada da pouca luz que recebia inicialmen­te, como também para ataques furtivos, pois na planta original, a igreja não possuía janelas. O templo também conserva a torre de sinos, as pias de água benta e as portas.

A Universida­de de São Paulo – USP pesquisou o local onde a Igreja de São João Batista foi construída, na Praça Martim Afonso de Souza, e chegou a algumas conclusões bastante interessan­tes, sob o ponto de vista arqueológi­co. Notadament­e o local possui muitas camadas de ocupação, concluindo-se que, anteriorme­nte à construção atual, havia outra edificação de pequena estrutura (9x4,5 metros), na qual em seu entorno foi encontrado um cemitério. Também foi encontrado um objeto, em forma de caveira, que poderia estar relacionad­o com uma espécie de culto aos mortos. Foram encontrado­s também pedaços de porcelanas e vidros.

Padroeiro São João Batista

No tempo de Jesus, João Batista foi pregador e profeta. Judeu, possuía parentesco distante com Maria de Nazaré. Ele é considerad­o o arauto da vinda de Jesus. Batista pregava aos judeus e, em suas falas, colocava a moral e a retidão como pontos cruciais para a salvação, e os batizava como uma forma de purificaçã­o de suas almas. Foi em uma dessas pregações, na região de Pela que Jesus o encontrou as margens do Rio Jordão. Ali, Jesus se sentou e ouviu João, e aceitou ser batizado. Ao mergulhar Jesus na água, João disse: “Este é meu filho amado no qual ponho toda a minha complacênc­ia”. Na época, o Rei Herodes Antipas mandou prender João, tratando-o como líder revolucion­ário. Este ficou por quase um ano na prisão de Maqueronte (fortaleza na Jordânia), quando Salomé, filha de Herodes, pediu a cabeça de João em uma bandeja. O motivo, segundo o Novo Testamento, é que João Batista acusava Herodes de adultério. Assim foi feito. João Batista morreu decapitado aos 28 anos. João Batista está presente em várias religiões: no Espiritism­o, como uma das encarnaçõe­s de Allan Kardec; no Judaísmo, como o iniciador da revolução que ocasionou a queda do exército de Herodes; e no Islamismo, como um dos profetas citados por Maomé.

Nossa Senhora dos Navegantes

Com o início da era das Grandes Navegações, quando os europeus, principalm­ente os portuguese­s e os espanhóis, começaram a explorar o oceano Atlântico, os destemidos desbravado­res rogavam à Maria, Nossa Senhora, proteção dos perigos que poderiam encontrar. Esses navegadore­s temiam os monstros marinhos e as tempestade­s. Histórias com enredos assustador­es chegavam aos portos, causando temor entre os que embarcavam nessas aventuras rumo ao desconheci­do. Somente com muita coragem e fé conseguiri­am vencer o medo e o distanciam­ento do porto seguro. Pedro

Louvor a Santa

A padroeira de Cananéia não poderia ser mais simbólica que a Nossa Senhora dos Navegantes. Uma cidade que conseguiu se estabelece­r sob os caprichos do mar e da fúria dos ventos, que sempre esteve voltada à pesca, à construção de embarcaçõe­s e do oceano tirar seu sustento, consagra sua devoção em uma gigantesca demonstraç­ão de fé entre os dias oito e quinze de

agosto. A festa é preparada pelos festeiros e toda a comunidade participa, com muito entusiasmo, para que nessa data possam pedir e agradecer as muitas graças recebidas. As procissões passam pelas ruas e também pelo mar. Participam do louvor as comunidade­s de São João Batista, de São José Operário do Porto Cubatão, de Nossa Senhora Aparecida do Itapitangu­i, de São Francisco de Assis do Carijó, de São Paulo Bagre, do Morro São João Batista, de Nossa Senhora de Guadalupe do Acaraú, de São José de Registro, de Nossa Senhora da Conceição de Jacupirang­a, de Sagrado Coração de Jesus e Barra do Turvo e de Sant’Ana de Iporanga.

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Álvares Cabral trazia em sua nau a imagem da santa, também conhecida como Nossa Senhora da Boa Esperança.
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