Parceiros nas artes
Pedro Gui é o diretor do documentário Rogéria – Sr. Astolfo Barroso Pinto.o longa, premiado em Los Angeles, estreia no Brasil em outubro. Ele é sócio da atriz Fernanda Thurann na BR Produções, produtora por trás do filme. Juntos, cada um em sua função, estarão no próximo longa de Leandro Hassum, Operação Coyote. A pedido de CONTIGO!, eles entrevistaram um ao outro em um bate-papo da melhor qualidade
Fernanda – Quando decidiu se tornar diretor?
Pedro – Tenho em mim que nasci diretor. Me lembro, na infância, de dirigir um monte de bonecos. Fiz o primeiro filme as 21 anos de idade e sem experiência, mas lembro do prazer de estar naquele set. Daí em diante tive certeza de que ficaria boa parte da minha vida dentro de um.
Fernanda – Por que abriu uma produtora?
Pedro – Meu padrasto na época, Adjalme Carneiro, tinha saído da Globo. Ele era câmera e começamos a ter ideias. Sabíamos que se não abríssemos nossa própria produtora, a Rodafilmes, seria mais difícil fazer nossos produtos à nossa maneira. Isso foi há sete anos. Hoje, com o produtor Andre Garcia e você, fundamos a BR Produções. Fico contente em fazer parte de uma produtora que acredita na força de transformação humana por meio do audiovisual e saber que meu sonho, ligado ao sonho de muita gente, tem feito produtos incríveis e potentes. Nós tentamos usar nosso ego em prol do todo.
Fernanda – Como enxerga o momento do audiovisual brasileiro?
Pedro – Estamos passando por um momento de transição de governo e mudanças de leis.
“Fico contente em fazer parte de uma produtora que acredita na força de transformação humana por meio do audiovisual e saber que meu sonho, ligado ao sonho de muita gente, tem feito produtos incríveis e potentes”
Mas não podemos deixar de lembrar – e isso é indiscutível – que o audiovisual gera empregos e movimenta a economia. Além de, claro, ser uma ferramenta de expansão da nossa cultura e, consequentemente, canal para a educação. Independentemente dos próximos passos, o cinema nacional continuará crescendo, pois somos uma indústria viva e potente, com talentos inquestionáveis já reconhecidos no mundo. Não valorizar nosso cinema seria retroceder.
Fernanda – De onde surgiu a ideia de Rogéria?
Pedro – Eu e a Rogéria nos conhecemos em 2014 e éramos vizinhos no Leme, Rio de Janeiro. Tivemos uma conversa informal e, após alguns minutos, tive a certeza de que faria o documentário sobre a vida dela. Sua história ficou martelando na minha cabeça assim como tudo o que ela havia passado, defendido e as causas pelas quais lutou com amor e alegria. Fiz a proposta e ela aceitou. Em 2016 iniciamos a produção do documentário.
Fernanda – Como se sente em relação à repercussão do filme e aos prêmios?
Pedro – O filme ter sido premiado demonstra muito do carinho que o público tem com a Rogéria e a confirmação de que fizemos um trabalho digno e honesto sobre a história dessa pessoa incrível.
“Passamos por um momento de transição de governo e mudanças de leis. Mas não podemos deixar de lembrar – e isso é indiscutível – que o audiovisual gera empregos e movimenta a economia brasileira”
Costumo dizer que faltam filmes sobre nossos “heróis” e “heroínas”, pessoas reais que lutam por nós. Rogéria é uma dessas pessoas.
Fernanda– Sendo um diretor que participa de todo o projeto, qual a parte da direção que mais o entusiasma? Criação, escaleta, preparação do elenco, escolha de figurino, roteiro...
Pedro – Todas as etapas de um filme são prazerosas, cada uma tem seu tempo de execução, sua evolução. Quando estou nesses processos, vivencio muito cada uma dessas etapas para o filme estar completamente dentro de mim antes mesmo do primeiro REC.
Fernanda – Do que trata seu novo documentário: Quero Me Curar de Mim?
Pedro – É um mergulho nas diferentes terapias holísticas existentes no Brasil. Além disso, também serão alvos da nossa pesquisa a física quântica, sociólogos e antropólogos. Nessa jornada de autodescobrimento, exploraremos a história, os benefícios, as práticas e os pacientes de terapias alternativas. Estamos visitando locais sagrados, participando de rituais, cerimônias místicas e espirituais...
“Costumo dizer que faltam filmes sobre nossos ‘heróis’ e ‘heroínas’, pessoas reais que lutam ou lutaram por nós. Rogéria é uma dessas pessoas”
Além de mergulhar em uma jornada espiritual em busca do contato com a própria consciência e a autocura.
Fernanda – Qual a expectativa em dirigir uma comédia com o ator Leandro Hassum?
Pedro – Meu coração está transbordando de alegria. Sou um grande fã do Hassum. Não posso adiantar muito sobre esse projeto, mas acredito que será um grande sucesso. Além do Hassum, temos um texto impecável e uma equipe altamente afiada.
Fernanda – Filme e diretor favorito?
Pedro – Goodfellas, do diretor e possivelmente meu preferido, Martin Scorsese.
Fernanda – Algum projeto em especial faz brilhar os olhos no momento? Tipo dirigir X-men (risos)?
Pedro – Gostaria de dirigir uma história que a mágica fosse o foco principal. Adoro efeitos especiais.
Pedro – Como atriz que vai do drama ao terror, em qual gênero se sente mais à vontade?
Fernanda – Foi uma experiência interessante - e até divertida - fazer Cabrito, um filme de terror. Acho que desmistificou um pouco do medo que eu tinha do gênero. Do outro lado da câmera, fica menos apavorante. Mas, acho, me sinto mais à vontade no drama.
Pedro – Você é produtora e atriz. Qual lugar traz mais satisfação?
Fernanda – Se me perguntasse há três anos, responderia sem pensar que meu lugar de satisfação era o de atriz e que a produtora surgiu da ânsia de trabalhar para não depender dos convites. Exercendo as duas profissões, fui descobrindo o prazer de produzir e entendi que posso sentir prazer e ser ambas, uma não anula a outra, se complementam.
Pedro – Como trabalha sua energia?
Fernanda – Tudo é energia, por isso é essencial cuidar da minha própria energia. Diria que é tão importante quanto tomar banho. Em 2013, conheci a técnica Pranic Healing e senti que, finalmente, havia “chegado em casa”. Me identifiquei não só com a filosofia, mas pude experimentar na minha vida os benefícios que ela traz.
“Tudo é energia, por isso é essencial cuidar da minha própria energia. Diria que é tão importante quanto tomar banho”
Eu não saberia, por exemplo, dizer a última vez em que adoeci. Transformações intimas foram acontecendo ao longo do processo e impactaram todos os aspectos da minha vida. Desde então, faço atendimentos semanalmente com meu terapeuta, Eduardo Barroso, no Devaki Healing e Meditação, no Rio.
Pedro – Qual sua formação artística?
Fernanda – Sempre fui tímida, tinha dificuldade até para pedir informação a estranhos. Quando entrei na faculdade de direito, meu pai disse que eu precisava aprender a falar mais, a me soltar e sugeriu o teatro como possível solução para esse bloqueio. Comecei fazendo teatro em Curitiba e na primeira peça já entendi que havia encontrado o que queria fazer. Depois de um ano e meio, me mudei para Nova York para estudar no The Lee Strasberg Theatre and Film Institute, me formei por lá e trabalhei durante um ano até voltar e me estabelecer no Rio. Sempre fui curiosa e adoro estudar. Chegando aqui fiz muitos cursos. Com o tempo fui assimilando e pegando um pouco de cada técnica para encontrar minha maneira de atuar.
Pedro – Existe algum evento específico que despertou em você o amor pelas artes cênicas?
Fernanda – Nessa minha primeira apresentação, tive uma sensação de que estava no lugar certo.
“Sempre fui tímida, tinha dificuldade até para pedir informação a estranhos. Quando entrei na faculdade de direito, meu pai disse que eu precisava aprender a falar mais, a me soltar e sugeriu o teatro como possível solução para esse bloqueio”
Com o tempo fui tendo consciência da importância da arte na vida, da possibilidade de se experimentar diversas vidas em uma só. Embora clichê, é verdade!
Pedro – Quem são suas referências artísticas?
Fernanda – Meryl Streep e Fernanda Montenegro. E adoro o cinema do Bergman.
Pedro – Você vai protagonizar uma comédia policial. Depois de ter feito personagens densos no filme Cabrito e na peça Dogville, sentese preparada para o desafio da comédia?
Fernanda – Não sei se preparada, mas curiosa, animada! Comédia é timing e, embora nunca tenha vivido a experiência, rodeada de talentos como o Hassum, tenho certeza, será incrível.
Pedro – Sócia e fundadora da BR Produções, qual o ideal da sua produtora?
Fernanda – Transformar ideias em realidade! O ideal é mesmo trabalhar com grandes orçamentos, mas creio, é possível fazer arte sem o ideal e, mesmo assim, ter produtos de qualidade, caminhando para o que chamo de pequena indústria. Em vez de esperar três ou quatro anos para realizar uma produção, realizar três ou quatro projetos em um ano.
“Comédia é timing e, embora eu nunca tenha vivido essa experiência, rodeada de pessoas tão talentosas como o Hassum, tenho certeza, será incrível”
Pedro – Faria novela?
Fernanda – Com certeza! Fiz uma participação em Malhação [Globo] há alguns anos e foi bacana, ainda quero experimentar mais a arte dentro da rapidez da TV. É um processo diferente do teatro e do cinema em termos de tempo.
Pedro – Como você se prepara para viver um novo personagem?
Fernanda – Um professor indagou: ‘O que um ator precisaria saber e criar sobre você para interpretá-la bem?’. Isso definiu a minha maneira de olhar um personagem, tem que existir especificidade. Somos parecidos e, ao mesmo tempo, únicos e singulares. Procuro criar a história do personagem: de onde ele veio, como era sua família, ambiente em que cresceu, classe social, sonhos... E a partir daí entender qual seu objetivo, obstáculos, táticas de como chegar ao objetivo e por quê, mas acima de tudo ouvir, estar presente! Tudo que se diz ou faz é em reação ao que a outra pessoa diz.