Como Cultivar Orquídeas Especial
Stanhopea
À PRIMEIRA VISTA NEM PARECE UMA ORQUÍDEA. As flores de formas intrigantes e bastante curiosas são os destaques das plantas pertencentes ao gênero Stanhopea, que abrange cerca de 60 espécies. Classificado pelos botânicos ingleses John Frost e William Jackson Hooker, em 1829, o nome foi dado em homenagem a Philip Henry Stanhope (17911855), aristocrata inglês (quarto conde Stanhope).
As Stanhopea são epífitas e, ocasionalmente, terrestres. “Estão distribuídas pelas Américas do Sul e Central e México, sendo que mais da metade é encontrada na Costa Rica, no Equador e no México. Há espécies que vegetam do nível do mar até 5 mil m de altitude”, relata Ricardo Gioria, engenheiro agrônomo e orquidófilo, de Bragança Paulista, SP.
No Brasil, ocorrem naturalmente na maioria dos estados, podendo citar como nativas Stan. lietzei, Stan. insignis, Stan. grandiflora, Stan. candida, Stan. tigrina, Stan. oculata e Stan. guttulata. “As mais cultivadas no mundo são Stan. tigrina e Stan. tigrina nigroviolacea. No País, é mais comum aparecerem em coleções Stan. lietzei e Stan. insignis. Muita gente cultiva esta primeira achando que é a Stan. graveolens, oriunda do México, da Guatemala e de Honduras”, afirma o especialista. Vale ressaltar que a brasileira Stan. guttulata é uma das mais raras, estando praticamente extinta na natureza.
Por aqui, há poucas pessoas que realmente se dedicam às plantas deste gênero. As variedades, colorações e espécies são pouco conhecidas pelos orquidófilos. Em geral, florescem no final do ano, mas por pouco tempo, durando de dois a sete dias.
Segundo Gioria, a classificação é baseada no formato e nas características do labelo. Como a cor é secundária, há muitos erros e controvérsias na taxonomia das representantes deste gênero. “Gosto delas pela beleza e exoticidade. Elas fogem do que vemos costumeiramente. Seja pela floração que na maioria das espécies acontece por baixo do vaso, seja pelas formas e variações de tonalidades da flor”, destaca.
Flores
Gioria explica que as flores têm três sépalas, duas pétalas e um labelo, assim como as orquídeas mais comuns. No entanto, seu desenho é bastante intrigante, com pétalas e sépalas voltadas para trás. “No labelo, observa-se a grande diferença quando comparada aos demais gêneros em função das saliências e re-entrâncias da sua anatomia.”
Uma particularidade é que as flores desabrocham pela manhã e a abertura é extremamente rápida, levando poucos minutos. Em outros gêneros, como Cattleya, a flor demora dias para atingir a maturidade. “O mais interessante é que muitos botões estouram, literalmente, durante esse processo fazendo um barulho típico, semelhante a um estalo.”
Dependendo da espécie, a haste floral oferece de duas a mais de dez flores, em geral, pendentes e medindo entre 4 e 20 cm. Surgem durante quase o ano todo, sendo mais frequentes de dezembro a fevereiro.
Muita sombra
As Stanhopea podem ser plantadas em caixetas ou cachepôs de madeira suspensos usando musgo. São exigentes em relação à rega, principalmente na época de brotação. “Quanto à adubação, respondem bem à orgânica, por exemplo, torta de mamona e farinha de osso, e à química, empregando NPK 20-20-20 dissolvido na porção de 1 g/l de água a cada 15 dias”, orienta o orquidófilo.
Elas gostam de ambientes com alta umidade relativa e temperaturas entre 18 e 25ºC. Segundo ele, não são plantas de locais bem iluminados, preferindo os mais sombreados. “Quando recebem muita luz, perdem as folhas ou ficam amareladas e queimadas nas pontas.”
Em geral, não apreciam transplantes. Quando estabelecidas em um vaso, desenvolvem-se bem e emitem grandes bulbos. Para saber se estão saudáveis, basta prestar atenção a dois sinais: ao crescimento radial, com brotação por toda a volta da planta, e às raízes pneumatóforas, ou seja, do tipo respiratórias, eretas e semelhantes a palitos que se distribuem por todo o exemplar.
As representantes deste gênero podem sofrer com danos causados por ácaros, especificamente a espécie Tetranychus urticae, conhecida como ácaro-rajado ou ácaro-de-teia. Esta praga ocorre sobretudo em épocas quentes e de pouca rega.
Hibridação
Alguns híbridos naturais do gênero são Stanhopea x fowlieana (Stan. costaricensis x Stan. ecornuta), da Costa Rica; Stanhopea x herrenhusana (Stan. reichenbachiana x Stan. tricornis), da Colômbia; Stanhopea x horichiana (Stan. ecornuta x Stan. wardii), da Costa Rica; Stanhopea x lewisae (Stan. ecornuta x Stan. inodora), da Guatemala; e Stanhopea x thienii (Stan. annulata x Stan. impressa), do Equador.
“Para efetuar o cruzamento deste gênero deve-se ficar atento a uma particularidade. Em muitas espécies a maturação da estrutura feminina ocorre somente após a retirada da polínea (massa cerosa constituída por grãos de pólen). Para evitar problemas, o ideal é removê-la e guardá-la para realizar o cruzamento no dia seguinte, tempo necessário para a maturação”, ensina Gioria.
Não são comuns híbridos de Stanhopea, porém podem ser encontrados alguns intergenéricos, como com Coryanthes (Coryhopea) e Cirrhaea (Cirrhopea).