Contigo Novelas

Sangue quente e coração puro

Vivendo um excelente momento profission­al na TV e no cinema, Rodrigo Santoro se abre pela primeira vez e fala de amor, traição e fama

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NÃO, RODRIGO SANTORO NÃO CHEGOU AO

auge. Mas, aos 25 anos de idade e oito de carreira, já percorreu meio caminho até lá. Na TV, faz sucesso como o vilão Carlos Charles, de Estrela-guia. No cinema, atesta seu talento no filme Bicho de Sete Cabeças, que lhe valeu dois prêmios de melhor ator, no Festival de Brasília e no de Recife. Na vida, é um bem-sucedido homenzarrã­o de 1,90 metro que enlouquece as mulheres com a mistura do charme-cafajeste de Carlos Charles e de seu jeitinho de garoto-família.

Puro verniz. Por dentro, Rodrigo é intenso. “De sangue quente e de coração puro”, como diz. Descendent­e de italianos, ele gesticula muito e dá a impressão de estar brigando, numa simples conversa. Detesta, por exemplo, a imagem de que está dando a volta por cima, depois do término do namoro com Luana Piovani. A ex, para ele, é passado. “Nem sei o que é depressão. Tive um trabalho para fazer”, diz.

Depois do namorico com Fernanda Lima, Rodrigo está sozinho. “O importante não é ficar solteiro ou casado. É estar feliz. E eu estou”, garante. A partir do próximo dia 22, o ator aparecerá nas telas de cinema em Bicho de Sete Cabeças. Nesta entrevista, CONTIGO! desvendou os mistérios do rapaz. Confira.

Gostou de viver seu primeiro vilão, Carlos Charles?

Muito. Foi um desafio, porque eu queria fazer um vilão bacana, sem cair no rótulo. Fiz o Carlos como um inconseque­nte, um malvado “inocente”, que se diverte com tudo.

Isso evitou que o público ficasse com raiva dele?

Sim. Mas muita gente me para na rua para reclamar. Uma mulher do meu prédio saiu do elevador por minha causa. Ela disse que eu não podia tratar a Gisela daquele jeito. Expliquei que era só um personagem. Daí ela disse: “Eu sei, mas acho um absurdo você se prestar a isto”.

E as fãs adolescent­es, mudaram com você?

Elas não. Dizem que o Carlos é demais! Ele é irreverent­e e elas se identifica­m com isso. Mas tem gente comparando o Carlos com o frei Malthus, de Hilda Furacão. De vez em quando, alguém me diz: “Quem diria! O santo está pecando que é uma loucura”.

Com o Carlos, você perdeu um pouco a imagem de galã?

Não tenho nenhum problema em ser tachado de galã. O importante é gostarem do meu trabalho.

E de ser chamado de sex symbol, você gosta?

Fico lisonjeado. Mas acho que não sou. Me chamam assim pelo fato de eu estar na TV, e ter interpreta­do galãs.

Você se acha bonito, não?

Eu olho para a minha cara há 25 anos! Me acho normal. Bonito é o Brad Pitt, o Richard Gere, o Fábio Assunção. Se fosse bonitão, tentaria ser modelo.

Então, o que você tem que agrada tanto as mulheres?

Sei lá! Tem de perguntar para elas!

Seria seu jeito de bom-moço?

Ultimament­e elas não têm pensado isso, não! As fãs me veem na novela e acham que sou um cafajeste. Mas sou o oposto do Carlos. Eu me importo com as pessoas, ele não.

Mas você é bonzinho ou é só uma imagem?

Não sou bonzinho. Tento ser uma boa pessoa. Sou descendent­e de italiano, que é sangue quente, coração puro e muito intenso. Às vezes, estou conversand­o e parece que estou brigando. Tenho essa mania de gesticular. Mas sou tímido...

“Fidelidade é importante. Ficar com outra pessoa nem é tão grave. A gente pode ser traído por ter um plano junto e, de repente, a pessoa te abandonar”

Essa timidez atrapalhou na hora da conquista?

Com mulher eu não sou tão tímido! [Risos]. Mas também não sou do tipo que chega em cima.

Fazia sucesso com as mulheres antes da fama?

A coisa sempre fluiu bem nesse sentido, graças a Deus! Nunca passei muito tempo sem me relacionar com alguém.

O que uma mulher precisa ter para namorar você?

Não tem fórmula. Um grande passo é ser autêntica. Não pode tentar ser o que não é.

Tem de ser bonita?

Acho hipocrisia dizer que não. Às vezes, a mulher não é tão bonita, mas me seduz porque é charmosa, inteligent­e.

Fidelidade é fundamenta­l?

É muito importante. Não apenas a fidelidade de estar só com uma pessoa. E sim ser fiel em tudo. A traição de ficar com uma outra pessoa nem é tão grave. A gente pode ser traído por ter um plano junto e, de repente, a pessoa mudar, te abandonar. Não por outra pessoa, mas por alguma outra coisa, ou por ela mesma.

Como no episódio de sua separação de Luana? Este assunto o aborrece?

Não. Só acho que já se especulou demais sobre o assunto. Faz tanto tempo, que não vejo sentido em continuar se falando nisso.

Dói pensar que, daqui a alguns anos, ainda podem dizer que a Luana o traiu com outra pessoa?

Em primeiro lugar, isso foi uma imagem vendida pela mídia. Não foi assim que aconteceu. O que houve está resolvido entre a gente e só diz respeito a nós dois.

Você não ficou sabendo do fato pelas revistas?

De jeito nenhum. É o maior boato do mundo. A imagem que ficou foi essa. Mas o que aconteceu, de verdade, só nós sabemos.

Já tinham terminado ou não?

Não vou falar sobre isso. Vou continuar assim, até o dia em que as pessoas vão parar de me perguntar. O assunto está resolvido na minha cabeça e, acredito que na dela também.

Ficaram amigos?

Não nos falamos, isso é normal. Duvido que duas pessoas terminem um relacionam­ento e logo fiquem amigas. Não tenho nada contra ela. Não ficou mágoa. E acho que a gente ainda vai ser amigo um dia.

Você não gosta da imagem de ter dado a volta por cima?

Não tem essa de volta por cima. Foi um relacionam­ento que acabou, como acontece com qualquer um. A diferença é que nós, pessoas públicas, somos jogadas no meio da fogueira. Especulam sobre nossa vida.

Não se sentiu por baixo?

Não é uma questão de estar por baixo. Eu até fui muito ajudado pela vida. Tive um trabalho para fazer. Não fiquei de bobeira pensando na relação que tinha terminado.

Mas você sofreu?

Não tem essa história de dizer que não sofreu. Mas há formas de superar. Conforme você lida com isso, amadurece.

Você não ficou em depressão, como chegou a ser dito?

Nunca! Nem sei o que é depressão. Fiquei triste, como qualquer pessoa.

E, agora, está curtindo a vida de solteiro?

O importante não é estar solteiro ou casado. É estar feliz. E eu estou. Mesmo sem uma namorada.

Então não está à procura de um novo amor?

Não mesmo. Estou ótimo assim. Não fico com várias pessoas, não estou procurando nem saindo. Estou na minha, me divertindo com meus amigos, fazendo o meu trabalho.

Você ganhou dois prêmios por Bicho de Sete Cabeças. Foram importante­s para a sua carreira?

Ganhar os prêmios foi uma felicidade enorme. Não pelo status de ter sido premiado, mas por ter vencido aquele desafio. Fiz esse filme com um frio na barriga.

Por quê?

Corria o risco de dizerem que eu tinha de ficar na TV fazendo galãs, por não ter conseguido fazer o papel. Era um personagem difícil. Eu poderia cair na caricatura. Fiquei com medo de não conseguir passar toda aquela violência que o personagem sofre.

Como se preparou para o papel?

Vi dezenas de filmes, e visitei instituiçõ­es para pacientes mentais no Rio e em São Paulo. É um tema delicado. A gente não queria levantar bandeira, só contar uma história real.

Você se chocou com esse mundo da loucura?

Não tem como não se chocar, é triste ver um ser humano que não consegue se relacionar. Procurei conhecer aquilo sem formar opinião. A primeira coisa que aprendi foi a não me referir a essas pessoas como loucas. Elas têm sofrimento mental.

Você se lembra de algum paciente em especial?

Lembro de um cara inteligent­e que falava da Amazônia.

Tive outros contatos, mas ficou cada um no seu universo. Eles são muito sozinhos.

No filme, seu personagem foi internado por fumar maconha. Já experiment­ou?

Já, na adolescênc­ia. Uns amigos me ofereceram e tem aquela coisa de querer fazer parte da tribo. Mas, no meu caso, foi pura curiosidad­e.

Ficou curioso em conhecer outras drogas?

Não. Só tomei uns chopinhos! Bebida não é uma coisa que eu curto.

Nunca ficou bêbado, como o Carlos Charles?

Já fiquei sim, também na adolescênc­ia. Mas não dei vexame, foi entre amigos, dentro de casa.

Depois de experiment­ar maconha, não quis mais?

Não. Acho que a droga é uma fuga. Quando a pessoa não se sente bem de alguma forma, procura conforto na droga.

O que você aprendeu com a experiênci­a de Bicho?

Passei a dar valor às coisas simples da vida. Foi uma lição conviver com aqueles pacientes. Eu tenho tudo, falo, enxergo...

Você tem algum defeito?

Eu me critico demais. Se eu ficar analisando muito o meu trabalho, vou achar um defeito.

Já teve problemas na TV, onde é tudo rápido?

Com certeza. De vez em quando, a gravação termina e peço para fazer de novo, porque queria dar outra entonação a uma frase. Ainda não fui chamado de chato, mas às vezes ouço um “Pô, Rodrigo”. Sou perfeccion­ista.

E como você lida com a fama?

Hoje lido numa boa. Não é fácil. Nossa privacidad­e é invadida constantem­ente. Quando comecei a trabalhar na TV, aos 19 anos, sofri por não saber me comportar. Às vezes, estava com pressa, mas tinha medo de negar um autógrafo.

Este é o lado ruim do sucesso. Qual é o bom?

O reconhecim­ento do público. Outro dia, fiquei comovido com uma menina. Ela me viu na rua e disse: “Oi, Carlos Charles! Na novela você é malvado, mas sei que você não é mau porque minha mãe me mostrou uma gravação em que você era padre”. E ela disse que me achou mais parecido com o padre do que com o Carlos. Foi bem maravilhos­o.

E você se acha mais parecido com quem?

Não pareço nem com um nem com o outro. Não tenho nada do padre Malthus. É claro que não sou santo. E a única coisa que tenho em comum com o Carlos é que ele foi criado em fazenda, como eu.

O que você gostava de fazer?

Adorava ficar descalço, brincar com os bichos, andar a cavalo. Montei pela primeira vez aos 4 anos. Meu avô me botou no cavalo, sem sela, e eu saí andando sozinho. Por isso sou ligado à natureza.

Você é de Petrópolis. Gosta de ir para lá?

Vou sempre. É minha raiz, onde nasci. Adoro ficar em casa, com minha família e meu casal de labradores.

Você é ligado à família?

Sou. Vivo telefonand­o para minha mãe. Gosto de sentar com meus pais, levar um papo. Não é uma questão de dizer que sou um garoto-família. Fui criado assim.

O que você faz quando não está gravando?

Sou muito mais do dia que da noite. Não sou de ir a boates. Prefiro pegar uma onda, andar de skate ou jogar uma pelada. Em casa, gosto de acender incenso e ouvir um som. Às vezes, arranho no violão e na gaita. É meu hobby. Também adoro viajar.

O que você foi fazer na Califórnia depois de filmar Bicho?

Fui descansar. Sempre quis conhecer a Califórnia. Fiquei um mês e meio lá, estudei inglês, surfei. Voltei para o Brasil para fazer Abril Despedaçad­o.

E como foram as filmagens?

Esse filme foi rodado no meio do nada, no sertão da Bahia. Meu personagem vivia do feitio da rapadura. Passei um mês vivendo a rotina dele. Acordava às 6 horas, atrelava os bois, cortava, limpava e moía a cana. Carregava quilos de cana nos braços, depois levava para os tachos, mexia e fazia a rapadura.

Foi difícil viver uma vida tão diferente da sua?

Fácil não foi. A casa onde a gente ficava só tinha luz de gerador, que era desligada à noite. Dormia numa cama dura. Perdi oito quilos para interpreta­r o personagem. De vez em quando, sentia saudade da minha casa, da minha família. Mas fiquei tão envolvido com tudo que nem liguei para a falta de conforto.

Você foi um menino mimado?

Mimado, não. Nunca lavei banheiro, mas já lavei carro para o meu pai. A gente tinha empregada, mas cada um tinha sua tarefa. A minha, era cuidar dos cachorros.

E hoje, alguém faz suas tarefas domésticas?

Eu faço um pouco. Tenho minha secretária, a Edna, que é maravilhos­a. De vez em quando, eu lavo uma louça, tento manter a casa em ordem, não sou bagunceiro.

No sertão você cozinhava?

Não. Havia um serviço de bufê para a equipe. Mas, quando iam embora, ficava sozinho na casa e tinha que esquentar meu jantar num fogãozinho a lenha. Comi muito frango com farinha, comida dos sertanejos.

Como é sua alimentaçã­o?

Me alimento de forma saudável. Como verduras, legumes. Nada de muito doce ou fritura. Prefiro frango e peixe, mas não sou radical. Às vezes, vou à churrascar­ia.

Você se sente no topo diante de tanto sucesso?

De jeito nenhum! A gente está na Terra para aprender. Se você acha que está no topo, ali na frente tropeça e cai. Digo que estou num momento profission­al iluminado.

Sonha com uma carreira internacio­nal?

Sou feliz trabalhand­o para as pessoas que falam a minha língua. Se uma porta se abrir, será bom. Mas não é sonho.

Como se vê em dez anos?

Vou estar com 35... Devo estar casado! Talvez com filhos.

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Rodrigo Santoro com Luana Piovani no Réveillon de 2000
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da Globo, 1997
Com Ana Paula Arósio na minissérie da Globo, 1997
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Bicho de Sete
Cabeças, longa de Laís Bodansky
Em cena de Bicho de Sete Cabeças, longa de Laís Bodansky
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Em Mulheres Apaixonada­s (Globo) com Paloma Duarte, em 2003
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Durante entrevista com Jô Soares em 2005
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(Globo, 2004)
Par de Letícia Sabatella na segunda temporada de (Globo, 2004)
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Com Sandy na novela Estrela-guia (Globo, 2001).
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