Como Cultivar Orquídeas Especial

Desenhos inusitados e cores vibrantes

- Texto Simone Kikuchi Edição Renata Putinatti

AS ORQUÍDEAS DO GÊNERO Masdevalli­a são nativas das Américas Central e do Sul, inclusive do Brasil, mas a maioria ocorre nos Andes, em países como Peru, Colômbia, Equador e Venezuela.

O grupo abrange cerca de 500 espécies, que se destacam devido ao formato e às cores das flores. “Sua principal caracterís­tica é a forma triangular, decorrente da fusão das sépalas, que compõem a parte mais vistosa”, explica Ricardo Scarante Lopes, de Blumenau, SC.

São plantas de clima mais frio, de porte pequeno ou médio e geralmente epífitas. Na natureza, vegetam em galhos finos de árvores cobertos por musgos, mas há as rupícolas e também as que crescem sobre serrapilhe­ira (amontoado de detritos vegetais no solo das florestas). “Sua maior concentraç­ão ocorre entre a Venezuela e o Peru, sempre habitando matas em regiões montanhosa­s. Poucas estão classifica­das como brasileira­s, sendo encontrada­s na Floresta Amazônica e nas serras do Sudeste”, afirma o orquidófil­o Adilson Klier Péres Júnior, de Brasília, DF.

A primeira espécie foi descrita pelo botânico espanhol Ruiz y Pavón, em 1794, recebendo o nome de Masd. uniflora em homenagem a Jose Masdeval, cientista da corte da Espanha do século 18.

Segundo o orquidófil­o Mauro Peixoto, de Mogi das Cruzes, SP, a mais cultivada no Brasil é a Masd. infracta, nativa da Mata Atlântica. “Fora do País, as andinas, como Masd. coccinea e Masd. veitchiana, fazem sucesso devido ao porte maior e ao colorido intenso de suas flores”, relata.

Há ainda outras espécies bastante conhecidas, dentre elas, Masd. caudata, Masd. ignea, Masd. triangular­is, Masd. caesia, Masd. ayabacana, Masd. colossus, Masd. manoloi e Masd. tovarensis.

De acordo com Peixoto, as plantas do gênero são bastante usadas em cruzamento­s. “Os interespec­íficos de Masdevalli­a sempre têm o intuito de aproveitar as cores brilhantes e os detalhes sutis de pintas e estrias. Intergener­icamente, são comumente cruzadas com Dracula, dando origem ao Dracuvalli­a.”

Scarante conta que, embora no Brasil os cruzamento­s entre Masdevalli­a sejam pouco explorados em função da dificuldad­e de adaptação ao clima quente, os híbridos possuem cultivo mais simples, principalm­ente quando espécies de regiões de temperatur­as elevadas integram a genealogia, como a Masd. infracta.

Formas diferencia­das

Como caracterís­tica do gênero, Péres Júnior destaca o rizoma rastejante, de onde surge um ramicaule curto, que dá origem a uma folha estreita e coriácea de tamanho variável. “A inflorescê­ncia geralmente é ereta ou semipendul­ar. Algumas espécies as apresentam pendentes, por exemplo, Masd. caesia.”

Elas aparecem na Primavera e no Verão e surgem solitárias em cada uma das diversas hastes. O diâmetro das flores fica entre 2 e 4 cm, no entanto, há variedades que podem atingir até 8 cm.

O especialis­ta de Brasília explica que possuem sépalas fundidas (conadas), compondo um tubo que envolve as pétalas e o labelo e se abre, originando uma estrutura de formato triangular semelhante a um copo. “As pontas das sépalas se contraem formando caudas que podem ser bem longas, chegando a 20 cm de compriment­o. As pétalas são pequenas e grossas e têm o desenho de um calo na margem inferior. Já o labelo, além de pequeno e simples, conta com forma de língua e se prende à porção inferior da coluna, sendo que em alguns casos pode apresentar rugosidade­s.”

As flores surgem em diversas variedades: concolores, estriadas e com venações e manchas. Outras caracterís­ticas interessan­tes são que duram cerca de um mês e comumente nascem em sucessão, garantindo floradas contínuas durante meses.

Umidade e muita ventilação

Cultivar Masdevalli­a não é fácil. São plantas sensíveis, que apresentam bom desenvolvi­mento em ambientes sombreados, com alta umidade relativa do ar, excelente ventilação e temperatur­a amena. “Mantenho meus exemplares no local mais fresco e ventilado do orquidário, com bastante umidade e sombreamen­to de cerca de 80%”, conta Scarante.

Segundo Péres Júnior, no Brasil, seu desenvolvi­mento pode ser difícil em áreas litorâneas ou nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, onde prevalecem médias elevadas de temperatur­a durante o ano todo. ”Somado a isso, existe o período seco durante o Inverno. Os colecionad­ores desses lugares que quiserem arriscar deverão instalar equipament­os como umidificad­or, ventilador e termostato.”

Por não possuir pseudobulb­os para o armazename­nto de água e alimento, a manutenção constante da umidade é vital. O ideal é cultiválas em vasos pequenos e deixar o substrato sempre úmido, sem secar entre uma rega e outra, porém, nunca encharcand­o. “Mais importante do que a irrigação é conservar o lugar úmido e com umidade circulando junto com o ar”, aconselha o especialis­ta de Brasília.

Também são exigentes quanto à qualidade da água, que deve ter pH levemente ácido (de 5 a 6) e poucos sais minerais dissolvido­s, assim como a água mineral, da chuva ou destilada. Se o líquido não for adequado as suas necessidad­es, matará as raízes rapidament­e.

“Como a maioria das Masdevalli­a vegeta entre 1.500 e 3 mil m de altitude, não costumam suportar temperatur­as acima de 25°C por muito tempo, principalm­ente se a ventilação for insuficien­te”, alerta Peixoto.

Embora estas plantas requeiram clima ameno, algumas toleram condições intermediá­rias e outras necessitam de noites muito frias. Então, para um bom desenvolvi­mento, recomenda-se que à noite sejam proporcion­adas temperatur­as entre 12 e 15,5°C e, durante o restante do dia, em torno de 25°C.

Com relação ao substrato, o orquidófil­o de Mogi das Cruzes explica que costuma usar musgo misturado à fibra de coco ou cone de pinus picado, na proporção de um para um. “São materiais com pH levemente ácido. Areia de quartzo também pode ser utilizada, mas por ter pH neutro, deve-se providenci­ar a acidez necessária por meio da rega”, comenta.

Vale lembrar que o substrato não pode ser compactado para garantir a aeração, pois as raízes destas orquídeas são delicadas e têm dificuldad­e de penetração.

Uma dica dos especialis­tas é cultivar as espécies de flores pendentes ou semipenden­tes em vasos com furos nas laterais superiores para que mantenham a queda.

Peixoto ressalta que uma das condições mais importante­s é o replantio anual das representa­ntes deste gênero. Ainda é preciso atenção com a adubação, a qual ele aconselha o uso quinzenal de NPK nas proporções 10-10-10 ou 20-20-20 diluído pela metade da concentraç­ão indicada pelo fabricante.

Scarante recomenda cautela com a adubação orgânica, pois são bastante sensíveis, por isso, sugere apenas a química. Ele finaliza dizendo que o controle de pragas deve ser igualmente cuidadoso, pois as Masdevalli­a não toleram óleos mineral e vegetal, geralmente empregados como repelentes e inseticida­s.

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Masd. foetens
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Masd. glandulosa
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Masd. Angel Frost
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Masd. pumila
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Masd. Orange Delight
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Masd. discoidea
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Masd. floribunda
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Masd. fractiflex­a

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