Como Cultivar Orquídeas Especial
Delicadas e perfumadas
PARA AQUELES QUE CONHECEM um pouco das orquídeas do gênero Encyclia, sua principal característica é o tamanho reduzido das flores. No entanto, formas e cores, assim como o porte, variam bastante de acordo com as espécies, que chegam a aproximadamente 200.
“Em geral, as flores apresentam diâmetros menores do que 4 cm. As pétalas e sépalas aparecem em tons que vão do amarelo ao verdemusgo, com manchas púrpuras e brancas. Mas também há róseas, púrpuras, marrons e alvas. A durabilidade é prolongada, perdurando entre 20 e 30 dias”, detalha Creuza Müller, proprietária do Orquidário da Mata, da capital paulista.
Ainda em relação a essas estruturas, a especialista afirma que elas compõem inflorescências (conjunto de flores) apicais, arqueadas, delgadas, rijas e paniculadas (que formam cachos ou espigas) ou racemosas, surgindo, na maioria dos casos, em grande quantidade. Outra característica marcante é o aroma. “Grande parte das espécies é perfumada”, adiciona.
A polinização acontece por meio de abelhas e pássaros. Os lobos laterais dos labelos se ajustam de maneira que, quando há o pouso de um inseto, passam para o lado inferior da coluna, impedindo que o labelo volte para sua posição anterior. Tratase de uma peculiaridade das Encyclia.
Morfologicamente, Creuza ainda aponta aspectos gerais destas plantas. “São robustas e apresentam pseudobulbos esféricos ou cônicocilíndricos e folhas longas, em geral, coriáceas e lanceoladas também. Há espécies com apenas poucos centímetros até maiores, atingindo cerca de 1 m.”
Quando não apresentam flores é difícil distingui-las entre si. Há casos em que mesmo com floração, a identificação é complicada. Entretanto, quando é preciso saber apenas o gênero, é mais simples, pois as características comuns das Encyclia (descritas acima) são bastante evidentes.
Originárias do México e da Flórida (Estados Unidos) à Argentina, segundo Vitorino Paiva Castro Neto, orquidófilo e orquidólogo, de São Bernardo do Campo, SP, podem ser encontradas desde o nível do mar até 1.500 m de altitude e da Amazônia de clima quente e úmido até o Cerrado de clima seco.
Das cerca de 200 espécies do gênero, estimase que 47 podem ser encontradas em território brasileiro. No entanto, em um primeiro momento, todas eram classificadas como plantas do grupo Epidendrum. Também houve estudos que reclassificaram algumas, dispondo-as nos gêneros Prosthechea e Dinema.
“Foi o botânico inglês William Jackson Hooker que criou o gênero Encyclia, em 1830. Mas, logo em 1831, John Lindley voltou à classificação anterior, definindo as espécies como Epidendrum. Então, em 1975, o taxonomista brasileiro Guido Frederico João Pabst, em sua obra Orchidaceae Brasilienses, retomou o Encyclia, que é adotado por todos desde então”, conta Castro Neto.
A principal diferença entre os dois grupos está no labelo de suas flores. Os Epidendrum possuem o labelo todo fundido à coluna e nas Encyclia ele é livre, sendo apenas articulado levemente junto à base da coluna. Além disso, os primeiros não apresentam pseudobulbos, mas têm muitas folhas em formato delgado, enquanto as últimas possuem pseudobulbos e poucas folhas longas, coriáceas e lanceoladas.
Cultivo
Estas plantas podem ser facilmente encontradas nas coleções de orquidófilos brasileiros. De acordo com a proprietária do Orquidário da Mata, as espécies mais comuns são Enc. bracteata, Enc. cordigera, Enc. dichroma e Enc. randii.
Ambos os especialistas salientam a importância de muita luminosidade para seu bom desenvolvimento, afirmando que os outros cuidados são semelhantes aos dispensados às Cattleya. Creuza especifica que umidade elevada, água em abundância a cada três dias, boa drenagem e bastante ventilação também são necessárias.
E sugere: “A adubação deve ser rica em nitrogênio (N) quando os pseudobulbos estiverem em fase de crescimento. Antecipando a floração, podese optar por fertilizante rico em fósforo (P) quinzenalmente.”
Como a maioria é epífita (havendo rupícolas e terrestres, mas em menor número), podem ser cultivadas em placas, porém, também costumam ser dispostas em vasos. Em relação ao substrato, dependerá da espécie. “É possível usar uma mistura de turfa com pedra porosa (como a mineira), assim como outros materiais, por exemplo, a combinação de carvão, casca de pinus e pedriscos”, completa Creuza.
Quanto ao replantio, ela continua afirmando que esse procedimento se faz necessário no momento em que o exemplar encostar na borda do vaso ou quando o substrato entrar em decomposição. “Ao realizá-lo, os pseudobulbos devem ser dispostos no centro do recipiente, pois o crescimento da planta ocorre por todos os lados.”
Como acontece com grande parte das orquidáceas, as Encyclia costumam ser atacadas por pragas e doenças devido ao cultivo inadequado. Por exemplo, quando há falta de ventilação, facilita-se o surgimento de cochonilhas e carrapatos. Excesso de água e falta de drenagem podem ser responsáveis por doenças fúngicas. Logo, é fundamental cautela no manejo.
Entretanto, no geral, não é preciso exageros, já que são pouco exigentes. “São orquídeas de fácil cultivo desde que suas necessidades sejam atendidas”, destaca a especialista.
Curiosidades
Não é comum encontrar cruzamentos que adotem espécies do gênero Encyclia. “Realmente, não são muito utilizadas em hibridação por apresentarem flores relativamente pequenas, salvo Enc. cordigera e Enc. randii”, relata Creuza. Ela cita como exemplo dos poucos híbridos existentes a Enc. Summer Perfume, que resulta do cruzamento Enc. mooreana x Enc. handuryi.
Outra curiosidade é o fato da Enc. viridiflora, coletada no Rio de Janeiro por W. Harrison, em 1828, e adotada como espécie tipo para a criação do gênero por Hooker, nunca mais ter sido encontrada. Trata-se de uma orquídea raríssima. Hoje, só existe um desenho.
O nome Encyclia vem da latinização de um verbo grego que significa contornar, rodear, uma referência aos lobos laterais do labelo que envolvem a coluna da flor das espécies deste gênero. Popularmente, estas plantas também são conhecidas como orquídeas-mariposa.