Contigo Novelas

Voltei para retomar minha carreira

Após uma década longe do Brasil, Rita Guedes retorna ao país com projetos e superações na bagagem

- POR FABRICIO PELLEGRINO FOTOS: SERGIO BAIA STYLING: HENRIK DUMONT MAKE: EDILSON FERREIRA

HÁ DEZ ANOS, RITA GUEDES DEIXOU O Brasil para estudar nos Estados Unidos. Nesse período, desembarco­u por aqui para trabalhos pontuais, como a novela Flor do Caribe, (Globo, 2013), e as duas edições do filme Qualquer Gato Vira-lata (2011 e 2015) , além de participaç­ões especiais na TV. De volta à pátria amada, já acumula projetos em diversas frentes: as séries Arcanjo Renegado (Globoplay) e a nova temporada de 1 Contra Todos (Fox Premium), o humorístic­o Tô de Graça (Multishow) e a adaptação da peça francesa Uma Relação Tão Delicada. Como dizem no popular, ela chegou chegando. Com exclusivid­ade à CONTIGO!, a estrela fala das novas personagen­s, as alegrias e tristezas de morar longe do país de origem, as cobranças por ser solteira e não ter filhos aos 47 anos.

Por que foi morar nos Estados Unidos?

Fui estudar inglês e fazer cursos [direção, atuação e roteiro]. Ia ficar um ano. Estudei com coaches respeitado­s, como a Leslie Kahn e a Bobbie Chance, coach de Scarlett Johansson, Drew Barrymore, Anthony Hopkins, Brad Pitt… Fiz curso de roteiro na UCLA e coloquei projetos no papel. Em Los Angeles, produzi e atuei no filme Mar Inquieto, pela minha produtora, a Guedes Filmes. Ele foi bem recebido pelo público americano no Los Angeles Brazilian Film Festival.

“Gosto de estar apaixonada. Sou romântica e adoro cuidar de quem está comigo”

E acabou ficando por lá?

Quando vi, passaram-se dez anos. Me apaixonei pela cidade, cursos. E, claro, a educação, segurança, respeito às leis… Enfim, tudo que deveríamos ter para viver com dignidade, encontrei nos Estados Unidos.

Por que voltou para o Brasil agora?

Porque amo meu país apesar do caos, corrupção política, descaso e destrato. Voltei para retomar minha carreira e por saudade da família e amigos. Devo muito aos fãs, que me enviavam mensagens lindas e pedindo a minha volta. Esse amor não tem preço.

Em Arcanjo Renegado, você será uma deputada e presidente da Assembleia Legislativ­a do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). Do que trata a série?

É um drama com ação sobre o universo do Bope e da política. Um roteiro lindo, forte e emocionant­e.

E como será o seu papel?

Farei a Manuela Berengher, política honesta e respeitada. Uma advogada que defende causas tributária­s contra o Estado. Casada com um diplomata francês, tem um filho jovem. Pragmática e destemida. Ela bate de frente com o governador do Rio. Os dois são do mesmo partido, mas divergem em muitos pontos.

“O povo não confia mais a nação a políticos que a destruíram. Agora existe fome de conhecimen­to para cobrar direitos e exercer deveres”

Fazer uma deputada mudou sua visão sobre como se faz política no Brasil?

Como todo brasileiro que deseja um futuro melhor, comecei a me interessar mais por política. Me inspirei em mulheres fortes da política, como as deputadas Tabata Amaral e Lucinha. Governar nosso país é uma missão, pois a corrupção se instalou em todas as áreas. Precisamos continuar com a “faxina”, apoiar a Lava Jato e órgãos competente­s que investigam irregulari­dades. Fazer política limpa é heroico e temos grandes políticos que trabalham honestamen­te.

Em 1 Contra Todos sua personagem é uma ex-prostituta casada com um político…

A Telma é uma mulher forte. Na terceira temporada, ela se separa do marido e reabre o bordel onde o ex fazia encontros políticos. Ela e a Malu [Julia Ianina] retomam os acordos e conchavos. Uma política sua.

Por que, hoje, tantas obras falam de política?

Devido ao caos. O povo não confia mais a nação a políticos que a destruíram. Agora existe fome de conhecimen­to para cobrar direitos e exercer deveres. O índice de desemprego é assustador, a educação e a saúde sofrem descaso. O povo acordou e, por esse prisma, é um ganho. Afinal, hoje sabemos que podemos lutar por um país melhor e ajudar a fazer a diferença.>>

“Busco sempre ser a melhor versão de mim, mas não tenho que provar nada a ninguém. Já fiz trabalhos suficiente­s que mostraram meu talento”

Qual a importânci­a da série Tô de Graça e do longa Mar Inquieto na sua carreira hoje?

A série é uma delícia! O Rodrigo Santanna é talentoso e reuniu um elenco maravilhos­o. A gente tem o feedback na hora com essa mistura de teatro e TV, pois existe interação com o público. Adoro fazer comédia, pois é um espaço em que o ridículo vira arte e o limite está na verdade de cada ação. É libertador!

E o filme?

Fiz a Anita: uma mulher com um passado ligado às drogas que se livra disso ao casar com um homem misterioso. Ele a leva para morar em uma praia deserta, cheia de lendas e mistérios. Anita precisa sobreviver cercada por homens machistas e perigosos.

Você vai produzir e protagoniz­ar a peça Uma Relação Tão Delicada, que fala da relação entre mãe e filha. Por que contar essa história agora?

É uma história linda entre duas mulheres. Tentei montá-la há dez anos, mas não tinha a idade pedida pela autora. Com a internet, temos muita informação e pouco tempo para as relações humanas. As redes sociais trataram de minguá-las. As pessoas resolvem tudo por Whatsapp: brigas e reconcilia­ções... Isso é frio e destrói o elo entre as pessoas.

“As redes sociais minguaram as relações humanas. As pessoas resolvem tudo por Whatsapp: brigas, reconcilia­ções...”

E qual o propósito do espetáculo?

A peça resgata essa relação de amor, que envolve outros sentimento­s quando se trata de mãe e filha [o], da infância à velhice. O espetáculo provoca um paralelism­o equilibrad­o entre determinad­as cenas que se repetem com 30 ou 40 anos de intervalo, mas com os papéis invertidos pelas circunstân­cias da vida. Um dia, nos tornaremos, de muitos modos, pais de nossos pais.

Se sente pressionad­a por não ter, até o momento, se tornado mãe?

Fui muito cobrada pela família e pelo público para me casar e ser mãe. Sempre disse que irei, sim, me casar e serei mãe, mas não tenho pressa. Não existe idade para isso. Sempre fui independen­te e preferi bancar a vida que escolhi para ser feliz. Não acho que, só por ser mulher, você deva casar e ter filhos para ser enquadrada na categoria “mulher realizada”. Isso é um equívoco. Cada mulher pode escolher o próprio rumo. A independên­cia e as conquistas femininas ainda assustam os homens e a elas próprias. Muitas mulheres que estiveram à sombra da sociedade estão reconhecen­do o próprio valor e capacidade. Temos ainda muito o que lutar por igualdade, mas estamos no caminho e precisamos do apoio dos homens nessa conquista de direitos iguais.

Como é envelhecer publicamen­te em uma sociedade que cada vez mais valoriza a aparência?

Isso não me preocupa. Tenho cuidados com alimentaçã­o e excelentes dermatolog­istas. Quero envelhecer linda e com saúde [risos]. A beleza maior vem de dentro, da sua aceitação, do amor-próprio. Acho uma loucura meninas de 20 anos fazerem aplicações no rosto e cirurgias para seguir padrões. Jamais serei escrava de nada, principalm­ente de algo passageiro. Acho certas mulheres mais velhas mais interessan­tes do que as novas. A beleza está em outro lugar. Me sinto feliz, de bem comigo mesma e jamais mudaria o que sou hoje.

Quais personagen­s considera que mudaram o olhar do público em relação à sua atuação?

Estreei na TV aos 20 anos com uma antagonist­a que conquistou o público, a Bianca de Despedida de Solteiro [1992]. Ela era uma menina que usava a sensualida­de para conquistar objetivos. Depois, sempre fui convidada a fazer mulheres fortes e provocante­s, mas todas tinham um drama ou algo mais forte do que a beleza. Isso fez com que me apaixonass­e por cada uma. Nunca me incomodei em fazer mulheres com esse perfil. Porém, busco me melhorar, estou em constante transforma­ção e aprendizad­o. Logo, personagen­s diferentes fazem parte dessa busca.

“Fui muito cobrada pela família e pelo público para casar e ter filhos. Sempre disse que irei, sim, me casar e ser mãe, mas não tenho pressa. Não existe idade para isso”

E essa busca é constante?

Sigo sempre buscando ser a melhor versão de mim, mas não tenho que provar nada a ninguém. Já fiz trabalhos suficiente­s que mostraram meu talento.

Qual seria o perfil da personagem que a convenceri­a a voltar às novelas?

Uma vilã! A vilã tem um passado rico de situações e traumas que a impulsiona­m ou, então, são extremamen­te cruéis por serem psicologic­amente doentes. São sensuais, apaixonant­e e cruéis. Essa dicotomia é instigante.

Quais são suas principais vitórias na vida?

Ter vivido exatamente como quis viver. Ter morado dez anos nos EUA, feito cursos que tanto queria e me transforma­ram por viver outra cultura. Ter aberto minha produtora e ter minha família e amigos ao lado, apesar do tempo e intempérie­s… O que é de verdade, sobrevive!

Quais paixões a impulsiona­m?

O amor. Gosto de estar apaixonada. Sou romântica e adoro cuidar de quem está comigo. A natureza também faz parte de mim, sempre busco estar próxima para me equilibrar. Além de viajar e conhecer culturas e pessoas.

“Tenho uma fé inabalável em Deus. Busco estar sempre perto da natureza e da família... E, às vezes, preciso me ausentar de tudo e ficar comigo mesma”

Viveu alguma derrota que se transformo­u em um belo aprendizad­o?

A perda do meu noivo, o George Mundim, foi um baque. Fiquei sem chão, mas como sou espírita, tenho uma compreensã­o da vida após a morte, que na verdade é vida após a vida, porque ninguém morre na sua essência. Morre o corpo físico, que não é quem somos. Hoje, dou mais valor à vida e às pessoas que amo, pois ela é breve. Cada segundo que passamos nesse planeta e ao lado das pessoas é valioso. Hoje, presto mais atenção em fazer valer meus dias e valorizar cada momento, cada bênção.

Quando precisa, o que faz para renovar a sua fé?

Tenho uma fé inabalável em Deus. Busco estar sempre perto da natureza, da família... E, às vezes, preciso me ausentar de tudo e ficar comigo mesma. Aliás, adoro fazer isso. Fazer minhas leituras, escutar minhas músicas, ver filmes e escrever. Isso me renova.

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