Como Cultivar Orquídeas Especial
Pleurothallis
COM MAIS DE 3 MIL REPRESENTANTES, o Pleurothallis ainda é um enigma. Isso porque é pouco explorado e são raras as pesquisas sobre ele. De acordo com o orquidófilo Dalton Holland Baptista, de Piracicaba, SP, durante cerca de 200 anos, este gênero serviu de “porto seguro” aos botânicos, que submetiam as espécies com classificação inexata a ele, tornando-o muito amplo morfologicamente, o que dificultou e quase impossibilitou sua definição.
“Recentemente, análises genéticas têm permitido profundas revisões, porém, este grupo ainda permanece em grande parte por ser esclarecido”, explica, ao adicionar que as principais razões para isso são seu pouco interesse ornamental e a falta de publicações sobre o assunto.
Apesar de passados mais de 30 anos desde o início de sua revisão, mesmo as plantas submetidas a outros gêneros ainda são chamadas de Pleurothallis. Sendo assim, a COLEÇÃO CULTIVO DE ORQUÍDEAS optou por utilizar a nomenclatura antiga, mais conhecida entre os colecionadores.
Características muito distintas
Encontrado do Equador ao Norte do Brasil, passando por Costa Rica e Cuba, o Pths. ruscifolia foi o primeiro representante deste gênero, proposto pelo botânico Robert R. Brown em 1813 e, por isso, é chamado de espécie tipo.
Geograficamente, as espécies que compõem este grupo estão espalhadas em várias regiões das Américas Tropical e Subtropical, sendo o País um destaque pela diversidade e quantidade de amostras. “Apesar da maioria ser epífita, algumas têm hábito terrestre ou mesmo litofítico, desenvolvendo-se em musgo sobre rochas”, afirma Robson Amadeu Pereira, engenheiro agrônomo do Aranda Orquídeas, de Teresópolis, RJ.
Devido a sua magnitude, é difícil enumerar características comuns encontradas em todos os representantes, pois eles se diferem, inclusive, quanto à altura, ao formato, à folha (fina ou suculenta) e à floração (única ou em racemo). No entanto, Pereira cita que todos apresentam duas políneas (massas cerosas constituídas por grãos de pólen). Já o orquidófilo de Piracicaba menciona a ausência de pseudobulbos – substituídos por um caule curto ou longo, chamado ramicaule –, o fato de serem unifoliados e possuírem flores pequenas ou minúsculas.
As particularidades das flores variam muito. “Algumas duram mais de um mês e outras apenas quatro ou cinco dias. O único atributo comum é mesmo o tamanho”, diz Baptista.
Ainda que diminutas, por isso são denominadas micro-orquídeas, essas estruturas possuem cores diversas, como verde, amarela, creme, branca, laranja e vinho, sendo as duas últimas as mais comuns. Em algumas aparecem máculas (pontuações escuras) nas pétalas e sépalas.
A época de floração também é bastante particular, no entanto, acontece basicamente entre a Primavera e o Outono.
A dificuldade de categorizar este gênero em relação ao crescimento é evidente, já que as formas de desenvolvimento são as mais diversas. “Existem plantas que não passam de poucos milímetros e outras que chegam a quase 1 m de altura, com folhas enormes. Quase todas apresentam crescimento lateral, ou seja, são simpodiais. Em determinados casos ocorre brotação no topo do ramicaule e isso geralmente acontece quando são plantadas muito enterradas no substrato ou se a umidade é excessiva (os brotos basais podem estar apodrecendo)”, descreve o especialista do interior paulista.
Vasta diversidade
Embora não sejam muito vistosas e exuberantes, há espécies de Pleurothallis que se sobressaem e conquistam admiradores no mundo todo. O profissional de Teresópolis enumera as mais populares: “Pths. restrepioides, Pths. recurva, Pths. sarracenia, Pths. strupifolia, Pths. riograndensis, Pths. prolifera e Pths. grobyi.”
“Particularmente, aprecio o Pths. pectinata, porque as hastes florais surgem de dentro de suas folhas pendentes”, arrisca Carlos Ervino Haas, proprietário do Orquidário Chácara Suíça, de Curitiba, PR.
Baptista acrescenta o Pths. gracilisepala, agrupado no gênero Acianthera. Raro e nativo de São Paulo e Minas Gerais, apresenta caule curvo e muito fino, além de grossas folhas pendentes. Ele também fala sobre o Pths. purpureoviolacea, reclassificado como Arthrosia, que é muito vistoso, com flores delicadas que se abrem simultaneamente em inflorescências curvadas ou pendentes.
“O Pths. atropurpurea, agora pertencente a Zootrophion, é o único deste gênero no Brasil. Trata-se de uma espécie bastante comum, com flores comparativamente enormes e de sépalas unidas pela base e pelas extremidades”, ressalta o orquidófilo de Piracicaba ao destacar ainda Pths. alligatorifera, Pths. ephemera, Pths. crassicaulis, Pths. tabacina, Pths. seriata e Pths. rubrolineata. Todos recentemente revisados e transferidos para o grupo Pabstiella.
De acordo com Baptista e Pereira, como as espécies de Pleurothallis não têm valor ornamental e apresentam flores pequenas, não há muito interesse por parte dos pesquisadores em desenvolver híbridos.
Cultivo
Como são cerca de 3 mil espécies, não é possível estabelecer um padrão universal de cultivo que pode ser aplicado em todas. O melhor a fazer é pesquisar sobre o exemplar e seu hábito de vida nas matas. “É importante seguir as mesmas condições encontradas na natureza. Ao adquirir a planta, informe-se se aprecia sombra ou sol e se vegetava no topo, no meio ou embaixo de árvore, além de questionar se a região de origem é úmida ou seca”, esclarece Haas.
Baptista concorda: “Considerando a dimensão do grupo, os habitats são os mais diversos, desde robustas espécies rupícolas, que suportam longos períodos de seca e alta luminosidade, até as muito delicadas, que precisam de pouca luz e alta umidade do ar. Existem também aquelas que estão a 3 mil m de altitude ou as que vivem no nível do mar, demandando temperaturas diferentes. Ao respeitar suas necessidades, o cultivo se torna fácil e as plantas crescem, entouceiram rápido e florescem em abundância, quase sempre mais de uma vez ao ano e, algumas vezes, continuamente.”
Para facilitar os primeiros passos de quem pretende colecionar Pleurothallis, o engenheiro agrônomo do Aranda Orquídeas revela que, de modo geral, pode ser plantado em vasos plásticos e de barro, em caixetas ou mesmo diretamente no tronco de árvores de casca rugosa. Sua rega deve ser constante, porém sem exageros – no máximo, três vezes por semana. “Prefira locais de luminosidade intermediária, podendo adotar o uso de sombrite (de 50 a 70%) no Verão. Quanto ao clima, pode ser cultivado em todas as regiões do Brasil, observando sempre a questão da umidade nas áreas mais secas. Como substrato, a mistura de casca de pinus, chip de coco e brita funciona muito bem para a maioria das espécies.”
Em relação à adubação, os três especialistas recomendam NPK com formulação balanceada mais micronutrientes, aplicado quinzenalmente durante o período de crescimento.
A boa notícia é que estas plantas são muito resistentes ao ataque de pragas e doenças. No entanto, podem ser acometidas por cochonilhas, tentecoris e pulgões. Já as lesmas e os caramujos são capazes de devorar seus brotos. Então, o ideal é inspecioná-las constantemente.
Mudanças e revisões
É notória a dificuldade de descrever o gênero, apontando as características principais ou mesmo as condições ideais de cultivo. A somatória desses e de outros fatores fez com que este grupo fosse revisto e redividido, processo que teve início há 30 anos.
“O conceito de Pleurothallis aceito hoje é muito mais estreito. Segundo Carlyle Luer, maior autoridade neste gênero, ele é composto por cerca de 30 espécies. Destas, somente duas comprovadamente existem no Brasil: Pths. ruscifolia e
Pths. pruinosa”, elucida Baptista. E completa: “Esta redução se deve às regras de nomenclatura botânica, que exigem que o grupo no qual a espécie tipo (no caso o Pths. ruscifolia) esteja incluída leve o nome do gênero. As espécies brasileiras anteriormente consideradas Pleurothallis eram cerca de 400. Depois da revisão, os gêneros mais importantes no País que reúnem estas espécies são Acianthera, Anathallis e Pabstiella”, finaliza ele.