Merecida homenagem
Genival Lacerda tem 84 anos. Nascido na Paraíba, o cantor e compositor tem mais de 60 anos de atividade. A simplicidade melódica e as letras sacanas são suas marcas. Genival é o único ainda vivo (e bota vivo nisso) de uma geração de outros grandes tradutores da alma do povo nordestino: Gonzagão e Jackson do Pandeiro. O forró de Genival é pra ninguém botar defeito. O coro come. Lá estão a sanfona (Silvinho do Acordeom), que resfolega na harmonia, a zabumba (Ninho), que marca o suingue, e o triângulo (Nem), que a todos ajunta numa levada de fazer a poeira levantar do chão, na pisada das alpercatas. E nas festas juninas, então? Só dá Genival e seu jeitão meio debochado, bem como sua musicalidade, carregada de criativas divisões rítmicas e de versos desavergonhados. Em oportuna homenagem, o bom cantor baiano Zelito Miranda e seu Forró Temperado ajuntaram dezenove sucessos de Genival (alguns deles em dois pot-pourris) e gravaram o ótimo CD Zelito Miranda canta Genival Lacerda (independente: www.zelitomiranda.com.br). O tecladista Eugenio Cerqueira é o diretor musical do disco. Ele e Zelito criaram os eficientes arranjos. Ao passear seu apreço pelas faixas do disco, Zelito proporciona momentos de pura alegria aos ouvintes, ele mesmo um forrozeiro de marca maior. Suas interpretações das músicas gaiatas que fazem parte da vida musical de Seo Vavá (como Genival é também chamado) são dignas de reverenciar o mestre das canções safadinhas, quase ingênuas, cheias de duplo sentido. Para tornar ainda mais completa a homenagem, o Rei da Muganga (outro apelido carinhoso de Genival) participa cantando algumas músicas com Zelito – dupla show de bola. A dobradinha tipo Pelé e Continho, afiada no estilo amplo dos gêneros presentes no repertório de Seo Vavá, carrega na picardia. Severina Xique-Xique (João Gonçalves e Genival Lacerda), cantada por Zelito e Genival, ficou famosa pelo refrão: Mas ele tá de olho é na butique dela (...). Fio Dental (Genival Lacerda e Jorge de Altino) revela que um certo Severino foi pro Rio de Janeiro. Na praia ele viu mulheres vestindo maiô fio dental, e estranhou. Por quê? Ora, nas praias de Salvador aquilo é cordão cheiroso. Pano rápido. Radiola (Genival Lacerda e Alçyoli Neto). Os versos relatam que uma senhora chegou de mansinho, oferecendo a rabiola de presente. Mimo desprezado: Essa aí já tá toda escangalhada. Mas nem só de galhofa vive a música de Genival: Quem Dera (Genival Lacerda e Nando Cordel), que tem participação do também forrozeiro João Lacerda, filho de Genival, fala de amor e tem arranjo mais elaborado, com direito a clarinete (Adauri de Oliveira), teclado (Eugenio Cerqueira) e baixo (Cid Cavalcante). Enquanto a sanfona lá, só no resfolego. A letra sonha: Quem dera ter você de novo, chegando/ Quem dera ter você agora, de novo/ Te amando (...). Eta forró arretado! Genial Lacerda (como Zelito o chama), sua música traduz a brasilidade, devolvendo-a para seu povo.
Em oportuna homenagem, o
bom cantor baiano Zelito Miranda e seu Forró Temperado ajuntaram dezenove sucessos de Genival (alguns deles em dois pot-pourris) e gravaram o ótimo CD Zelito Miranda canta Genival .