Correio da Bahia

Bienvenido, Tévez!

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Carlos Alberto Martínez Tévez. Para os torcedores do Boca Juniors, apenas Carlitos. O último sábado vai ficar marcado na história da equipe xeneize. Após 11 anos de sucesso pelo mundo da bola, o camisa 10 voltou ao clube do coração e foi titular no triunfo de 2x1 sobre o Quilmes, pela 17ª rodada do Campeonato Argentino. Assim como na apresentaç­ão oficial, Tévez encheu a La Bombonera e levou o mito Maradona ao estádio. O craque não marcou gol na reestreia, mas, em apenas dois lances, fez a fanática torcida ficar louca nas arquibanca­das: um banho de cuia e um elástico para ninguém colocar defeito. Os amantes do futebol comemoram o retorno de Tévez a Buenos Aires. É uma pontinha de esperança para os mais saudosista­s que, assim como eu, acreditam na existência do amor à camisa. Óbvio que ele não veio de graça, afinal, ganhará aproximada­mente R$ 16 milhões por temporada. Entretanto, ao contrário de nomes como Ronaldo Fenômeno, Ronaldinho Gaúcho e Kaká, brasileiro­s que voltaram ao país e causaram bastante euforia, Carlitos está no auge da sua carreira, vindo de um ano brilhante na Juventus, da Itália, finalista da última Liga dos Campeões da Europa contra o Barcelona. Um craque, dono de uma carreira consolidad­a, abriu mão dos holofotes na Europa para apenas ser o jogador do povo. É a fiel representa­ção de um torcedor dentro de campo. Campeão mundial, da Champions, tri inglês e bi italiano, entre outros feitos por clubes gigantes como Manchester United, City e Juve. Nenhum dos títulos, todavia, chega perto da emoção das conquistas do Campeonato Argentino e Libertador­es, ambos em 2003, e Copa Sul-Americana, em 2004, pelo Boca. Ele quer mais e, exatamente por isso, está de volta. As crianças na Argentina, agora, poderão assistir o ídolo no estádio, sem precisar ligar a televisão. A história de Tévez pode explicar o motivo da escolha. Fabiana Martínez, sua mãe, o abandonou quando tinha apenas seis meses de idade. Criados pelos tios, Carlitos sofreu um grave acidente aos dez meses, quando uma chaleira de água fervente caiu sobre o seu rosto. No desespero, foi enrolado em um cobertor com fibras de nylon, que colaram em sua pele e agravaram ainda mais a situação na região do pescoço. Depois de dois meses de tratamento intensivo e muita luta, deixou o hospital. Aos cinco anos, seu pai biológico, Carlos, recebeu 23 balas e morreu durante um tiroteio em Fuerte Apache, um dos bairros mais perigosos de Buenos Aires. Tévez tinha tudo para ser um traficante ou assaltante, como ele mesmo gosta de falar. No entanto, preferiu brilhar com a redonda nos pés. Como todo bom boleiro, começou em um campinho de barro e, através de um olheiro, foi levado ao All Boys, clube pequeno da capital. Precisou de uma chuteira emprestada, com o risco de não poder realizar o teste na equipe. Chegou ao Boca com 13 anos e saiu aos 20. Antes de brilhar no Velho Continente, vestiu a camisa do Corinthian­s em 2005 e papou o título do Brasileirã­o. No meio da trajetória, ainda viu o único irmão biológico com quem ainda mantinha contato, Juan Alberto Martínez, ser preso e condenado a 18 anos de prisão por assaltar um carro-forte. Por tudo isso, Tévez merece o nosso respeito. O regresso dele ao Boca Juniors também serve de reflexão. Nossas exigências, com o passar do tempo, foram diminuindo. Qualquer jogador atualmente, se marca um ou dois gols, já é endeusado. Acontece, por exemplo, com Guerrero no Flamengo. Ronaldinho ainda nem entrou em campo pelo Fluminense, mas já é tratado como uma lenda. Na dupla Ba-Vi, o cenário não é diferente. A carência é grande e, só por esse motivo, devemos aumentar mais o nosso filtro. Carlitos, sim, nos ensinou qual deve ser o verdadeiro referencia­l de um ídolo. Bienvenido, Tévez!

Os amantes do futebol comemoram o retorno de Tévez a Buenos Aires.

É uma pontinha de esperança para os mais saudosista­s que, assim como eu, acreditam na existência do

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miro.palma@redebahia.com.br

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