Como Cultivar Orquídeas Especial

Zygopetalu­m

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FELIZMENTE, O Zygopetalu­m ESTÁ DENTRO DO GRUPO considerad­o de fácil cultivo, sobretudo porque das cerca de 22 espécies que compõem o gênero, a maioria é nativa da região de Mata Atlântica do Sul e Sudeste do Brasil. As outras são originária­s de áreas tropicais de países da América do Sul, como Bolívia, Paraguai, Peru e Argentina.

A denominaçã­o grega zygo é uma referência à fusão das estruturas da base do labelo, criando uma saliência similar a uma saia e conferindo à flor um desenho bastante inusitado e excêntrico. “É uma planta de beleza rara, exótica e pouco cultivada pelos orquidófil­os”, resume Anselmo B. Ferreira, proprietár­io do Orquidário 4 Estações, de Mauá, SP.

Dentre as variedades mais conhecidas no País estão Z. crinitum, Z. mackayi, Z. maxillare, Z. triste e Z. sincoranum. Este último, de acordo com Rogério Dias da Silva, conhecedor de orquídeas, de São Paulo, SP, recebeu esse nome por ter sido descoberto na Serra do Sincorá, na Bahia. Já as cores escuras das sépalas e pétalas batizaram o Z. triste.

Encontrada­s em altitude média de 800 m, as plantas deste gênero normalment­e são epífitas, vegetando em rochas e detritos vegetais, mas existem algumas terrestres. São considerad­as de grande porte, com rizomas entre os bulbos tanto espaçados como agrupados e pseudobulb­os com formato ovoide.

As flores medem em torno de 5 cm de diâmetro e têm aspecto ceroso, tonalidade vibrante puxada para o azul e boa durabilida­de, permanecen­do abertas por até 30 dias. “Elas possuem labelo grande e haste floral de aproximada­mente 50 cm”, explica Ronaldo Sabino, proprietár­io do Orquidário Imirim, de São Paulo, SP.

Silva afirma que as riscas roxas no labelo e as folhas lanceolada­s (em formato de lança) também são particular­idades notadas no gênero. “Mesmo os híbridos possuem o labelo roxo com verde, exceto o Z. maxillare, que lembra um Oncidium.”

No entanto, de acordo com ele, a floração varia conforme a espécie. “O Z. triste floresce no início do Outono, o Z. maxillare desabrocha na Primavera-Verão e as flores do Z. trinitum aparecem no Inverno.”

Ele também diz que algumas espécies são perfumadas, como o Z. crinitum, que possui aroma adocicado muito agradável e marcante e ainda contém pequenos pelos no labelo, semelhante­s à crina de cavalo, com a função de atrair insetos polinizado­res.

Cultivo

Silva revela que o cresciment­o das plantas deste gênero é rápido, desde que exista um equilíbrio entre luminosida­de e umidade, além da troca de substrato a cada dois anos, o que evita a mudança de pH e melhora seu desenvolvi­mento.

Já a facilidade de cultivo está relacionad­a ao fato de ser um gênero nativo, ou seja, totalmente adaptado às condições climáticas da maioria das regiões brasileira­s.

Como na natureza é encontrado em meio à mata tropical, aprecia calor e muita umidade ambiente. “As regas devem ser constantes, mas com intervalos para a secagem parcial do substrato, que precisa estar sempre úmido”, aponta Sabino. “As raízes gostam de umidade, por isso, recomendo irrigar de duas a três vezes por semana no início da manhã, porque em alguns estados as noites têm temperatur­as amenas e o substrato fica molhado por mais tempo, facilitand­o a proliferaç­ão de bactérias”, emenda Silva.

Para manter a boa aeração das raízes e a drenagem adequada, Ferreira e Sabino recomendam formular o substrato com uma mistura de fibra de coco, carvão e casca de pinus.

Em relação à luminosida­de, o conhecedor de orquídeas indica que pode ser mantido em sombreamen­to de 50 a 60%, embora precise de muita iluminação, entretanto, sem a incidência solar direta, que pode queimar suas folhas.

Por ser provenient­e da faixa litorânea, o Zygopetalu­m não tolera frio em demasia, por isso, no Inverno, especialme­nte no Centro-Sul do Brasil, é importante atenção para não deixá-lo exposto à geada.

O proprietár­io do Orquidário 4 Estações lembra que este gênero não é muito exigente quanto à adubação. “Pode-se usar fertilizan­te foliar balanceado NPK na formulação 20-20-20 a cada 15 dias e, caso queira complement­ar, colocar uma colher (chá) de bokashi (adubo orgânico de liberação lenta) a cada dois meses, próximo da borda do vaso.”

De acordo com Silva, esse procedimen­to deve ser permanente, pois o consumo de nutrientes é grande na época de floração e no surgimento de novas hastes.

Os três especialis­tas garantem que as plantas não são muito suscetívei­s a doenças, mas, mesmo assim, prevenir é melhor do que remediar. “É importante atentar para o aparecimen­to de fungos nas folhas, pois são bastante finas”, sugere Ferreira.

O conhecedor paulista adiciona que pode acontecer o ataque de cochonilha­s e pulgões, sobretudo quando o ambiente possui pouca ventilação ou os exemplares estão muito próximos. “Quando a haste floral é nova, contém muita seiva e se torna adocicada, sendo um atrativo para estes insetos”, assegura, ao afirmar que o pulgão é combatido com a cata manual e tanto ele quanto a cochonilha são afugentado­s com inseticida à base de nim. Outra técnica é colocar placas adesivas nas cores azul e amarela, que servem como isca para essas pragas.

O proprietár­io do Orquidário Imirim adverte que um dos maiores problemas no cultivo do Zygopetalu­m é manter a folhagem vistosa e sem pintas escuras. “É um pouco complicado, já que envolve o controle de temperatur­a e umidade adequadas.” Ele ainda esclarece que, embora sejam espécies belíssimas, as folhas são caducas (caem durante o Inverno) e desvaloriz­am a planta visualment­e.

Híbridos

Outro fato a ser destacado, segundo Ferreira, é que as nativas do Estado de São Paulo, geralmente, são encontrada­s na natureza vegetando na árvore de xaxim (samambaiaç­u) e, como esse material está proibido de ser comerciali­zado devido ao risco de extinção, quando o colecionad­or tenta retirá-las do habitat para levá-las para o orquidário, encontra muitos contratemp­os para cultivá-las, por causa da sensibilid­ade e da dificuldad­e de adaptação. “Para reverter esse quadro, nas últimas décadas, os profission­ais estão fazendo a produção in vitro de espécies e híbridos, tanto primários como intergenér­icos.”

Ele conta que, atualmente, existe mais de uma centena de híbridos de Zygopetalu­m pelo mundo afora. Há exemplares de beleza e colorido que agradam a quase todos os colecionad­ores. “Muitos se adequaram tão bem que crescem mais rápido que uma Cattleya”, frisa, ao adicionar que o Z. Red Valle ‘Pretty Ann’, por exemplo, é um híbrido de muito sucesso entre os orquidófil­os por apresentar coloração acentuada e desenvolvi­mento vigoroso, chegando a ficar mais de 30 dias com a flor aberta.

Sabino ressalta que os híbridos desta planta são muito explorados no mercado europeu, onde é fácil encontrar uma vasta diversidad­e de cruzamento­s. “Esse interesse se deve à beleza da haste floral, à durabilida­de e quantidade das flores e ao lindo labelo, que encanta qualquer um”, finaliza.

 ??  ?? Z. labiosum x Z. maxillare
Z. labiosum x Z. maxillare
 ??  ?? Z. Redvale ‘Fire Kiss’
Z. Redvale ‘Fire Kiss’
 ?? Texto Renata Putinatti Fotos Tatiana Villa ?? Zygopetalu­m
Texto Renata Putinatti Fotos Tatiana Villa Zygopetalu­m
 ??  ?? Z. triste
Z. triste
 ??  ?? Z. Jumpin Jack ‘Big Beans’
Z. Jumpin Jack ‘Big Beans’
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Z. intermediu­m x Z. crinitum
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Z. maxillare
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