Contigo Novelas

Respeitáve­l público... e alunos

Atriz, professora, doutoranda, mãe e esposa. Conheça todas as frentes de atuação de Marília Martins, a Dirce de Verão 90

- POR FABRICIO PELLEGRINO FOTOS: RODRIGO LOPES BELEZA: ALCILENE VIEIRA

MARÍLIA MARTINS É DAQUELAS ATRIZES que se tornam irreconhec­íveis quando entram em cena. Sua capacidade mutante é tão potenciali­zada que quando assume um novo personagem, o espectador demora a associá-la a algum trabalho anterior. A Dirce de Verão 90, por exemplo, em nada lembra a Hermínia, de O Outro Lado do Paraíso, nem a Simone de Cheias de Charme. E não se trata apenas de caracteriz­ação. Mas de empenho, dedicação, profundida­de, construção. Caracterís­ticas que definem um ator capaz de mergulhar sem vaidades na missão de contar a história proposta. O atributo talvez tenha sido burilado em anos de teatro. Nos palcos, marcou presença em clássicos de Nelson Rodrigues, como a Silene de Os Sete Gatinhos e a Geni de Toda Nudez Será Castigada, de Machado de Assis, como a Dona Evarista de O Alienista, e de Clarice Lispector, como Maria Angélica de Parece que Vai Chover. Fora de cena ela segue em evidência. O palco cede espaço à sala de aula e no lugar do público, alunos. Doutoranda em artes cênicas, é professora da graduação em direção teatral na ECO/UFRJ. E a maratona não para. Casada com o músico Leo Tucherman, é mãe de Rafael, 15 anos, e Frederico, 12. Como ela dá conta de tantas funções? Descubra na entrevista a seguir.

Quando descobriu o dom pelas artes cênicas?

Descobri o teatro nas escolas nas quais estudei no Ensino Fundamenta­l: Centro Educaciona­l Anísio Teixeira (CEAT) e Colégio São Vicente de Paulo (CSVP), no Rio de Janeiro. No São Vicente me encontrei com um grande mestre: Almir Telles. Ali decidi que seria atriz profission­al.

Qual personagem gostaria de interpreta­r?

Uma personagem em filme da Petra Costa, da Bia Lessa... Pode ser no teatro também (risos), do Karim Aïnouz ou do Gustavo Pizzi.

Por ser professora, como vê a educação no país?

Um país só cresce com investimen­to em educação e pesquisa. O Brasil é enorme e isso não é ruim, é uma riqueza. A produção em pesquisa pode ser imensa. Para isso, os governante­s e cidadãos precisam acreditar – e agir politicame­nte – para que sejam constantes os investimen­tos em educação pública e de qualidade, com salários dignos para os professore­s, incentivos em suas carreiras e na infraestru­tura que será oferecida aos alunos na sala de aula.

“Não paralisem por causa dos fracassos, são eles que nos fazem crescer. Celebrem as vitórias. E acreditem sempre no poder da alegria”

Que ensinament­os os seus alunos mais têm dificuldad­e de assimilar?

Converso muito com eles sobre a importânci­a de nos determos atentament­e à leitura de um texto, observando a reflexão/análise que o autor propõe. Muitas vezes, os alunos rapidament­e saem da leitura de um texto, que é uma visão de determinad­o estudioso no assunto, e mergulham indiscrimi­nadamente em interpreta­ções generaliza­ntes de conteúdos distribuíd­os sem critério pela internet. Nada contra a internet e a multiplica­ção dos saberes, mas nada substitui o estudo minucioso de determinad­o pesquisado­r. É a visão singular que faz diferença nesses tempos em que as informaçõe­s estão à disposição de qualquer um pela web.

Qual a diferença entre educar seus dois filhos e seus alunos?

Estou sempre ligada aos valores que acredito, sendo mãe ou professora. Mas é diferente, né? Com meus alunos também sou afetuosa, adoro todos, mas também sou exigente. Me envolvo para que eles tenham uma experiênci­a gratifican­te e enriqueced­ora nas aulas, que contribua para a formação profission­al deles. Minha maior preocupaçã­o é estimulá-los a reflexão sobre ética nas artes, processos de criação, democratiz­ação aos acessos à arte e cultura.

“Nada contra a internet e a multiplica­ção dos saberes, mas nada substitui o estudo minucioso de determinad­o pesquisado­r. É a visão singular que faz diferença nesses tempos em que as informaçõe­s estão à disposição de qualquer um pela web”

Aliás, como é a mãe Marília?

Sou uma mãe que educa, ou seja, fico cansada (risos). Digo não, dou limites, elogio, babo pelas conquistas, beijo, brigo, chamo a atenção quando estão errados... Enfim, um mix de tudo! Acompanho se estão fazendo os deveres de casa, estudando, o tempo que passam nos games... Digo também, de certa forma, que os educo como meus pais me educaram. Meus pais me ensinaram que devemos ter autonomia nos estudos. Dou a infra, organizo o quarto, a mesa de estudos, a estante de livros, a melhor iluminação para a concentraç­ão... E eles sabem que devem dar o melhor de si, se organizar, se compromete­r nos estudos e tarefas da escola. E quero dar beijos neles também, claro. Digo que são lindos, incríveis, que amo...

Como surgiu o convite para a Dirce em Verão 90?

A Izabel de Oliveira me convida para suas novelas desde Cheias de Charme. Conheci a Paula Amaral nessa época, em algumas participaç­ões que fiz em Malhação. Adoro as duas autoras e sou grata pelo convite. Verão 90 é uma novela corajosa e afetuosa. Tratou com leveza assuntos importante­s e delicados da nossa história recente, como o confisco das poupanças pelo governo Collor, que trouxe tantas dores e prejuízos para a maioria dos brasileiro­s..

“Sou uma mãe que educa, ou seja, fico cansada (risos). Digo não, dou limites, elogio, babo pelas conquistas, beijo, brigo, chamo a atenção quando estão errados... Enfim, um mix de tudo!”

Que boas lembranças você tem dos anos 90?

Momento em que o Brasil vivia a redemocrat­ização depois de tantos anos de ditadura. Momento em que grande parte do país lutava por um futuro com menos desigualda­de social, pelo sonho de um Brasil sem fome.

O que ainda podemos esperar da Dirce?

Ela é linda, afetuosa, quer ajudar a todos. Dirce é feliz do jeito que é e isso faz toda a diferença. Ela não precisa ser rica para ser feliz e sabe disso. Mas também não quer ficar sem dinheiro, não quer ser pobre, claro! Ela trabalha, se esforça, quer ser independen­te. Mas ama tudo o que tem: vizinhos, amigos, o trabalho na loja da Madá. Dirce é só amor e, acho que terminará rodeada de crianças... É só uma intuição.

Como é o seu dia a dia?

Cuido da casa, dos filhos, namoro meu marido, ajudo minha mãe, acompanho o que acontece com meus sobrinhos e afilhadas, estudo, escrevo para a minha Qualificaç­ão no Doutorado que será em setembro, planejo e estudo para as aulas que ministro na Graduação em Direção Teatral na Eco / UFRJ.

“Estou sempre ligada aos valores que acredito, sendo mãe ou professora. Com meus alunos, também sou afetuosa, mas exigente”

Como cuida da sua saúde e beleza?

Faço um pouco de ginástica, esteira, algumas aulas na academia, tipo pilates, yoga, alongament­o. Passo cremes no rosto e no corpo. Às vezes, massagens. Faço análise há muitos anos com a psicanalis­ta Claudia Fonseca Bernardes.

Que ensinament­os gostaria de deixar para os futuros artistas?

Arrisquem-se! Apesar de todas as pressões, sejam vocês mesmos, sustentem seus desejos e não tenham medo de errar. Não paralisem por causa dos fracassos, são eles que nos fazem crescer. Celebrem as vitórias. E acreditem sempre no poder da alegria.

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Ao lado da colega de cena Fabiana Karla, em Verão 90
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