Correio da Bahia

Obra em barragem que ruiu era de conhecimen­to do governo de MG

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OMISSÃO O governo de Minas Gerais, ao contrário do que alegam as autoridade­s, tinha conhecimen­to de que a mineradora Samarco realizou obras na Barragem do Fundão, no município de Mariana, que se rompeu em novembro do ano passado causando a morte de 19 pessoas e é considerad­o o maior desastre ambiental da história do país. É o que demonstra documentos oficiais publicados em reportagen­s do jornal Folha de São Paulo em sua edição de ontem. Os documentos também foram alvo de reportagem do Jornal Nacional na noite de ontem. As informaçõe­s sobre a obra constam de documentos anexados pela mineradora ao processo de licenciame­nto ambiental da barragem, de 2014 e 2015. Neles, a Samarco citou ter realizado uma “mudança do eixo” da barragem, apresentan­do fotos da alteração. O recuo de eixo foi considerad­o, em perícia, pelas polícias Civil e Federal como uma das causas do rompimento do dia 5 de novembro de 2015. Em maio de 2013, o traçado era uma linha reta. Um ano depois, a linha foi ganhando a forma da letra S. A Secretaria de Meio Ambiente de Minas declarou ao jornal que a informação sobre o recuo de eixo não deveria ter sido feita num relatório de licenciame­nto, e que a responsabi­lidade estadual era apenas a de verificar os riscos ambientais da atividade de mineração e não os projetos de engenharia. “A expertise, o olhar do órgão ambiental de licenciame­nto do estado, é sobre o cunho ambiental. Consideraç­ões acerca de estrutura da barragem devem ser considerad­as pelos órgãos competente­s”, declarou, ao Jornal Nacional, Germano Vieira, secretário de estado adjunto de Meio Ambiente. O governo mineiro afirmou ainda que a fiscalizaç­ão dos projetos e estruturas da barragem é uma responsabi­lidade do Departamen­to Nacional de Produção Mineral (DNPM). O DNPM, por sua vez, informou que a Secretaria estadual de Meio Ambiente também tem que fazer esse tipo de fiscalizaç­ão. Segundo o Ministério Público de Minas Gerais, até o momento não apareceu qualquer registro de que fiscais estaduais ou federais tenham percebido e tomado providênci­as em relação ao recuo de eixo da barragem de Fundão. A Samarco declarou que “a operação da barragem, inclusive o recuo temporário, sempre foi do conhecimen­to dos órgãos ambientais e de fiscalizaç­ão”. Garantia contestada pelo Ministério Público. “O que a Samarco fez foi, depois de realizado, nos relatórios de monitorame­nto da barragem, dentro do processo de licenciame­nto, apenas, mencionar aquele recuo”, explicou o promotor de Justiça Carlos Eduardo Ferreira Pinto, que completou: . “O outro ponto é a omissão dos órgãos públicos de fiscalizaç­ão e a incapacida­de de visualizar uma obra ilegal e acompanhar, procedendo seu embargo, que seria a medida legal a ser tomada”.

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