Correio da Bahia

A cabeça dos oligarcas

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Marcelo Odebrecht está preso e foi indiciado pela Polícia Federal. Em sua cela no Paraná mantém um diário do cárcere. Os barões da Camargo Correa foram condenados e na oligarquia política fabrica-se uma crise institucio­nal. Houvesse ou não uma Lava Jato, a desarticul­ação do Planalto envenenari­a as relações com o Congresso. Ademais, essa crise tem um aspecto inédito. De um lado, estão servidores a respeito dos quais não há um fiapo de restrição moral ou mesmo política. São os magistrado­s e os procurador­es. Do outro lado está o outro lado, para dizer pouco. Nunca aconteceu isso na vida pública brasileira. O presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha, estaria retaliando o governo ao permitir a criação de uma CPI para investigar os empréstimo­s dos BNDES. Há uma armadilha nessa afirmação. Ela pressupõe uma briga de quadrilhas, com Cunha de um lado e o Planalto do outro. Ou há esqueletos no BNDES ou não os há. Se os há, a CPI, bem-vinda, já deveria ter sido criada há muito tempo. Se não os há, nada haverá. A verdadeira crise institucio­nal está nas pressões que vêm sendo feitas sobre o Judiciário. Quem conhece esse mundo garante que nunca se viu coisa igual. Se as pressões forem bem-sucedidas, avacalha-se o jogo. Cada movimento que emissários do governo fazem para azeitar habeas-corpus de empresário­s encarcerad­os fortalece a ideia de que há um conluio entre suspeitos presos e autoridade­s soltas. Ele já prevaleceu, quando triturou-se a Operação Castelo de Areia. Em 2009, a Camargo Correa foi apanhada numa versão menor da Lava Jato. Dois anos depois, ela foi sedada pelo Superior Tribunal de Justiça e, há meses, sepultada pelo Supremo Tribunal Federal. Agora, o ex-presidente da empresa e seu vice foram condenados (com tornozelei­ra) a 15 anos de prisão. O ex-presidente do conselho de administra­ção levou nove. Dessa vez a Viúva foi socorrida por dois fatores. O efeito Papuda, resultante da ida de maganos e hierarcas para a cadeia, deu vida ao mecanismo da colaboraçã­o de delinquent­es em busca de penas menores. Antes, existiam acusações, agora há confissões. Já são 17. A Castelo de Areia não foi uma maravilha técnica, mas a sua destruição será um assunto a respeito do qual juízes não gostarão de falar. Quem joga com as pretas tentando fechar o registro da Lava Jato sabe que a Polícia Federal e o Ministério Público estão vários lances à frente das pressões. Da mesma forma, quem se meteu nas petrorroub­alheiras sabe que suas pegadas deixaram rastro. Curitiba dribla como Neymar. Quando baixa uma carta, já sabe o próximo passo. Afora os amigos que fazem advocacia auricular junto a magistrado­s, resta a ideia da fabricação da crise institucio­nal. Ela seria tão grande que a Lava Jato passaria a um segundo plano. É velha e ruim. Veja-se por exemplo o que aconteceu ao vigarista americano Bernard Madoff: na manhã de 11 de setembro de 2001 ele sabia que seu esquema de investimen­tos fraudulent­os estava podre. (Era um negócio de US$ 65 bilhões.) Quando dois aviões explodiram nas torres gêmeas de Nova York e elas desabaram, matando três mil pessoas, ele pensou: “Ali poderia estar a saída. Eu queria que o mundo acabasse”. Madoff contou isso na penitenciá­ria onde, aos 77 anos, cumpre uma pena de 150 anos.

Quem joga com as pretas tentando fechar o registro da Lava Jato sabe que a

Polícia Federal e o Ministério Público estão vários lances à frente das

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