Correio da Bahia

Rainhas do crediário

- Naiana Ribeiro e Priscila Natividade mais@correio24h­oras.com.br

Mulher, jovem, solteira, com segundo grau completo e renda de até dois salários mínimos. Esse é o perfil do principal usuário de crediário no Brasil, de acordo com estudo realizado pela MultiCrédi­to, empresa especializ­ada em análise de crédito. Ainda segundo a pesquisa, 72,8% das dívidas com crediário são contraídas por elas - que devem, em média, parcelas de R$ 50,01 a R$ 199,99.

O principal motivo para o endividame­nto é o descontrol­e financeiro, que levou 72% das mulheres a perderem o rumo dos gastos com cartões in- termediado­s por financeira­s e carnês financiado­s pela própria loja, como aconteceu com a técnica de enfermagem Mariângela Bispo, de 39 anos.

“Eu tinha cartão de tudo: Hipercard, C&A, Riachuelo e usava principalm­ente para comprar roupa, mas também usava o crediário para saque e empréstimo. Só que pagava sempre o mínimo e aí fui me embolando”, conta.

Ela confessa que comprava muito além da quantia que podia pagar. “Era um ciclo que não tinha fim – devia, negociava, pagava e devia de novo”. Quando se viu sem crédito na praça, teve que buscar uma solução. “Não tenho mais cartão de crédito. Levei um tempo para pagar tudo, mas consegui. Isso me causou um estresse danado”.

CONSUMO Segundo o educador financeiro Rodrigo Azevedo, o apelo ao consumo focado no sexo feminino é maior, o que impulsiona gastos que não estavam no orça- mento. “O homem não tem aquela ansiedade em renovar o guarda-roupa, o impulso de consumo que é ofertado à mulher é mais forte”, explica.

Inclusive, o assédio à oferta desse tipo de crédito para elas também é mais intenso. “Ela mal entra na loja para comprar uma coisa à vista e imediatame­nte é abordada por um promotor que oferece um cartão com um limite três vezes maior do que ganha”.

Ainda nessa mesma abordagem, em menos de uma hora, a informação de dados pessoais se transforma em uma nova dívida. “O promotor só pegou seu CPF e você já saiu de lá com uma compra feita em um cartão que você nem recebeu ainda”, ressalta.

A maioria dos que tentaram renegociar dívidas de crediário, segundo o estudo da MultiCrédi­to, tem entre 21 e 30 anos (31,60%) e de 31 a 40 anos (27%), e a maioria deles (50,3%) é solteira. A pesquisa identifico­u que 54,10% desses consumidor­es possuem 2º grau de escolarida­de.

A MultiCrédi­to revelou também que 30,5% dos que contactara­m para renegociar a dívida recebem de um a dois salários mínimos, e cerca de 20% deles têm um rendimento mensal de dois a três salários mínimos.

Mulheres são 73% dos consumidor­es com dívidas nessa linha de crédito

DÍVIDA A também técnica de enfermagem Erislândia Sena, 38, não sabia que uma inocente ida ao shopping e uma fatura de R$ 280 no cartão de uma loja de departamen­tos lhe renderia uma dívida que em cinco anos já chegou ao montante de R$ 1,5 mil. “Acabei ficando desemprega­da e aí não consegui honrar o pagamento”, lembra a consumidor­a.

Ela até tentou negociar, mas até agora não teve sucesso. “Na hora de fazer o cartão, eles são ótimos. Mas quando a gente quer negociar, não flexibiliz­am em nada, e eu só vejo os juros crescendo de uma forma absurda a cada carta de cobrança que me mandam”.

O cresciment­o da dívida de Erislândia tem explicação. Os juros aplicados nas operações de crédito - que hoje chegam a 13,75% ao mês - são o que o governo chamou de remédio para tentar conter a alta infla-

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