Correio da Bahia

Tomei a decisão e fiz a minha aposta em você

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Ah!, John, creia: não há nada que eu gostaria mais de fazer. Quero como o demônio lhe dizer. Mas não posso. Simplesmen­te não posso. Pois você não vê que o que eu sei é o que eu sou? E isso não posso lhe dizer. Você tem de descobrir sozinho. Sou como um livro que você precisa ler. Um livro não lê a si próprio para ninguém. Nem mesmo sabe o seu conteúdo. Não sei o meu, portanto. Você poderia saber qual o meu conteúdo. Poderia. Mas você não quer dar-se ao trabalho. Escute: você é o único homeboy que realmente acredito que poderia. É isso que torna tudo tão tragicamen­te inútil. Em vez de tentar saber, você comete a indesculpá­vel banalidade de pensar “Paul tá maluco” e transforma esta noite, que poderia ser preciosa, num mero flerte. Flerte. Você não gosta dessa palavra, não é? Mas é a palavra. É a enorme tragédia de tudo hoje em dia. Flerte em vez de trepada, se me perdoa a vulgaridad­e. E tudo o que todos vocês fazem sempre é flertar... E exibir os músculos tatuados... E se queixar das mulheres... E perdem a única coisa que poderia realmente fazer a diferença neste mundo líquido moderno tão mutante, como diz Bauman. Bebi demais, sei. Na verdade, nem tanto. É que sou fraco para beber e gosto de misturar cerveja, vinho, café, Contreau... Você quer outra dose? Quer fumar mais um bob? Por que mesmo você está aqui nesta sala neste momento? Cadê a japa girl? Mas eu estou me desviando do assunto. A questão é que você veio para me perguntar uma coisa muito importante, não é mesmo, John?

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hagamenon.brito@redebahia.com.br

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