Correio da Bahia

O tetra começou na Fonte

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Todo dia é dia de alguma coisa. Ontem foi dia do amigo. Tem também o da doméstica, do engraxate, do eletricist­a, do naturista, da voz... Este ano teve até o dia do homem, que eu nunca tinha ouvido falar. Obrigado. Nada contra as homenagens. Tudo tem seu valor. Mas há uma classe injustiçad­a: as duplas. Tem coisas que fazem muito mais sentido juntas. Feijão e arroz, acarajé e coca-cola, praia e cerveja, queijo e goiabada, namoro e amasso. No futebol, também é assim. Tem gente que jogava muito sozinho, e, em dupla, era ainda melhor. Di Stefano e Puskas, Pelé e Garrincha, Pelé e Coutinho, Pelé e Pepe, Washington e Assis, Paulo Nunes e Jardel, Gullit e Van Basten. Claro que as duplas de ataque, como as citadas, têm muito mais espaço no noticiário, nos livros e no coração do torcedor – são as que mais fazem gol. Mas há outras parcerias que conseguira­m subverter essa lógica e ganharam tanto destaque quanto os artilheiro­s, apesar de não atuarem lá na frente. Grande exemplo é a maior dupla da história recente – Xavi e Iniesta, símbolos do futebol arte. Infelizmen­te, exemplos como Xavi e Iniesta, que brilharam juntos, por muito tempo, no clube e na seleção, são cada vez mais escassos. A lógica mercantili­sta tem impedido que jogadores atuem várias temporadas com a mesma camisa. Outro motivo é tático. Nos últimos anos, as equipes se acostumara­m a atuar com uma única referência no ataque e meias dando-lhe suporte, pelos lados ou por dentro. As famosas duplas de frente foram rareando. O futebol baiano também sofreu o impacto disso. A última grande dupla a marcar época por aqui foi Robgol e Nonato, que, somados, fizeram 178 gols pelo Bahia. A maioria, jogando juntos, entre 2001 e 2003. A dupla que mais me marcou foi Bebeto e Romário. Nas Eliminatór­ias para Copa de 1994, disputadas em 93, eu tinha 13 anos. Na única vez em que estiveram juntos naquela seletiva, Brasil 2x0 Uruguai, no Maracanã. Romário fez os dois. No primeiro, completou cruzamento de Bebeto. No segundo, o baixinho me ensinou que não se chorava apenas por tristeza ou dor. Naquele dia 19 de setembro de 1993, decidi que ia viver do futebol. Além de minha vocação, aquela vitória nos garantiu na Copa que vivi mais intensamen­te, até hoje. Não tinha a mínima ideia da emoção de ganhar uma. O Brasil não era campeão havia 24 anos. Vivia ouvindo os mais velhos dizerem que minha geração ia demorar muito pra ganhar uma Copa. Se é que viveríamos pra ver isso! Vimos. A certeza da conquista, para mim, veio nas oitavas. EUA x Brasil, na casa deles. Dia da independên­cia americana. Calor insuportáv­el. Vinte e oito do segundo tempo. Leonardo já tinha sido expulso. Brasil com menos um. Romário é acionado na linha do meio de campo e arranca. Galvão Bueno vai junto. “Lá vem o Brasil... Cadê o gol?! Romário... Partiu o baixinho. A esperança é sempre você!... Vai Romário... Vai Romário... Acredita!”. Romário avança, passa por dois e toca para Bebeto na área. Galvão suplica: “Faz Bebeto! Faz Bebeto!”. O grito de gol de Galvão saiu embargado. Como o de todo brasileiro. Na comemoraçã­o, a cena mais comovente da dupla. Bebeto leva as mãos ao rosto do baixinho e se declara: “Eu te amo!”. Bebeto e Romário jamais perderam juntos pela Seleção principal. Em 23 jogos oficiais, 17 vitórias e seis empates. Nessas partidas, o Brasil fez 48 gols. Romário, 18. Bebeto, 15. Ou seja, 70% dos gols do time nessas ocasiões. O que pouca gente sabe é que essa história começou aqui em Salvador. A primeira partida de Bebeto e Romário pela Seleção principal foi no dia 1º de julho de 1989, na Fonte Nova. Brasil 3x1 na Venezuela, pela Copa América. Bebeto fez um dos gols. Eu estava lá! Primeiro de julho... uma boa data para se instituir o dia das duplas de futebol.

Essa história começou aqui em Salvador. A primeira partida de Bebeto e Romário pela Seleção

principal foi no dia 1º de julho de 1989,

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darino.sena@redebahia.com.br

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