Correio da Bahia

Eu e Walt Whitman pela estrada afora

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Leu Walt Whitman pela primeira vez quando tinha 17 anos - Folhas das Folhas de Relva, numa tradução de Geir Campos com introdução de Paulo Leminski. Um simpático e pequeno livro de capa vermelha que ainda trazia consigo, embora há anos não o visse entre as centenas de objetos guardados no porão da casa da família. Durante anos, imaginou o dia em que os versos do poema Canto da Estrada Aberta fariam sentido em sua vida: “Daqui em diante não peço mais boa sorte, boa sorte sou eu. Daqui em diante não lamento mais, não transfiro, não careço de nada; nada de queixas atrás das portas, de biblioteca­s, de tristonhas críticas; forte e contente vou eu pela estrada aberta”. O velho outsider sabia das coisas. O dia tão esperado chegou, enfim, há 13 anos, quando a sua garota nasceu e o seu coração descobriu um sentimento maior do que todos que sentira até então. Superior aos paraísos artificiai­s, às baladas até o amanhecer no Rio Vermelho, à vaidade profission­al, ao convívio com os vampiros sociais, à procura do próximo corpo na cama. Passou a achar graça e tédio nas pessoas próximas (e da sua geração) que ainda sentiam prazer em andar em grupos, conversar sobre relações amorosas, varar noites em bares, clubs e festas. Reconcilia­do com a condição canceriana, sua ascendênci­a leonina transformo­u a família (reinventad­a) em fonte número 1 de prazer.

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hagamenon.brito@redebahia.com.br

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