Como Cultivar Orquídeas Especial
Cattleya gaskelliana
EMBORA SEJA MUITO EXPLORADA e estudada em diversos lugares do mundo, no Brasil, a Cattleya gaskelliana ainda não recebeu a merecida atenção. Na verdade, ficou “esquecida” por um longo tempo. Por isso, as pesquisas a seu respeito ainda são escassas, mesmo sendo uma planta acessível do ponto de vista comercial. “É muito valorizada no exterior, mas difícil de ser encontrada por aqui. Possui variedades e clones bastante famosos pela sua beleza”, comenta Carlos Espejo, proprietário do Orquídeas de Latinoamérica, de São Paulo, SP.
Carlos Keller, orquidófilo e paisagista, do Rio de Janeiro, RJ, concorda: “Infelizmente, está relegada a segundo plano no Brasil. Poucos a colecionam. Talvez seja pelo fato da substância da flor não ser pesada ou ainda pelo vinco central das pétalas ser mais pronunciado do que nas demais Cattleya. Somente a variedade coerulea, devido a seu forte tom de azul, caiu no gosto dos orquidófilos. Entretanto, existem clones magníficos que não devem passar despercebidos, como a C. gaskelliana alba ‘Maria Izabel’. As albas mantêm uma substância forte, quase igual a da tipo, e o interior do labelo varia do amarelo-palha ao amarelo-limão.”
Seu habitat está restrito à região de confluência dos estados Anzoátegui, Monagas e Sucre, no centro-norte da Venezuela, mais especificamente na cadeia montanhosa Cordillera de la Costa. “Ela vegeta a uma altitude de 800 a 1.500 m, onde a temperatura varia entre 15 e 30oc. No entanto, também pode ser encontrada em diferentes lugares, em função do ecletismo de suas necessidades”, afirma Keller.
Espejo lembra que sua fácil adaptabilidade ao território brasileiro está relacionada ao fato de que é proveniente de florestas úmidas e, como está cercada pelas montanhas, não recebe ventos frios, tornando mais simples sua adequação ao clima tropical.
Riqueza de detalhes
Descrita pelo botânico alemão Heinrich Gustav Reichenbach, em 1883, quando floresceu pela primeira vez na Inglaterra, nas estufas do orquidófilo Frederick Sanders, a C. gaskelliana possui quase todas as variedades que são conhecidas: tipo, semi-alba, alba, concolor, coeruela, rubra, coerulescens, suave, suavissima, entre outras. “Alba, coerulea, amesiana e suave se destacam porque são as mais raras”, garante o orquidófilo e paisagista.
“A variedade concolor com labelo branco é muito requisitada já que está entre as mais difíceis de encontrar. C. gaskelliana concolor ‘America’ é um dos melhores cruzamentos já feitos com essa planta”, adiciona o especialista do Orquídeas de Latinoamérica.
Suas flores chamam muita atenção, pois, além de medirem cerca de 20 cm, são bastante perfumadas, exalando um aroma doce e delicado. “Seu racemo (tipo de inflorescência onde as flores são sustentadas) apresenta de duas a sete flores de pétalas oblongo-lanceoladas (arredondadas e em forma de lança), que são produzidas na Primavera e têm durabilidade de até 20 dias”, explica Creuza Muller, proprietária do Orquidário da Mata, de São Paulo, SP.
Espejo acrescenta que, de modo geral, é uma planta robusta, tendo em vista que pode chegar a 20 cm de altura e suas folhas medem até 30 cm. “Seu crescimento é rápido, levando cerca de três anos para atingir o porte adulto. Depois disso, entouceira e bifurca com facilidade.”
Sempre saudável
Os três profissionais concordam que a C. gaskelliana apresenta cultivo fácil e sem muitos segredos, sendo uma boa opção para quem está iniciando uma coleção de Cattleya. Devido às características de seu habitat, aprecia alta umidade relativa do ar – em torno de 80%.
Mas essa preferência não significa que goste de solos encharcados, muito pelo contrário. “Ela precisa de substrato aerado que não encharque, por exemplo, o carvão – que ainda possui nitrogênio (N), auxiliando em seu crescimento”, diz o especialista paulista. Outras opções de materiais são mistura de esfagno com brita ou pedaços de isopor e mix de esfagno, casca de pinus e carvão.
Sua grande necessidade de ambiente úmido exige atenção à rega. “Entre uma irrigação e outra é essencial esperar o substrato secar”, alerta Keller. Em dias mais quentes, pode-se borrifar água nas folhas para garantir umidade. Já em períodos frios, a rega deve ser espaçada para evitar o acúmulo do líquido.
Outro cuidado fundamental para manter seu bom desenvolvimento é oferecer luminosidade abundante, entretanto, sem luz solar direta. “Recomendo colocá-la sob sombrite 50% o maior tempo possível durante o dia”, ensina o orquidófilo e paisagista. A proprietária do Orquidário da Mata acredita que esse seja o ponto primordial para obter uma bela floração: “O primeiro fator é o fornecimento de luz, depois a umidade e, então, a adubação. Esse conjunto reflete no florescimento.”
Quando o assunto é adubação, cada um tem seu próprio método. “Quando o exemplar é jovem e está crescendo, uso NPK 30-10-15. Se é adulto, três meses antes de formar a espata de floração, aplico NPK 5-45-15 uma vez por semana ou a cada 15 dias”, afirma Espejo. Já Creuza aposta no adubo foliar NPK 20-20-20 semanalmente e, antes do florescimento, utiliza a formulação 10-30-20. E Keller segue o mesmo processo da especialista paulista, mas adiciona um fertilizante de liberação lenta com formulação equilibrada (14-14-14) no substrato a cada três meses.
Com esses cuidados, é provável que a C. gaskelliana se conserve saudável e resistente ao ataque de pragas e doenças que costumam atingi-la, como lesmas, caramujos e cochonilhas. “Caso ocorra infestação, pode-se fazer a cata manual e limpar as folhas usando uma escova de dentes molhada em uma solução de um copo de água com algumas gotas de detergente para lavar louça”, explica o proprietário do Orquídeas de Latinoamérica, aconselhando realizar ainda a troca de substrato.
Uma particularidade em seu cultivo é a época de replantio, pois, diferentemente de outras orquidáceas, ela não gosta de ser transplantada após o florescimento. “Essa espécie floresce imediatamente após a maturação do pseudobulbo, que enraíza depois da floração. Quando as raízes atingirem de 3 a 5 cm e no Outono, com temperatura e umidade mais amenas, é o momento adequado para o replante”, ressalta Creuza. “É importante tomar cuidado com as raízes da traseira, porque são fundamentais para a alimentação da frente do exemplar”, conclui o orquidófilo e paisagista.
C. intermedia ‘Patricia’