Como Cultivar Orquídeas Especial
Brassolaeliocattleya
AS ESPÉCIES DE ORQUÍDEAS sempre despertam grande admiração em especialistas e iniciantes no assunto. Na contramão dessa tendência, as plantas do gênero híbrido Brassolaeliocattleya costumam roubar a atenção em exposições e deixam muitos colecionadores apaixonados pela exuberância e pelo colorido de suas flores.
Como o próprio nome sugere, é resultante da combinação dos gêneros Brassavola, Cattleya e Laelia. Sua história soma mais de cem anos e, por isso, gera algumas contradições. Sabe-se que o primeiro cruzamento data do final do século 19. “Cultivadores ingleses começaram a hibridar espécies de Cattleya com a hondurenha Brassavola digbyana, criando as primeiras Brassocattleya, que, em seguida, foram cruzadas às Laelia, especialmente L. purpurata e L. tenebrosa, originando o híbrido trigenérico Brassolaeliocattleya”, explica Roland Brooks Cooke, engenheiro agrônomo e proprietário do Orchidcastle Agrícola, de Petrópolis, RJ.
Também existe a versão de que o cruzamento inicial foi entre Cattleya e Laelia, sobretudo, a L. purpurata. “Este fato possibilitou a união do belo labelo tubular e da flor grande da L. purpurata com o colorido e a boa forma das Cattleya do grupo das labiata, produzindo as vistosas e grandes flores das Laeliocattleya. Em meados do século 20, introduziu-se a Brassavola glauca para produzir um labelo mais amplo e curto e flores com maior substância. Isto gerou a Brassolaeliocattleya, que apresenta flores bastante duradouras e labelo, embora menor, bem mais vistoso”, afirmam Josélio Durigan e Célia Regina Zem, sócios-proprietários do Orquidário Durigan, de Curitiba, PR.
Eles ainda comentam que, no final do século 20, foi incorporado a esses cruzamentos o grupo das Cattleya bifoliadas, que tem labelo trilobado e lobo frontal em forma de pá. “As plantas resultantes contam com flores de textura cerosa e brilhante, muita substância e colorido pintalgado. Uma delas é a Blc. Durigan.”
Genética a seu favor
De modo geral, as Brassolaeliocattleya são morfologicamente muito semelhantes às Cattleya, tanto no aspecto vegetativo como no floral. Além disso, têm porte de médio a vigoroso, resultado da descendência da B. digbyana. A partir do rizoma surgem as raízes, os bulbos e as folhas, enquanto a haste floral aparece do pedicelo (estrutura modificada do caule) na base da folha. Cooke lembra que ao combinar as Cattleya com a B. digbyana o objetivo foi transferir para os híbridos resultantes o grande labelo franjado dessa espécie, o que foi plenamente atingido.
Segundo José Antônio Coelho, proprietário do Orquidário Amarílis, de Cachoeira do Sul, RS, suas características são bastante variáveis, pois dependem das matrizes. “Por exemplo, adquiri dois frascos de Blc. Judy Fuchs ‘Oro de Cali’ x Blc. Waikiki Gold ‘Lea’. Alguns exemplares produziram bulbos altos (em torno de 40 cm), enquanto outros não cresceram mais do que 25 cm. Todos, entretanto, apresentaram várias flores amarelas e de tamanho médio. Isso demonstra os diferentes atributos que plantas-irmãs podem trazer.”
As Brassolaeliocattleya possuem de duas a cinco flores por haste, que podem durar de sete a 30 dias. Seu colorido exuberante é proveniente das Laelia; já o tamanho e a forma das flores geralmente são transmitidos pelas Cattleya. “São bastante perfumadas, cada qual com seu aroma particular, de adocicado, floral e cítrico até amadeirado”, descrevem os especialistas do Orquidário Durigan.
As cores são variadas, desde claras até mais escuras, dependendo do cruzamento, porém, com predominância de tons róseos. Coelho acrescenta que é possível dividi-las em dois grupos principais: as amarelas e as magentas. Em ambas, a C. dowiana contribui com alto percentual – às vezes, com mais de 50%, como no caso das famosas Blc. Toshie Aoki, Blc.
Malworth e Blc. Chunyeah.
Não há uma época de floração específica, pois, como combinam a genética de muitas espécies, existem exemplares floridos durante todos os meses do ano. Entretanto, pode-se dizer que ocorre maior concentração no Outono.
Graças às flores robustas (em torno de 20 cm de diâmetro), à beleza das cores e à boa substância e forma, são os híbridos de maior presença no mercado, fazendo grande sucesso não apenas no Brasil, mas também no exterior.
De acordo com o proprietário do Orchidcastle Agrícola, no País a representante mais destacada é a Blc. Pastoral (Blc. Deesse x C. Mademoiselle Louise Pauwels), criada pelo Orquidário Florália, da capital fluminense, em 1963. “É encontrada em tons que vão do branco puro ao róseo, com flores sempre grandes, vistosas, perfumadas e duráveis. Multiplicada por via clonal diversas vezes, a Blc. Pastoral ‘Innocence’ AM/AOS é presença constante nas exposições durante o Outono”, salienta, ao adicionar que, atualmente, as tendências de hibridação no gênero buscam colorido mais intenso de amarelo a vermelho por terem maior impacto visual e procura por parte dos consumidores. “Existem inúmeras plantas famosas nessa linha, como Blc. Chia Lin, Blc. Chunyeah e Blc. Goldenzelle.”
Para Coelho, entre as amarelas se destacam Blc. Malworth ‘Orchidglade’, Blc. Goldenzelle ‘Lemon Chiffon’, Blc. Toshie Aoki ‘Robin’, Blc. Kure Beach ‘Lenette’ e Blc. Orglade’s ‘Charm Crystelle’.
Durigan e Célia recordam que desde 2005 a Blc. Durigan (Blc. Waianae Leopard x C. Corcovado) vem ganhando muitos prêmios no Brasil e no exterior, com plantas que receberam o Highly Commended Certificate (HCC) e também o Award of Merit (AM), por exemplo, Blc. Durigan ‘Sirius’, Blc. Durigan ‘Orquilanda’, entre outras.
Garantia de boa floração
Além da extrema beleza, o fácil cultivo é outro fator que contribui para o sucesso das Brassolaeliocattleya entre os colecionadores. Elas crescem bem e florescem em qualquer região do Brasil, desde cidades praianas até serranas.
Por serem oriundas da Cattleya, sofrem essa forte influência genética e, por isso, suas necessidades são muito similares, como alta luminosidade, boa ventilação, climas de amenos a tropicais (de 12 a 25ºc), substrato drenante e rega frequente.
Apreciam bastante água durante a fase de crescimento vegetativo, geralmente na Primavera-verão, época na qual o fornecimento deve ser diário. “Correm o risco de perder as raízes caso o substrato permaneça úmido por muito tempo. Costumo dizer que não gostam de muita água, mas adoram a umidade no ar. Em climas secos, como na região central do País, recomendo molhar praticamente todos os dias, especialmente o chão do orquidário”, orienta Coelho.
Os especialistas de Curitiba afirmam que precisam de bastante claridade, entretanto, não toleram sol direto. “É melhor mantê-las em ambiente à meia-sombra, mas com claridade abundante. Também devem ficar em local bem ventilado para evitar o surgimento de pragas e doenças.”
A luminosidade adequada é essencial na obtenção de florações abundantes e com flores de bom tamanho e duráveis. “Sendo descendentes da B. digbyana, que vegeta sob alta luminosidade no seu habitat, é natural que exijam grande intensidade de luz para florir. Podem ser colocadas sob tela sombrite de 70% ou debaixo de plástico translúcido. Quando dispostas em árvores, é importante cuidar para que a copa não as sombreie em demasia”, explica Cooke.
Como não suportam encharcamento, o substrato deve permitir o rápido escoamento da água. O engenheiro agrônomo sugere casca de pinus, fibra de coco, esfagno e carvão em proporções variadas, conforme o gosto do cultivador. As Brassolaeliocattleya ainda se adaptam facilmente a placas de madeira.
É indicado o uso quadrimestral do adubo orgânico bokashi, que pode ser complementado com adubo químico NPK 20-20-20 hidrossolúvel (diluído em água de acordo com as instruções do fabricante) aplicado semanalmente no Verão e uma vez ao mês no Inverno. “Este último, também chamado de foliar, deve ser pulverizado em toda a planta, não apenas nas folhas, já que as raízes captam a maior parte do fertilizante”, diz o proprietário do Orquidário Amarílis.
Um ambiente equilibrado, ventilado, com boa umidade relativa do ar e adubação regular previne a maioria das pragas. No entanto, as Brassolaeliocattleya não estão livres do ataque de cochonilhas, lesmas, tripes e caramujos. O tratamento é feito com defensivos indicados por um profissional especializado, como um engenheiro agrônomo.
“As doenças mais comuns são fungos de folha (Cercospora sp) e os que causam podridão (Pythium sp, Fusarium sp etc). Para seu combate, são receitados fungicidas específicos após o diagnóstico do agente causador realizado por um técnico qualificado”, ressalta o especialista da Orchidcastle Agrícola.
Ainda segundo ele, assim como para a maioria das orquídeas, as Brassolaeliocattleya devem ser replantadas quando houver brotação em franco desenvolvimento, para que haja enraizamento mais acelerado, além da sua rápida recuperação pós-plantio. “Esse procedimento é recomendado se o substrato estiver em decomposição, por necessidade de acomodar o exemplar em vaso maior ou de dividi-lo. O amador deve dar preferência aos recipientes de cerâmica baixos e largos, não muito grandes.”
Coelho finaliza dizendo que a última exigência para uma boa floração é a dedicação do cultivador. “Poucas horas por semana são suficientes para acompanhar seu desenvolvimento.”
Bulb. weddelli