Longe da zona de conforto
Prestes a se despedir da personagem Aline, da novela das 6 Órfãos da Terra (Globo), Simone Gutierrez fala da experiência de fazer drama na televisão com temas relacionados à perda de um filho, adoção e depressão. “Não sabia se conseguiria chorar”, assume a atriz
Como sente a repercussão da novela?
Tem sido uma surpresa incrível. Sem contar que sou fã da Duca Rachid e Thelma Guedes [autoras da trama]. As pessoas se envolveram com a história e vejo isso pela minha família, as pessoas na rua. O jeito como receberam Órfãos da Terra foi muito diferente de quase todas as outras que fiz. A temática é muito envolvente e isso causou empatia. Às vezes, as pessoas falam conosco na esperança de dizer algo para ajudar na trama. É muito legal!
O elenco tinha noção do sucesso que a trama faria?
Pela importância do assunto, não poderia ser diferente. Vivemos tempos difíceis. Quando você fala de refugiados, se colocar no lugar do outro. Pensar no que a pessoa passa para chegar aqui [no Brasil] quando acontece uma tragédia no país em que ela vive. Tem muito tabu, as pessoas acham que quem vem de lá é bandido. Então eu acho que é inesgotável a fonte de histórias que temos para contar dessas pessoas que passam por esse tipo de tragédia.”
A trama da Aline fala da adoção. O que tem ouvido sobre isso?
Muita gente diz: “Tenho alguém adotado na família”; “minha amiga foi adotada”; “você está contando a minha história”; “Também queria uma menina e adotei”. Por isso a novela faz tanto sucesso, ela é contemporânea, são assuntos fortes.
“Tudo que falam sobre mim, me instiga a querer melhorar. O que falam de mim, não me diz respeito”
Como se preparou para a cena em que a Aline perde a filha no parto?
Tive um trabalho incrível com a Ana Kfouri, nossa preparadora de elenco. Falei para ela que estava em pânico. Pois sempre que fiz uma cena dramática era diferente porque tinha um tom cômico. É difícil dizer o que pensamos na gravação, mas fui fundo no que me causava tristeza. Principalmente em relação ao outro. Perder um pai ou uma mãe já é difícil. Agora, imagine um filho que você levou nove meses na barriga. Não tenho nem noção do tamanho dessa dor.
Conversou com mães da vida real que passaram por essa situação?
Não. Fui mais no lance do meu interior mesmo. Sou bem resolvida em tudo, mas ainda não passei por essa situação. Então, não sei como reagiria, por mais que conversasse com alguém. Uma coisa é você ter um filho e pensar em passar por isso. Outra é tentar imaginar essa situação. Aos 14 anos de idade eu já dava aula, ao 22 fui morar sozinha. Ou seja, sou uma pessoa que resolve, então, é difícil ficar depressiva, triste. Tento resolver e passar para frente. Sou muito difícil de chorar. Quando terminei de gravar a essa cena, uma menina da caracterização falou: “Nossa, senti a sua dor”. Procurei passar o máximo de verdade em relação à dor que sinto ao perder algo ligado a amor incondicional.
“Sou muito livre. Não digo que não teria vontade de casar nem ter filhos, mas é uma responsabilidade tão grande... Embora seja muito pé no chão, também sou sonhadora”
Após a perda, a Aline ficou três anos em depressão. Como você se preparou para essa fase?
Conversei com a preparadora, porque não sabia se conseguiria chorar. Vi uma entrevista do Tony Ramos falando que você não precisa chorar para chorar. A lágrima, às vezes, é a última a cair. Aí, desapeguei de precisar chorar e deixei vir. Se eu conseguir fazer isso bem, terei certeza de que estou melhorando na minha profissão.
Tem observado comentários das pessoas?
Tento não pensar no que vão achar, mas no que acredito. Como seria se eu fosse essa mulher? Depressão é seriíssimo e a Aline fala que não consegue cuidar dos filhos. A depressão é complicada para mim, pois saio da tristeza muito rapidamente, mas não posso fazer isso com a personagem.
Durante um tempo, Aline media a temperatura para detectar o período fértil. Esse fase foi bem divertida. Como foram essas gravações?
Foi difícil porque me aprofundei nesse universo, descobrir um pouco das questões da inseminação e dos tratamentos para engravidar. Como a família toda é árabe, tudo é um drama, mas uma comédia também. A questão é difícil, mas de repente alguém fala algo e vira uma festa. As minhas personagens eram sempre de humor e eu estou tendo que fazer um pouco de drama, algo de verdade para as pessoas se reconhecerem nessa mulher. Um desafio maravilhoso.
“Aos 14 anos eu já dava aula, aos 22 fui morar sozinha. Ou seja, sou uma pessoa que resolve, então, é difícil ficar depressiva, triste. Tento resolver e passar para frente”
Essa característica mais dramática da personagem é diferente da sua personalidade?
A minha mãe falou: “Agora eu quero ver se você trabalha bem. Fazer chorar é difícil, fazer rir é fácil” [risos].
Você não é mãe ainda. Adoraria uma criança?
Se um dia quiser ter filho e não puder, com certeza adotaria. Filho não precisa nascer da gente, o amor é algo muito mais forte.
Pensa em casar e ter filhos?
Sou muito livre. Não digo que não teria vontade de casar nem ter filhos, mas é uma responsabilidade tão grande... Embora seja muito pé no chão, também sou sonhadora. Por exemplo, morro de vontade de estudar musical nos Estados Unidos. Então, fico me imaginando com uma criança. Preciso aproveitar a minha juventude para fazer tudo de que gosto. Por isso acho que adotaria, pois não precisaria me preocupar com a minha idade.
O que a levou ao processo de emagrecimento?
Tive dois cistos na tireoide e, há três anos, cuido da alimentação e dos exercícios. Sempre engordava e emagrecia para os papéis. Com esse problema, só tinha duas saídas: operar ou emagrecer. Por ser medrosa, emagreci. Foram dois anos de tratamento com a endocrinologista, Elaine Dias.
“Tive dois cistos na tireoide e, há mais de três anos, cuido da alimentação e dos exercícios. Sempre engordava e emagrecia para fazer os papéis. Como tive esse problema, só tinha duas saídas: operava ou emagrecia. Por ser medrosa, emagreci”
E 90% do sucesso do meu emagrecimento foi por causa da minha cabeça, por não ter aquela pressão de precisar emagrecer. Devemos cuidar da saúde para a gente, não para ninguém. Não emagreci por estética, mas por saúde. Isso está me fazendo superbem e tenho uma vida muito mais saudável agora.
Você foi muito criticada ao falar sobre o emagrecimento no programa da Fátima Bernardes. Os julgamentos a incomodaram de alguma forma?
Tudo que falam sobre mim, me instiga a querer melhorar. O que falam de mim, não me diz respeito. Tento explicar de uma maneira bem-educada e amorosa o meu ponto de vista.