Como Cultivar Orquídeas Especial
Paixão de colecionador
FALAR SOBRE Oncidium é remeter imediatamente a orquídeas pequenas, delicadas e perfumadas, de amarelo intenso. E não é para menos: o gênero – definido pelo botânico sueco Olof Swartz em 1800 – inclui, em sua maior parte, plantas cujas flores possuem mesmo estas características.
Ainda assim, há variedades róseas, brancas e castanhas, cada uma com sua própria beleza. Basicamente, são epífitas, embora algumas sejam terrestres. Em relação ao pseudobulbo, também está presente na maioria, mas não em todas elas.
De seu nome, o naturalista e estudioso das orquidáceas Roberto A. Kautsky, de Domingos Martins, ES, em seu livro A Beleza Exótica das Orquídeas e Bromélias, cita: “significa ‘saliência’, ‘bojo’ ou ‘protuberância’, numa referência ao calo do labelo”.
Segundo Carlos Eduardo de Britto Pereira, orquidófilo, do Rio de Janeiro, RJ, trata-se de um gênero das Américas, existindo mais de cem espécies brasileiras. Estudos apontam Colômbia, Equador, Venezuela, Peru e Brasil como os países com maior diversidade. Quanto ao total, os números divergem de 330 a mais de mil, distribuídas principalmente na América do Sul, mas também encontradas nas Américas Central e Andina e em algumas regiões dos Estados Unidos.
Tais divergências derivam de pesquisas recentes com base em estudos genéticos. “Estão reclassificando e dividindo os grupos, subgrupos e subgêneros. Isso ainda é muito atual”, explica Ronaldo Sabino, proprietário do Orquidário Imirim, de São Paulo, SP. Como exemplo, ele cita o Onc. lanceanum, cuja denominação se tornou Lophiaris lanceana; e Onc. fuscatum, agora Chamaeleorchis warscewiczii; além de Onc. sarcodes que passou a ser Baptistonia sarcodes.
As inúmeras espécies provêm de diversos ecossistemas. A grande maioria é de clima frio ou de campos de altitude, como aponta Pereira. Ele diz que poucas ocorrem em regiões secas, como no Cerrado e no Nordeste, mas que não seria impossível encontrar exemplares à beira de um rio e em outras áreas de alta umidade. “Algumas requerem mais água, enquanto outras, menos”, comenta.
Fama
Amplamente conhecidas, as espécies mais comuns podem ser encontradas nas floriculturas. São a Onc. varicosum, popularmente chamada de chuva-de-ouro, e a Onc. flexuosum, o pingo-de-ouro. “As flores da primeira são maiores que as da segunda, mas ambas são muito duráveis e decorativas, apresentando tom intenso de amarelo”, detalha Sabino.
Contudo, quando executadas hibridações, podem ser obtidas flores maiores e mais vistosas, além de ser possível promover a facilidade no cultivo e até mesmo a redução do tempo de desenvolvimento das plantas. “Temos o Onc. Aloha Iwanaga e o Onc. Sweet Sugar, com flores grandes e de boa durabilidade. Mas o carro-chefe, sem dúvida, é a famosa Chocolate ou Onc. Sharry Baby, que possui um inconfundível perfume de chocolate”, revela o proprietário do Orquidário Imirim.
De acordo com Pereira, as hibridações costumam ser feitas com espécies mais próximas dos gêneros Miltonia, Rodriguezia e Odontoglossum.
Em relação à quantidade, boa parte conta com 30 a 50 flores. No entanto, existem as que chegam a oferecer mais de cem, por exemplo, o Onc. pumilum e o Onc. pulvinatum. É difícil dizer exatamente a época que desbrocham, tendo em vista que cada uma se comporta de maneira diferente.
Cuidados
O orquidófilo fluminense diz que a maioria das espécies do gênero Oncidium precisa de umidade noturna, com névoa. “Se for cultivada no Rio de Janeiro, por exemplo, não vai sobreviver. Pode até conseguir nos primeiros anos, mas irá definhar aos poucos.”
Ele explica que o ideal é oferecer às plantas uma diferença entre as temperaturas diurna e noturna. “Por isso, os híbridos possuem cultivo mais fácil. Até estarem prontos para venda, são mantidos em estufas, onde a amplitude térmica é menor do que em ambiente natural”, justifica.
Quanto ao substrato, Sabino observa que muitas orquídeas se adaptam às opções do mercado, mas que a maior parte se desenvolve bem em casca de peroba. “Promove bom arejamento radicular e perfeita drenagem, evitando o acúmulo de água durante a brotação. Isso poderia ‘melar’ o broto”, aponta.
Algumas espécies possuem raízes muito finas, sendo melhor plantálas em musgo bem solto. Também é possível utilizar pedra brita tamanho zero bem lavada, precisando irrigar diariamente, pois esse material não conserva umidade.
Para as de folhas finas, indica manter adubação química, pois, segundo ele, no caso de produto orgânico de origem duvidosa, há possibilidade de ficarem “pintadas”. Com adubação foliar equilibrada – a sugestão é NPK 20-20-20 –, somada à ventilação adequada e ao substrato novo e de boa qualidade, ocorre também a prevenção a seres nocivos, como fungos e bactérias. “O ideal é utilizar calda bordalesa, sobretudo no período de chuvas”, recomenda Sabino.
Pereira alerta para a incidência de cochonilhas e pulgões. “Os Oncidium são mais suscetíveis a essas pragas do que outros gêneros, como Cattleya, por suas folhas serem menos coriáceas.” Em sua coleção, o orquidófilo dá preferência ao uso de predadores naturais em vez de pesticidas.
Ainda assim, a única dificuldade no cultivo, tanto para Sabino como para Pereira, é oferecer às plantas uma temperatura adequada – daí a importância de conhecer suas características e necessidades.