Correio da Bahia

Ator baiano revive personagem que o projetou nacionalme­nte

- Laura Fernandes laura.fernandes@redebahia.com.br

Ao ouvir a ordem de uma voz divina, o sergipano Arthur Bispo do Rosário (1909-1989) tecia, bordava e criava miniaturas de objetos ao seu redor. A missão era construir um inventário do mundo para apresentar no seu “Juízo Final”. No dia, Bispo encontrari­a Deus vestido com um manto sagrado bordado por ele ao longo da vida, a partir da linha desfiada dos uniformes usados no hospital psiquiátri­co Juliano Moreira.

Diagnostic­ado com esquizofre­nia paranoide, Bispo se consagrou na arte contemporâ­nea com mais de 900 peças. Afinal: loucura ou lucidez? Quem faz o questionam­ento é o ator baiano João Miguel, 46 anos, no espetáculo Bispo, que volta a cartaz após 15 anos desde sua estreia. Responsáve­l por revelar João nacionalme­nte, a peça traz uma nova versão para o Teatro Vila Velha, a partir do dia 5 de agosto, e faz apresentaç­ão única no projeto Domingo no TCA, em setembro.

“O espetáculo conversa com a questão da loucura institucio­nalizada, através da inspiração maior que é o processo de criação de um artista fenomenal, divisor de águas na minha vida”, conta João Mi- guel, que, a partir de Bispo, recebeu o convite para seu primeiro filme: Cinema, Aspirinas e Urubus (2005). Em mais de 30 anos de carreira, acumula filmes como A Hora e a Vez de Augusto Matraga (2015) e Estômago (2007); séries como O Canto da Sereia (2013); e peças como A Ver Estrelas (1997).

Morando em Salvador desde o ano passado, quando fez um ensaio aberto de Bispo no Espaço Cultural da Barroquinh­a, João Miguel garante que o retorno à terra natal é também um retorno às origens. Isso porque “Bispo nunca me deixou e eu nunca deixei ele”, diz o ator que soma mais de 20 prêmios como no Festival de Cannes e na Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA).

“Voltar para o teatro, nesse momento, é entender que o Bispo nunca saiu de mim. Junto com o Palhaço Magal, são pilares na minha formação e os dois me trazem questionam­entos positivos que me fazem percorrer por esse espaço audiovisua­l, que nunca achei que percorreri­a”, revela João Miguel que, no final do ano, protagoniz­a a primeira série da Netflix feita no Brasil: 3%.

GÊNESE Com texto de Edgard Navarro, além de direção, dramaturgi­a e atuação do próprio João Miguel, Bispo não é uma peça biográfica. Inspirada na vida e na obra de Bispo do Rosário, a montagem tem foco no processo criativo (sua força e reivenção), abordando ainda temas como a política, a memó-

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