Voltei para retomar minha carreira
Após uma década longe do Brasil, Rita Guedes retorna ao país com projetos e superações na bagagem
HÁ DEZ ANOS, RITA GUEDES DEIXOU O Brasil para estudar nos Estados Unidos. Nesse período, desembarcou por aqui para trabalhos pontuais, como a novela Flor do Caribe, (Globo, 2013), e as duas edições do filme Qualquer Gato Vira-lata (2011 e 2015) , além de participações especiais na TV. De volta à pátria amada, já acumula projetos em diversas frentes: as séries Arcanjo Renegado (Globoplay) e a nova temporada de 1 Contra Todos (Fox Premium), o humorístico Tô de Graça (Multishow) e a adaptação da peça francesa Uma Relação Tão Delicada. Como dizem no popular, ela chegou chegando. Com exclusividade à CONTIGO!, a estrela fala das novas personagens, as alegrias e tristezas de morar longe do país de origem, as cobranças por ser solteira e não ter filhos aos 47 anos.
Por que foi morar nos Estados Unidos?
Fui estudar inglês e fazer cursos [direção, atuação e roteiro]. Ia ficar um ano. Estudei com coaches respeitados, como a Leslie Kahn e a Bobbie Chance, coach de Scarlett Johansson, Drew Barrymore, Anthony Hopkins, Brad Pitt… Fiz curso de roteiro na UCLA e coloquei projetos no papel. Em Los Angeles, produzi e atuei no filme Mar Inquieto, pela minha produtora, a Guedes Filmes. Ele foi bem recebido pelo público americano no Los Angeles Brazilian Film Festival.
“Gosto de estar apaixonada. Sou romântica e adoro cuidar de quem está comigo”
E acabou ficando por lá?
Quando vi, passaram-se dez anos. Me apaixonei pela cidade, cursos. E, claro, a educação, segurança, respeito às leis… Enfim, tudo que deveríamos ter para viver com dignidade, encontrei nos Estados Unidos.
Por que voltou para o Brasil agora?
Porque amo meu país apesar do caos, corrupção política, descaso e destrato. Voltei para retomar minha carreira e por saudade da família e amigos. Devo muito aos fãs, que me enviavam mensagens lindas e pedindo a minha volta. Esse amor não tem preço.
Em Arcanjo Renegado, você será uma deputada e presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). Do que trata a série?
É um drama com ação sobre o universo do Bope e da política. Um roteiro lindo, forte e emocionante.
E como será o seu papel?
Farei a Manuela Berengher, política honesta e respeitada. Uma advogada que defende causas tributárias contra o Estado. Casada com um diplomata francês, tem um filho jovem. Pragmática e destemida. Ela bate de frente com o governador do Rio. Os dois são do mesmo partido, mas divergem em muitos pontos.
“O povo não confia mais a nação a políticos que a destruíram. Agora existe fome de conhecimento para cobrar direitos e exercer deveres”
Fazer uma deputada mudou sua visão sobre como se faz política no Brasil?
Como todo brasileiro que deseja um futuro melhor, comecei a me interessar mais por política. Me inspirei em mulheres fortes da política, como as deputadas Tabata Amaral e Lucinha. Governar nosso país é uma missão, pois a corrupção se instalou em todas as áreas. Precisamos continuar com a “faxina”, apoiar a Lava Jato e órgãos competentes que investigam irregularidades. Fazer política limpa é heroico e temos grandes políticos que trabalham honestamente.
Em 1 Contra Todos sua personagem é uma ex-prostituta casada com um político…
A Telma é uma mulher forte. Na terceira temporada, ela se separa do marido e reabre o bordel onde o ex fazia encontros políticos. Ela e a Malu [Julia Ianina] retomam os acordos e conchavos. Uma política sua.
Por que, hoje, tantas obras falam de política?
Devido ao caos. O povo não confia mais a nação a políticos que a destruíram. Agora existe fome de conhecimento para cobrar direitos e exercer deveres. O índice de desemprego é assustador, a educação e a saúde sofrem descaso. O povo acordou e, por esse prisma, é um ganho. Afinal, hoje sabemos que podemos lutar por um país melhor e ajudar a fazer a diferença.>>
“Busco sempre ser a melhor versão de mim, mas não tenho que provar nada a ninguém. Já fiz trabalhos suficientes que mostraram meu talento”
Qual a importância da série Tô de Graça e do longa Mar Inquieto na sua carreira hoje?
A série é uma delícia! O Rodrigo Santanna é talentoso e reuniu um elenco maravilhoso. A gente tem o feedback na hora com essa mistura de teatro e TV, pois existe interação com o público. Adoro fazer comédia, pois é um espaço em que o ridículo vira arte e o limite está na verdade de cada ação. É libertador!
E o filme?
Fiz a Anita: uma mulher com um passado ligado às drogas que se livra disso ao casar com um homem misterioso. Ele a leva para morar em uma praia deserta, cheia de lendas e mistérios. Anita precisa sobreviver cercada por homens machistas e perigosos.
Você vai produzir e protagonizar a peça Uma Relação Tão Delicada, que fala da relação entre mãe e filha. Por que contar essa história agora?
É uma história linda entre duas mulheres. Tentei montá-la há dez anos, mas não tinha a idade pedida pela autora. Com a internet, temos muita informação e pouco tempo para as relações humanas. As redes sociais trataram de minguá-las. As pessoas resolvem tudo por Whatsapp: brigas e reconciliações... Isso é frio e destrói o elo entre as pessoas.
“As redes sociais minguaram as relações humanas. As pessoas resolvem tudo por Whatsapp: brigas, reconciliações...”
E qual o propósito do espetáculo?
A peça resgata essa relação de amor, que envolve outros sentimentos quando se trata de mãe e filha [o], da infância à velhice. O espetáculo provoca um paralelismo equilibrado entre determinadas cenas que se repetem com 30 ou 40 anos de intervalo, mas com os papéis invertidos pelas circunstâncias da vida. Um dia, nos tornaremos, de muitos modos, pais de nossos pais.
Se sente pressionada por não ter, até o momento, se tornado mãe?
Fui muito cobrada pela família e pelo público para me casar e ser mãe. Sempre disse que irei, sim, me casar e serei mãe, mas não tenho pressa. Não existe idade para isso. Sempre fui independente e preferi bancar a vida que escolhi para ser feliz. Não acho que, só por ser mulher, você deva casar e ter filhos para ser enquadrada na categoria “mulher realizada”. Isso é um equívoco. Cada mulher pode escolher o próprio rumo. A independência e as conquistas femininas ainda assustam os homens e a elas próprias. Muitas mulheres que estiveram à sombra da sociedade estão reconhecendo o próprio valor e capacidade. Temos ainda muito o que lutar por igualdade, mas estamos no caminho e precisamos do apoio dos homens nessa conquista de direitos iguais.
Como é envelhecer publicamente em uma sociedade que cada vez mais valoriza a aparência?
Isso não me preocupa. Tenho cuidados com alimentação e excelentes dermatologistas. Quero envelhecer linda e com saúde [risos]. A beleza maior vem de dentro, da sua aceitação, do amor-próprio. Acho uma loucura meninas de 20 anos fazerem aplicações no rosto e cirurgias para seguir padrões. Jamais serei escrava de nada, principalmente de algo passageiro. Acho certas mulheres mais velhas mais interessantes do que as novas. A beleza está em outro lugar. Me sinto feliz, de bem comigo mesma e jamais mudaria o que sou hoje.
Quais personagens considera que mudaram o olhar do público em relação à sua atuação?
Estreei na TV aos 20 anos com uma antagonista que conquistou o público, a Bianca de Despedida de Solteiro [1992]. Ela era uma menina que usava a sensualidade para conquistar objetivos. Depois, sempre fui convidada a fazer mulheres fortes e provocantes, mas todas tinham um drama ou algo mais forte do que a beleza. Isso fez com que me apaixonasse por cada uma. Nunca me incomodei em fazer mulheres com esse perfil. Porém, busco me melhorar, estou em constante transformação e aprendizado. Logo, personagens diferentes fazem parte dessa busca.
“Fui muito cobrada pela família e pelo público para casar e ter filhos. Sempre disse que irei, sim, me casar e ser mãe, mas não tenho pressa. Não existe idade para isso”
E essa busca é constante?
Sigo sempre buscando ser a melhor versão de mim, mas não tenho que provar nada a ninguém. Já fiz trabalhos suficientes que mostraram meu talento.
Qual seria o perfil da personagem que a convenceria a voltar às novelas?
Uma vilã! A vilã tem um passado rico de situações e traumas que a impulsionam ou, então, são extremamente cruéis por serem psicologicamente doentes. São sensuais, apaixonante e cruéis. Essa dicotomia é instigante.
Quais são suas principais vitórias na vida?
Ter vivido exatamente como quis viver. Ter morado dez anos nos EUA, feito cursos que tanto queria e me transformaram por viver outra cultura. Ter aberto minha produtora e ter minha família e amigos ao lado, apesar do tempo e intempéries… O que é de verdade, sobrevive!
Quais paixões a impulsionam?
O amor. Gosto de estar apaixonada. Sou romântica e adoro cuidar de quem está comigo. A natureza também faz parte de mim, sempre busco estar próxima para me equilibrar. Além de viajar e conhecer culturas e pessoas.
“Tenho uma fé inabalável em Deus. Busco estar sempre perto da natureza e da família... E, às vezes, preciso me ausentar de tudo e ficar comigo mesma”
Viveu alguma derrota que se transformou em um belo aprendizado?
A perda do meu noivo, o George Mundim, foi um baque. Fiquei sem chão, mas como sou espírita, tenho uma compreensão da vida após a morte, que na verdade é vida após a vida, porque ninguém morre na sua essência. Morre o corpo físico, que não é quem somos. Hoje, dou mais valor à vida e às pessoas que amo, pois ela é breve. Cada segundo que passamos nesse planeta e ao lado das pessoas é valioso. Hoje, presto mais atenção em fazer valer meus dias e valorizar cada momento, cada bênção.
Quando precisa, o que faz para renovar a sua fé?
Tenho uma fé inabalável em Deus. Busco estar sempre perto da natureza, da família... E, às vezes, preciso me ausentar de tudo e ficar comigo mesma. Aliás, adoro fazer isso. Fazer minhas leituras, escutar minhas músicas, ver filmes e escrever. Isso me renova.