Contigo Novelas

O lado bom da vida!

- POR ANDRÉ ROMANO

O olhar generoso de Lucio Mauro Filho, o Mario da novela Bom Sucesso (Globo), para o universo ref lete-se nessa entrevista. A seguir, ele fala sobre o romantismo atrapalhad­o do personagem, a parceria com Fabiula Nascimento dentro e fora de cena, além de reconhecer os sinais que o levam à ref lexão e à felicidade

Como tem sido voltar às novelas em Bom Sucesso?

A novela tem vários signos que aprecio, como uma equipe educada, o que acho primordial hoje em dia. Precisamos trabalhar com educação, de um jeito parceiro. Esse negócio de grito ficou no passado. Agora, o negócio é falar direito e todo mundo se cuidar. Encontrei nesse elenco e equipe técnica pessoas com muito afeto, responsabi­lidade, carinho com o próximo... Creio, num ambiente como esse, a possibilid­ade do acerto e entendimen­to é muito maior. Com certeza, um dos pilares do sucesso da novela é esse clima lindo nos bastidores.

Você e a Fabiula (Nascimento, que faz a Nana) são amigos há anos. A amizade facilita em cena?

Muito! Estamos em cartaz há três anos com Cinco Vezes Comédia. Nesse período, um acompanhou toda a vida do outro. Ela viu a minha filha nascer, eu vi nascer o amor dela pelo Emílio [Dantas, ator]. E nossas famílias se frequentam. Então, quando faz um trabalho com alguém assim, você pode emprestar essa intimidade para a cena. Caímos como um par romântico improvável: o Mário apaixonado por ela desde sempre e a Nana cedendo a esses carinhos e jeito atrapalhad­o, mas super-romântico do Mário. Nesse tipo de dramaturgi­a em que o romance é claro, quando existe química entre os dois atores, você tem meio caminho andado. E o público sente.

“Esse negócio de grito ficou no passado. Agora o negócio é falar direito e todo mundo se cuidar. Encontrei nesse elenco e equipe técnica pessoas com muito afeto, responsabi­lidade e carinho com o próximo”

O Mário é um poeta. Ele finalmente vai fisgar a Nana?

Olha, rapidinho ele não vai conseguir, porque espera isso há 40 anos. Ele já teve a ajuda da Silvana Nolasco [Ingrid Guimarães], alguém acostumada a quebrar a timidez das pessoas, e a Silvana propõe a maluquice de transporta­r a Nana para uma fábula, uma fantasia.

Mas ele também sai com a outra. Como fica?

A possibilid­ade de o cupido se apaixonar pelo motivo do trabalho é grande. Eu digo isso com um conhecimen­to de causa, porque eu fui um cupido da minha mulher com um grande amigo meu, e quando eles terminaram o namoro, fiquei com aquilo na cabeça, eu falei: ‘cara, eu falei tão bem dessa mulher, insisti tanto para o cara ficar com ela e ele não ficou, será que fico eu?’. E cá estamos nós, 21 anos de casados. Cuidado, Nana! [risos].

E quem vai ser o pai do filho da Nana: Mário ou Diogo?

Eu não sei quem, mas eu adoto e o escambau. Pai é quem cria. Eu nem vi essa criança e já me afeiçoei.

Você está em um momento especial da carreira, porque o público o vê na novela, na Escolinha do Professor Raimundo, aos domingos, como Adelmar Vigário, que já foi feito por seu pai (Lúcio Mauro), e também estava na reprise de A Grande Família...

Isso é um sonho para o artista: poder mostrar diferentes facetas, experiment­ar vários tipos de interpreta­ção, mas de dramaturgi­a também, e acontecer uma coincidênc­ia assim é realmente especial. Tenho a sensação de falar para a gente de todas as idades, status... gente de tudo quanto é jeito. O sonho de todo artista é ir aonde o povo está, como diria Milton Nascimento.

Recentemen­te, o país passou por uma situação muito triste na Bienal (a prefeitura do Rio de Janeiro proibiu a venda da HQ Vingadores: Cruzada das Crianças, que exibia um beijo entre dois homens). E seu personagem é um escritor. Como lidou com isso?

Foi louco, porque além de tudo, gravamos a novela na Bienal. Entristece, mas não assusta. A cultura foi escolhida como um dos setores a serem combatidos. Essa gente que coloca o povo contra a cultura não entende é que a cultura é o povo. Se você mata a cultura, mata o povo. A cultura faz parte de cada um de nós, da paleta de cores que temos como seres humanos, brasileiro­s, índios, imigrantes, negros, enfim, essa mistura linda que faz o Brasil.

Então, quando você ataca a cultura, ataca a diversidad­e, o jeito amistoso do brasileiro ser e de receber o mundo aqui dentro. Quem luta contra a cultura não entende isso. Da mesma forma que a proibição foi muito violenta, a resposta também foi forte. E é bom que eles entendam. Se tem uma coisa que vai unir o povo é a cultura, e nunca separar.

O que significou para você a chegada de sua nova filha, Liz, de 1 ano, depois de ser pai de dois jovens, Bento, 15, e Luiza, 14?

Foi um rito de passagem, uma coisa muito diferente, inesperada. Obviamente não foi planejada, então, dá uma sacudida na vida. Claro, quando vem um bebê inesperada­mente, a gente precisa tentar entender os sinais que vem com essa vida. Uma vida quando vem desse jeito está recheada de sinais para os pais, para os nossos outros filhos... Então, entramos nessa brincadeir­a juntos. O fato de as crianças terem 15 e 14 anos faz deles um segundo pai e uma segunda mãe. A gente não tem babá, mas temos o Bento e Luiza, que são um segundo pai e uma segunda mãe. Eles dão banho, trocam fralda, fazem curso na maternidad­e, botam para dormir... A bebê traz essa sabedoria e vem pra unir.

Isso é parecido com o que vai acontecer com a Nana, né?

Tem bastante coisa da Nana na minha vida. Por causa do meu pai, da peça... Conversei com a Fabiula na preparação da novela, sobre essa coisa de segurar a família, de querer resolver tudo e, depois, se sentir sobrecarre­gado. Passei a experiênci­a que tive para ela. E aí segue com essa coisa da maternidad­e, do filho inesperado, que te pega de sobressalt­o...

Você sempre foi muito humilde, fala com todos, é divertido...

Se está mal-humorado, é melhor nem sair de casa. Se precisa trabalhar, e lidar com as pessoas, acho, deve ter uma sabedoria de entender que todo mundo passa por problemas e, às vezes, o outro tem um problema tão grande quanto o seu. A vida é sofrida para todos: todo mundo perde parente, emprego... Então, procuro enxergar o lado bom da vida. Na hora do sofrimento, procuro enxergar as coisas boas para botar na balança e ficar equilibrad­o. A vida é muito sábia. O universo é muito sábio. Olha minha experiênci­a: o meu velhinho foi embora [o pai do ator faleceu em maio deste ano] e chegou um bebê. Se o cara não entender o sinal desses... Procuro a compaixão, a educação e entender que, por maior que seja o meu sofrimento, pode ter alguém com um sofrimento maior.

 ??  ??
 ??  ??
 ??  ?? Em 2017, o astro viveu Roney, em
Malhação Viva a Diferença (Globo)
Em 2017, o astro viveu Roney, em Malhação Viva a Diferença (Globo)
 ??  ?? Como Ademar Vigário na nova versão de A Escolinha do Professor Raimundo
Como Ademar Vigário na nova versão de A Escolinha do Professor Raimundo
 ??  ?? Lucio em cena com Ingrid Guimarães na editora Prado Monteiro, da novela Bom Sucesso
Lucio em cena com Ingrid Guimarães na editora Prado Monteiro, da novela Bom Sucesso
 ??  ?? Na festa de lançamento da trama das 7, em julho deste ano
Na festa de lançamento da trama das 7, em julho deste ano

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil