O rei dos baixinhos
Inspirado nos livros que escreveu em homenagem aos filho, Lázaro Ramos lança projeto musical para crianças
DISPOSTO A ESTIMULAR UMA INFÂNCIA saudável para as crianças, há pouco menos de um mês, Lázaro Ramos lançou o projeto musical multimídia Viagens da Caixa Mágica. As nove canções do álbum, disponíveis também em clipes animados e em realidade virtual no Youtube, foram inspiradas nos livros Caderno de Rimas do João e Caderno Sem Rimas da Maria (Ed. Pallas), que o ator escreveu em homenagem aos filhos João Vicente, de 8 anos, e Maria Antônia, 4, da união com Taís Araújo. Para realizar a empreitada, ele fez duas importantes parcerias: com o músico baiano Jarbas Bittencourt, que compôs quase todas as músicas com o ator, e atriz e cantora angolana Heloísa Jorge, a voz feminina do projeto. Se o trio pretende cair na estrada com o espetáculo? “Não temos planos de turnê. Temos um show pronto, banda, figurino, mas cada um com a própria carreira. Se tiver convites, vamos organizar para fazer porque entendemos que é algo bem aceito. Por enquanto estamos nos encontros esporádicos”, avisa Lázaro. Em entrevista à CONTIGO!, ele falou sobre as participações das cantoras Lellê e Jéssica Ellen nas gravações, a música em homenagem à Gilberto Gil, e o recadinho que recebeu do filho que tanto o inspirou na empreitada pelo universo infantil: “Nossa, pai, já chega, tudo que faz você coloca meu nome”.
Como nasceu o Lázaro compositor e cantor?
Quando comecei a fazer teatro na Bahia, por vir de um grupo que tinha relação com o Olodum, o Bando de Teatro Olodum, o trabalho musical sempre esteve presente. Nunca me considerei cantor. Sempre fui treinado para ser um ator que canta. Aos 20 anos, ao escrever o meu primeiro espetáculo infantil, na ausência de contato com pessoas da música, me vi obrigado a fazer canções para o espetáculo. Recentemente, cantei uma música do Mundo Bita, Sinto o que Sinto, e agora veio o Viagens com Jarbas Bittencourt. Ele é diretor musical de teatro e tem uma grande sintonia comigo desde a adolescência. A gente fez essas canções especiais para o projeto novo.
Quando vislumbrou a chance de transformar seus livros em um projeto com clipes para o Youtube?
Me dei conta aos poucos. Pedi ao Jarbas para musicar uma das passagens do livro para fazer um lançamento diferente em que eu cantasse. Ele, empolgado, fez várias canções e começamos a nos dar conta de que era bom. No lançamento, quando cantamos com voz e violão, o público e os amigos disseram que era algo diferente. Então, entramos em estúdio. Tudo despretensiosamente. Mas, com a qualidade do material, entendemos que podia ser algo diferente para o entretenimento infantil.
O que é mais nocivo na educação das crianças hoje em dia?
A ausência de atenção, cuidado. E essa presença pode ser feita por pais, mães, família... Mas, ao mesmo tempo, por qualquer pessoa que olhe para uma criança com dedicação e lhe ofereça acolhimento e direcionamento para ela crescer saudável e virar um adulto saudável.
Durante a concepção do projeto, o que de mais divertido você, o Jarbas Bittencourt e a Heloísa Jorge vivenciaram?
Tudo foi divertido. Isso foi o nosso alimento. Em alguns momentos, nos transformávamos em criança para cantar. Somos bem-humorados e com a música esse humor ficou mais evidente. A nossa satisfação foi grande. Inclusive, entender a música junto com o público. Não sabíamos que algumas canções emocionavam e, de repente, o público escutava e saia emocionado. Já outras canções não sabíamos que eram tão engraçadas. Fizemos poucas apresentações, mas os shows foram interrompidos várias vezes pela nossa surpresa em relação à reação do público.
O que aprendeu com esse projeto?
Que o entretenimento para crianças pode, sim, ser feito com equilíbrio das maneiras de consumir.
“Nunca me considerei cantor. Sempre fui treinado para ser um ator que canta. Mas aos 20 anos, ao escrever o meu primeiro espetáculo infantil, na ausência de contato com pessoas da música, me vi obrigado a fazer canções para o espetáculo”
Eu tenho, claro, a precaução de não estimular a criança a ficar enfurnada no tablet, computador e celular. Mas, ao mesmo tempo, essa também é uma comunicação da geração deles. O que esse projeto me ensinou: que eu podia criar músicas, canções e entretenimento infantil capaz de passar por vários lugares com conteúdo similar. Partiu do livro, virou vinil, videoclipe e vídeo lyrics em realidade virtual. E todos eles passam um conteúdo relevante e divertido. Existe um meio do caminho, onde a criança não fique paralisada em algo tecnológico nem totalmente ausente.
Qual música deu mais trabalho para chegar ao resultado desejado?
A única que eu não compus com o Jarbas, Dois Irmãos. Ele, observando a nossa relação familiar, fez essa música e deu voz a um sentimento grande de amor que tenho pelos meus filhos. Para cantá-la, sempre travo a garganta e me emociono. Ela tem algo de tão íntimo que me constrange por compartilhar esse amor gigante com o mundo, mas ao mesmo tempo não é algo comum. Ainda mais na voz de um pai. São palavras de amor que me tocam muito. Então, é difícil de interpretar e chegar no formato porque é delicada na execução.
Pretende fazer uma turnê pelo país?
Não temos planos de turnê. Temos um show pronto, banda, figurino, mas cada um com a própria carreira. Se tiverem convites, vamos tentar organizar para fazer porque entendemos que é algo bem aceito. Por enquanto estamos nos encontros esporádicos.
Por que homenagear Gilberto Gil na música Uêpabê Mamá?
Meu filho conheceu o Gil na vinheta do canal Gloob. No carnaval, em Salvador, viu Gil e ficou encantado. Depois, mostrei a música Palco e ele disse: “Poxa, pai. Obrigado por me apresentar Gil”. Todo mundo tinha que conhecer as músicas de Gil e isso é inspirador como tudo nesse trabalho é inspirado na relação com nossos filhos. Esse momento lindo virou canção.
Por que as participações de Lellê e Jéssica Ellen?
O projeto é feito a partir do carinho que as pessoas têm entre si. Lellê e Jéssica são queridas amigas que estão sempre em casa e fazem parte da nossa vida. Duas cantoras e atrizes admiráveis e, pela proximidade, brincando, começamos a cantar canções e a gente as convidou. Não teve planejamento. Foi por meio do carinho e afeto.
“Fico feliz porque é o meu primeiro trabalho que (meus filhos) acompanham de verdade, pois a maioria dos meus filmes e peças são para adultos. Já dirigi peça infantil, mas não estive em cena. Esse é primeiro trabalho que podem ver e sentir orgulho do pai”
Como seus filhos reagiram ao descobrir que escreveu um livro homenageando-os?
Ficaram muito metidos a bestas. O que é lindo, né? Esse é o terceiro trabalho em que o João está presente. Nesse infantil, ele falou: “Nossa, pai, já chega, tudo que você faz você coloca meu nome”. Aí, parei de fazer. Só que o caderno de rimas do João foi feito em parceria com ele por meio das nossas conversas. E ele ficou tão feliz que no aniversário me pediu para dar o livro como lembrança para os amigos.
E a Maria?
Ela diz que escreveu os livros. Simples assim. Sempre mostra a ilustração, conversa com as pessoas. O mais bacana, além de terem aprendido coisas com o livro, é que fizemos juntos mesmo. A partir da observação da nossa relação. O livro da Maria tem a palavra “atrapalhante” inventada pelo João.
Eles interferiram nas músicas?
Com a observação. Eles participam em duas músicas. Se divertem, dançam... Fico feliz porque é o meu primeiro trabalho que acompanham de verdade, pois a maioria dos meus filmes e peças são para adultos. Já dirigi peça infantil, mas não estive em cena. Esse é primeiro trabalho que podem ver e sentir orgulho do pai.
“Ela (Taís Araújo) é incentivadora de tudo que faço. Em algum momento até quis participar de uma das músicas cantando, mas depois desistiu”
Taís Araújo, participou do projeto?
Ela é incentivadora de tudo que faço. Em algum momento ela até quis participar de uma das músicas cantando, mas depois desistiu.
A partir de que momento começou a sentir desejo de falar com o mundo o infantil?
Não sabia que trabalharia nesse universo. Escrevia texto para me comunicar e percebi que dialogavam bem com o universo infantil. Então, comecei a adaptá-los propositalmente para transformar em textos para crianças. Isso faz os conteúdos dialogarem com as famílias, pais e mães que percebem uma camada enquanto as crianças notam outra.
Quais seus próximos projetos?
Os novos projetos pessoais têm todos a ver com a escrita. Quanto mais o tempo passa, mais escrevo para crianças, adultos. É algo que está me encantando. Tem a estreia do filme do Daniel Filho, o Silêncio da Chuva, e ainda estou terminando de dirigir meu filme, Medida Provisória.