Como Cultivar Orquídeas Especial
Cattleya lueddemanniana
FLORES GRANDES, EXUBERANTES, em tonalidades variadas e com belo formato. São essas as características que contribuem para a Cattleya lueddemanniana ser uma das queridinhas dos colecionadores e apreciadores de orquídeas.
Nativa da região norte da Venezuela, nas proximidades do litoral, costuma vegetar em dois tipos de habitats. De acordo com o orquidófilo Welson Vieira Sizervinks, de Uberaba, MG, o primeiro está localizado em florestas semixerófitas, decíduas e semidecíduas de terras baixas do Caribe, margeando as encostas das serras da Cordillera de la Costa. “Neste ambiente, é encontrada no trecho mais ao norte, em uma faixa limitada que começa de 50 a 100 m acima do nível do mar e pode atingir até 500 m de altitude, onde existe maior índice de umidade, mesmo na estação seca”, explica.
No oeste da Cordillera de la Costa, está presente em altitudes mais elevadas – entre 400 e 700 m – em florestas xerófitas abertas, semixerófitas e decíduas criadas pela sombra do relevo da cadeia dos Andes, em que há predomínio de arbustos, cactos e outras espécies com espinhos.
“Existem duas populações distintas de C. lueddemanniana, constituindo diferentes biótipos: costeiro e larense (da região do distrito de Lara). O primeiro forma grandes colônias em árvores de pequeno e médio portes e possui flores com 16 a 18 cm de diâmetro e de coloração suave. Todas as alba, semi-alba e coerulea provêm dessa área. Já o larense também compõe amplos grupos em arbóreas de pequeno e médio portes, porém, suas flores variam de 11 a 16 cm de diâmetro e têm um colorido mais intenso”, detalha Sizervinks.
Sérgio Inácio Englert, engenheiro agrônomo e proprietário da Ricsel Orquídeas e Bromélias, de Porto Alegre, RS, complementa que na Venezuela essa planta é comumente conhecida como flor-de-maio e speciosa.
Grande atrativo
As variedades de C. lueddemanniana são alba, semi-alba, semi-alba delicata, coerulea, concolor, flamea e rubra, com flores de tonalidades que vão do branco ao róseo bastante intenso. “A cor mais comum é a rósea, característica de grande parte das orquídeas do gênero Cattleya em seus habitats. Mas há as variações decorrentes de mudanças genéticas”, afirma o orquidófilo mineiro.
Segundo ele, um aspecto notável de sua flor é a coluna aberta pelo labelo, formando os lobos laterais, nos quais há manchas amareladas (uma de cada lado), dando a impressão de dois olhos. “Ao final da coluna, logo acima das políneas (massas cerosas constituídas de grãos de pólen), existe uma saliência bem destacada, semelhante a dois chifres. Esta também é uma peculiaridade exclusiva da espécie.”
As flores chegam a medir até 20 cm de diâmetro, entretanto, são comumente encontradas com aproximadamente 16 cm. Além disso, as pétalas são bem mais largas que as sépalas. No entanto, essas estruturas podem ser apreciadas por pouco tempo. “Ficam abertas apenas por cerca de dez dias”, conta Eduardo Dieter Mucke, proprietário do Orquidário Santa Bárbara, de Santa Bárbara d’oeste, interior paulista.
Embora a floração seja curta, há um bom motivo para vê-la: a fragrância suave e adocicada exalada cinco dias após a eclosão dos botões. “O aroma é característico, alterando a intensidade conforme a variedade”, diz Sizervinks.
Diferentemente de outras espécies do gênero Cattleya, inicia a florada ainda jovem, com cerca de três anos. “Uma planta de 10 cm de altura já pode soltar botões”, comenta Mucke, ao acrescentar que, quando adulta, atinge 30 cm. “A quantidade de flores por haste muda de acordo com o exemplar, porém, normalmente, surgem de três a quatro flores de boa substância e qualidade”, adiciona Englert.
No Brasil, sua época de desabrochar com maior intensidade é entre agosto e outubro. No entanto, o especialista mineiro assegura que ela pode florir espontaneamente em outros períodos e, aliás, uma mesma planta pode lançar flores mais de uma vez no ano caso vegete sob um regime de forte adubação.
Necessidades
Levando em consideração seu habitat, o proprietário da Ricsel Orquídeas e Bromélias destaca que a C. lueddemanniana aprecia calor (entre 18 e 30oc), alta umidade, muita iluminação (sombreamento de 50 a 70%) e boa ventilação.
“Pode-se dizer que possui cultivo fácil e sem muitas exigências, porém, não tolera irrigação excessiva. Entre uma rega e outra é preciso esperar o substrato secar, pois, se estiver encharcado, pode prejudicar o enraizamento”, ensina o especialista do orquidário Santa Bárbara. Mas como necessita de elevada umidade do ar, uma dica é borrifar água diariamente quando o tempo estiver seco.
Ele ainda ressalta que por ser nativa de uma região de clima tropical, possui ótima adaptabilidade em todo o Brasil, mas nos estados do Sul é preciso ter cuidado especial em relação ao frio, abrigando-a em lugar apropriado durante o Inverno.
A C. lueddemanniana se desenvolve muito bem em substratos comumente disponíveis no mercado. Porém, Sizervinks enfatiza a importância do arejamento para não dificultar o enraizamento nem a perda de suas raízes. “Ela se adequa bem em casca de pinus e também em placas de madeira.”
Outras alternativas sugeridas por Mucke são fibra de coco ou mesmo amarrada a uma árvore, desde que receba luminosidade apropriada. “Se optar pelo plantio em arbórea, preferencialmente, não coloque a orquídea no lado onde bate o vento frio”, recomenda.
A adubação também é essencial para garantir o desenvolvimento equilibrado. “Nos primeiros anos de vida da planta, recomendo aplicação de NPK 30-10-10 para beneficiar seu crescimento e enraizamento. Ela pode ser feita semanalmente ou em períodos mais longos, conforme a dosagem do produto. Na fase adulta, deve-se fazer a manutenção com NPK 20-20-20 semanalmente ou a cada dez dias”, aconselha o orquidófilo mineiro.
O proprietário do Orquidário Santa Bárbara cita a importância do uso de adubo orgânico, como farinha de osso e torta de mamona, a cada três ou quatro meses quando o exemplar estiver em vaso. “Mas suspenda esse produto durante o Inverno”, alerta. E completa: “Saber dosar rega, adubação e ventilação é indispensável para manter a saúde dessa espécie.”
Plantas bem arejadas e nutridas, com boa iluminação e em local com umidade adequada dificilmente estão sujeitas a pragas e doenças. A falta de ventilação e de luz pode ocasionar o aparecimento de pulgões e cochonilhas. Exemplares encharcados ou submetidos a chuvas prolongadas podem ser atacados por fungos ou bactérias, o que favorece o surgimento de manchas nas folhas e o apodrecimento de brotos novos.
“Existem muitos fungicidas e inseticidas indicados para combater o aparecimento de pragas. Contudo, devem ser administrados com precaução para que não prejudiquem o desenvolvimento da orquídea. Além disso, o uso desses produtos em demasia pode intoxicá-las”, frisa Sizervinks. Sendo assim, antes de utilizar defensivos, é sempre recomendado procurar a orientação de um profissional especializado, como um engenheiro agrônomo.
A C. lueddemanniana tem a vantagem de atingir a fase adulta mais rapidamente do que as outras espécies do gênero Cattleya. Alguns exemplares chegam à maturidade com três anos. Com crescimento vigoroso e acelerado, vale a pena atentar para a época correta do transplante de vaso ou mesmo da troca do substrato. “O melhor momento para o replantio é quando as raízes novas começam a brotar, logo após a floração”, afirma Mucke.
De modo geral, não apresenta dificuldade em seu cultivo, mas uma característica da maioria das Cattleya e que pode se transformar em um problema é a perda das raízes, que impede seu desenvolvimento natural. “Esse fato está relacionado ao uso de substrato inadequado ou a cortes e mudanças no exemplar sem obedecer aos períodos certos. Nunca faça intervenções na planta imediatamente após sua floração”, aconselha o especialista mineiro.