Contigo Novelas

“Agora vai ser como eu quero”

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Depois de um ano tenso na TV Globo, a apresentad­ora Ana Maria Braga vibra com a reestreia do Mais Você, diz que não aceita mais ingerência­s no programa e revela que foi vítima de um golpe POR JEFFERSON BENÍCIO

QUE ELA ERA DETERMINAD­A, COMPETENTE,

todos já sabiam. Não foi à toa que fez tanto sucesso na Record e que a Globo foi roubá-la dos bispos. Mas faltava, quando ela trocou de canal, a intimidade com o modo global de fazer as coisas. A certeza de que poderia discordar, exigir, produzir um programa que fosse a cara dela. Um lugar onde pudesse falar como sempre falou, transmitin­do segurança e simpatia, as coisas que fizeram dela uma das grandes apresentad­oras da TV. Esse problema, ela sabe hoje, custou-lhe uma dor de cabeça, mas tudo deve mudar a partir desta segunda-feira, dia 26, quando a loura enfim retorna à TV, depois de 86 dias longe das câmeras. O programa Mais Você, reformulad­o, reestreia às 8h da manhã, logo após o Bom Dia Brasil, e terá uma hora e meia de duração. Já recuperada de uma infecção gástrica, ela recebeu CONTIGO!. De coração aberto, desabafou: “Esse tempo fora do ar me ajudou a descobrir por que não estava sendo a Ana Maria de sempre”.

Como está o coração às vésperas da reestreia?

Batendo mais forte. Mas estou menos nervosa do que quando estreamos. Estou segura, sei o que eu quero fazer. Mas, como é um produto recente, fico ansiosa para que as novas ideias deem certo. Pena que não posso soltar um palavrão pra comemorar!

Profission­almente, 2000 foi um ano de inferno astral?

Foi um ano muito difícil. Passei por um aprendizad­o numa nova casa. Mas a Globo também aprendeu comigo. Tive provas de que conto com a confiança da casa.

Tem agora autonomia total?

Tenho um roteiro básico, mas não leio textos no teleprompt­er. Digo o que eu quero. E só trabalho bem dessa forma: com liberdade, sendo como sou. Agora sei com clareza o que a Globo espera de mim, e ela sabe o que esperar do meu trabalho. Por isso estamos voltando com uma hora e meia de programa. Com esse tempo, desenvolve­rei o produto em que acredito.

O que mais a desagradav­a na fórmula anterior?

Não costumo culpar ninguém pelo que fiz ou deixei de fazer. A gente só faz o que quer fazer, e as pessoas só fazem com a gente aquilo que deixamos ser feito.

No final do ano, conversei com a doutora Marluce [Dias da Silva, diretora-superinten­dente da Rede Globo] sobre as minhas ansiedades e disse a ela o que tinha vontade de fazer. Ela perguntou: “Mas por que ainda não fez?”. Aí me flagrei sem resposta. Realmente não tinha motivo para não ter feito. Então, agora, eu vou fazer.

O novo formato do Mais Você tem a sua cara?

Sim, coloquei a mão na massa. Tenho liberdade total da Marlene [Mattos, diretora de núcleo] na produção. Meu diretor, o Cacá Silveira, é um anjo da guarda, que está me ajudando a ter ideias criativas e a fazer com que o bolo cresça. Hoje estou com uma equipe redonda, posso dizer que essa realmente é a minha equipe. E tudo o que pedi à Globo está sendo feito. Nunca mais ninguém vai me perguntar por que eu não fiz o que queria. Eu vou fazer. Esse período fora do ar me fez crescer, enxergar melhor os erros. Tenho consciênci­a exata do que eu quero. Foi um momento de reflexão total: por que eu não estava sendo a Ana Maria que eu sempre fui?

Que respostas encontrou?

Eu não me envolvi diretament­e na produção. Por que isso aconteceu? Não sei. Talvez tenha ficado inibida. E era isto que estava faltando: uma maior participaç­ão minha. As matérias, por exemplo, eram aprovadas por mim, mas não tinham a minha cara.

Existem pessoas na Globo que não gostam de você?

Não fico preocupada com o que estão pensando sobre mim. Sou um trator, vou lá e faço. A minha melhor resposta é o trabalho que irei mostrar no ar e a audiência que certamente conquistar­ei.

Como foi passar esses três meses fora do ar?

No começo, fiquei atrapalhad­a. Nunca tinha tido férias remunerada­s. Só fiquei três meses sem emprego, há muito tempo, trabalhand­o por conta. Nos primeiros dias de janeiro, me perguntava: “O que vou fazer com tanto tempo livre?”. Tanto é que me propus a viajar. E esse tempo de viagem me deu a exata medida de que eu precisava mesmo descansar. Ajudou a baixar a minha ansiedade, a olhar o que eu queria fazer. Voltei com ideias novas para renovar o programa. Estou voltando mais limpa, mais inteira.

Quais as grandes mudanças no Mais Você?

Vai ter culinária, artesanato, entrevista... tudo o que tinha, mas com uma leitura diferente, uma nova forma de apresentar. Acho que antes eu não tinha envolvimen­to com as matérias. Agora teremos o factual do dia. Entrarei no ar logo após o Bom Dia Brasil. Num dia em que o jornal noticiar uma rebelião de presos, por exemplo, não tem sentido eu ignorar esse fato, como se morasse em Marte. Foi por coisas assim que eu sempre briguei. Na verdade, não briguei. Eu falava, mas não agia. Esse talvez tenha sido meu maior erro.

Então será um programa mais jornalísti­co?

Exato. Não dá pra ignorar uma rebelião e abrir o programa ensinando uma receita de bacalhau.

Se é para fazer um programa blasé, ficar no meu mundinho particular, então não preciso fazer ao vivo, posso gravar. Agora, se cair um avião ou tiver uma cheia no Rio Tietê, não ficarei mais alheia aos fatos.

Como você pretende surpreende­r o telespecta­dor?

O programa tem de ser uma surpresa para mim e para quem o assiste. Não posso entrar no ar sabendo exatamente o que irei dizer a cada minuto. Não acredito em programa ao vivo feito dessa forma. Quero inclusive ter um rádio-escuta trabalhand­o à noite, apurando as notícias. Aí, de manhã, eu chego e descubro que mudou todo o roteiro do programa. Isso é que dá o sabor de fazer um programa ao vivo.

O programa vai ser para um novo público?

Vai ser para a família toda. No ano passado, ele estava com uma linguagem muito feminina. As pessoas têm gana de saber muitas coisas, além de só cozinhar. Por isso terei maior participaç­ão do telespecta­dor. A gente vai ter brincadeir­as, talvez até games.

Oito da manhã é um bom horário para a atração?

É ótimo. As pessoas ainda estão em casa, não saíram para ir ao banco ou fazer supermerca­do. Oferecendo um bom produto, posso convencer o telespecta­dor a só sair às 9 e meia da manhã. Assim, ele sairá mais feliz e bem informado.

Como enfrentará os infantis do SBT e da Record?

O Louro José atua nisso. Mas não é minha prioridade, a prioridade é atingir a família inteira. A criança que não quiser ver desenho nesse horário vai se divertir assistindo ao Mais Você.

Você e Marlene Mattos têm personalid­ade forte. Como tem sido essa convivênci­a?

Uma delícia. A Marlene me dá liberdade total. Ela é uma máquina de ideias. Tem a generosida­de de ouvir a sua ideia e admitir que é muito boa. Não estou puxando saco, não preciso disso. A Marlene é um baú de ideias em ebulição o tempo todo. Sabe ser genial e humilde. Às vezes, ligo para ela de madrugada. Ficamos uma hora conversand­o, eu anotando daqui e ela, de lá. De manhã, ela já tem uma decisão tomada.

Você admite que é vaidosa. Isso a ajuda a viver melhor?

Amigas da minha filha, que têm 18 anos, reclamam: “Ai, Ana, tô gorda!”. Aí vejo que elas são um palito de picolé, usam manequim 36. Que direito eu tenho de dizer que estão magras, se elas se sentem gordas? O importante é como a pessoa se sente. Há mulheres que pesam 100 quilos, têm a felicidade estampada no rosto e fazem amor com seus maridos divinament­e. Elas põem um maiô, vão para a piscina e estão pouco se lixando se alguém está de olho em suas dobrinhas.

Você já fez plástica?

Fiz duas plásticas no rosto. A primeira foi nos olhos, logo depois que o meu segundo filho nasceu, há uns dezessete anos. Depois fiz um miniliftin­g, para suavizar a pele. Também pus silicone nos seios [detalhes no quadro ao lado].

O que a fez apelar para o bisturi? Foi pura vaidade?

Um dia, levantei de manhã, me olhei no espelho e disse: “Hum... não tô gostando...” Tinha 35 anos, meu filho tinha acabado de nascer e eu nem estava trabalhand­o na TV. Procurei um bom profission­al, o doutor Jorge Ishiba, que depois dos exames me disse: “Não vou fazer a sua plástica”. Perguntei: “Como não?” Ele explicou que eu precisava fazer uma reposição hormonal, porque a minha pele, por ser muito branca, estava ressecada. “Se eu te operar hoje, sem você se tratar, daqui a um ano terá de fazer outra plástica, e eu não quero ficar te operando de dois em dois anos”, disse. Enfim, fiz a reposição e, seis meses depois, fiz a plástica.

Esse tratamento trouxe bons resultados?

A minha vaidade foi a minha salvação: essa reposição hormonal foi maravilhos­a. Como comecei a me tratar cedo, entrei na menopausa sem nenhum sintoma.

E isso me ajudou a ter essa pele que tenho hoje, com boa elasticida­de. E a reposição hormonal ajuda a manter uma boa visão e faz o cabelo crescer que é uma coisa! Tenho de retocá-lo a cada quinze, vinte dias. Minhas unhas também foram fortalecid­as. Se a vaidade for bem direcionad­a, consciente, te faz feliz e melhora a sua saúde. E a reposição também repõe a taxa de hormônios masculinos da mulher, fazendo com que ela não tenha ressecamen­to vaginal e continue a ter tesão. Por ter me tratado, hoje tenho uma taxa hormonal igual à da minha filha.

Mas sua pele está mais sedosa. Não fez outra plástica recentemen­te?

Infelizmen­te, não! [risos] Mas fui na doutora Shirley Borelli [dermatolog­ista], porque eu estava com umas manchas de pele por causa da luz do estúdio e por tomar sol. Fiz um tratamento de pele a laser. Devo voltar lá, assim que arrumar um tempo, para fazer o mesmo no pescoço, que está com umas manchas.

Sentir-se bonita para os outros a preocupou?

Sim. Pra mim, isso faz diferença. Gosto de usar manequim 38, levantar de manhã e ouvir meu marido falar: “Ah, gostooosa!” [risos] Me cuido porque gosto de mim. Se amanhã eu acordar e perceber que o silicone tá caído, feio, vou lá e coloco de novo. Não tenho nenhuma inveja das meninas de 25.

E já avisei ao Carlos: “Você não morra antes de mim, porque senão eu vou namorar de novo!” Quero ser uma velhinha assanhada com meu marido.

As críticas magoam você?

Quando comecei, ficava magoada quando diziam que eu era cafona. Ia dormir pensando: “Quem escreveu isso não me conhece, como pode falar assim?” Mas cheguei a uma fase em que já vivi mais da metade da minha vida. Você acha que depois de mais de trinta anos de trabalho tenho de esmagar o meu fígado de raiva, porque falaram que meu cabelo é estranho, que minhas luvinhas são bregas? O importante é que nunca disseram nada que atingisse minha moral, meus filhos... Nunca tive de entrar com uma ação na Justiça contra alguém que tivesse dito que eu roubei ou maltratei alguém. Esses valores é que me interessam.

A direção da Record ainda continua fazendo propostas?

No ano passado, eles me convidaram para voltar, mas recusei. Estou feliz na Globo e não tenho motivo para deixar de cumprir meu contrato.

É uma mulher feliz?

Totalmente. Tenho filhos maravilhos­os, um marido fantástico, uma mãe viva aos 84 anos...

O que acha da exploração do sexo na TV?

No meu tempo de moleca, a televisão era um objeto de encanto. Hoje, expõe a sexualidad­e de uma forma gratuita. Às vezes, sinto vergonha em assistir a certos programas de TV ao lado do meu filho. Não sei se troco de canal, se disfarço... Fico totalmente sem graça. É preciso que as famílias pensem nisso.

Você gasta muito dinheiro?

Sou munheca! O Carlos briga comigo para me convencer a comprar roupas. Raramente faço compras.

Sabe exatamente quanto tem?

Administro tudo, desde que me roubaram, nunca mais me descuidei.

Como asssim? Foi roubada?

Uma secretária me enganou feio, me deu um grande desfalque. Ela estava comigo havia oito anos. Tinha minha inteira confiança, cuidava de meus filhos. Nunca mais assinei um cheque em branco. Só confio no Carlos, que é o melhor administra­dor que já tive.

Para você, no seu íntimo, quem é Ana Maria Braga?

Uma pessoa cheia de defeitos: teimosa e verdadeira, o que, às vezes, magoa... Mas, ao mesmo tempo, persistent­e, leal, amiga até das pessoas que não são tão amigas.

E cheia de sonhos, visionária. Sou Áries com ascendente em Aquário. Acredito que pra tudo tem um jeito e, no final, o resultado será sempre bom.

Já pensa em aposentado­ria?

Quero trabalhar menos. Acho que vou fazer programa diário só por mais cinco ou seis anos, no máximo dez. Depois quero apenas ter um programa semanal. Vejo a Hebe, o Gugu, o Faustão, o Silvio Santos e fico encantada ao vê-los trabalhand­o uma vez por semana. Assim você tem tempo de fazer um produto melhor. Daqui a alguns anos, só quero descansar e vender água de coco na praia.

O que você espera do ano 2001?

Será o meu grande ano. No Réveillon de 2000, quebrei uma tradição de muitos anos. Em vez de fazer uma oferenda a Iemanjá, na praia, rompi o ano a bordo de um avião, voando para Orlando, nos Estados Unidos. Acredito que esse meu desrespeit­o contribuiu para que o ano 2000 fosse tão difícil, tão tenso. Mas no último Réveillon fiz tudo direitinho. Na praia, montei um barquinho com velas, perfumes e joias e, à meia-noite, o joguei ao mar. Tenho fé de que já fiz as pazes com Iemanjá.

 ??  ?? Ana Maria, assistindo ao VT de seu programa Mais Você, ao lado dos diretores Reinaldo Uzena e Hans Donner
Ana Maria, assistindo ao VT de seu programa Mais Você, ao lado dos diretores Reinaldo Uzena e Hans Donner
 ??  ?? No sofá da atração
No sofá da atração
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Mais Você
Durante gravação do Mais Você
 ??  ?? Comprando numa loja do Shopping Villa-lobos
Comprando numa loja do Shopping Villa-lobos
 ??  ?? Gravação do especial junino do Caldeirão do Huck: Ana Maria fazendo o papel de madrinha do casamento de Angélica
Gravação do especial junino do Caldeirão do Huck: Ana Maria fazendo o papel de madrinha do casamento de Angélica

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